Laura Lima - Foto: reprodução

Laura Lima – Foto: reprodução

Por Kênya Zanatta

Gatos circulam entre os enigmáticos pacotes amarrados com cordas em uma das salas da galeria Luisa Strina, em São Paulo. Durante uma semana, eles serão o único “público” da nova exposição individual de Laura Lima, chamada Ágrafo. Arranhando as peças de tamanhos variados, revelam pistas sobre os complexos arranjos de objetos que estão por baixo das embalagens. Os gatos da galeria de arte apenas completam o trabalho começado por outros felinos em diversos pontos do rio de Janeiro, onde vive a artista mineira.“O arranhar dos gatos é uma metáfora da nossa curiosidade”, afirma ela.

A perfomance Baixo - Foto: reprodução

A perfomance Baixo – Foto: reprodução

Laura construiu, cuidadosamente, cada uma das peças, mesmo sabendo que, talvez, jamais fossem vistas, e fez um estudo sobre diversos tipos de nós, da navegação às práticas sadomasoquistas, para atar as cordas em torno de cada pacote. O mistério e a parte inacessível da produção de uma obra de arte estão no cerne de seu trabalho, difícil de enquadrar em uma categoria específica.“Se chamo uma obra de instalação, o espectador chega preparado para ver isso e não vive a experiência”, pontua. Ela afirma construir “obras bastante invisíveis”, que, às vezes, passam despercebidas ou não são apreendidas em sua totalidade pelo público.

Obra Puxador - Foto: reprodução

Obra Puxador – Foto: reprodução

Um exemplo é O Mágico Nu, trabalho exibido este ano na Dinamarca e na argentina. Nessa construção labiríntica, o espectador é um intruso. Em meio a uma profusão de objetos, um performer incorpora o mágico, vestido com um fraque de mangas cortadas para indicar que os truques estão à mostra.“Há muitas camadas, é impossível ver a imagem como um todo”, explica.

Questionando as fronteiras entre instalação, performance e escultura, Laura coloca o corpo humano no centro de sua pesquisa artística e constrói relações surpreendentes entre o homem e a arquitetura. Em Baixo, um performer
está deitado ao lado de uma lâmpada, com o corpo oprimido por um teto impossivelmente rebaixado. Já Puxador apresenta um homem nu amarrado com fitas a pilastras, simulando o esforço de quem tentaria abalar a estrutura da galeria ou museu onde a obra é apresentada.

Obra Paisagem - Foto: reprodução

Obra Paisagem – Foto: reprodução

 Formada em Filosofia, Laura frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio, e fundou a galeria a Gentil carioca, com os artistas Ernesto Netto e Márcio Bornet. Ao longo de sua trajetória, angariou reconhecimento no Brasil e  fora. No ano passado, foi a laureada do Bonnefanten, o principal prêmio para as artes visuais da Holanda. Suas obras estão no acervo de instituições importantes, como o Instituto Inhotim, em Minas Gerais, o Museu de Arte Moderna de SP e o Bonniers Konsthall, na Suíça.

A mostra vai de 5 de agosto a 19 de setembro.