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Se você acha que a baixa-gastronomia foi sufocada pela vanguarda, calma lá. Na contramão das técnicas de cozinha modernas, receitas clássicas retornam à cena com tudo. A nova onda é a culinária retrô, uma deliciosa viagem ao passado. Pratos reconfortantes com memórias afetivas, os queridinhos dos anos 1980 brilham novamente e ganham espaço nos eventos mais hypados.

Sucesso indiscutível nas festinhas infantis, o sanduíche de carne louca, que leva o nome pela aparência bagunçada e despretensiosa, revive momentos de glória e se projeta como comida de comemoração. Abre parênteses. Ótima pedida para brunches, piqueniques, celebrações e até jantares badalados. Simples e cheio de sabor, o tradicional lanche põe em xeque a discussão “estética versus paladar”.

“Encantar os olhos não basta. Nossas avós já executavam muito bem a tão falada comfort food sem saber que o conceito tomaria tal proporção”, diz o chef Raphael Arrigucci, que passou pelas melhores cozinhas de São Paulo e hoje comanda o jantar secreto Comitê.

Quente ou fria, desfiada ou até em fatias, a peça de lagarto é versátil e aceita temperos diversos para sua marinada. Shoyu, molho inglês, vinagre e ervas aparecem como agentes que potencializam o sabor. Depois de preparada, nada melhor que um pão francês fresquinho para acompanhá-la.

E o sanduíche de carne louca não está sozinho nesse rol de delícias vintage. Restaurateurs lançam seus olhares de lince para reconstruir composições até então deixadas de lado. Práticas e de fácil execução, receitas dos antigos cadernos fazem bonito à mesa atual. A lista é extensa e instiga nossa imagerie mais distante. Quem não se lembra do camarão servido na moranga? Um eterno deleite para os comensais. Outros pratos célebres, como estrogonofe, bolinho de arroz, buraco quente, coxa-creme, sopa de letrinhas, salada de batata bolinha, banana split, churros, pudim de leite e brigadeiro de colher, hoje, são as novas – velhas – vedetes da gastronomia contemporânea.

“Os clássicos nunca morrem. Mas, é claro, a releitura nos permite dar um toque autoral, sem perder a essência da receita.Apesar de descomplicados, esses pratos sempre remetem a alguma lembrança e emocionam os paladares mais aguçados”, pontua Arrigucci.
Sem dúvida, comidas com memórias gustativas valem mais que mil pratos. Afinal, fazem bem para a fome e para a alma. Carne maluca, roupa velha, como dizem os cariocas, ou carne, sua louca, na linguagem virtual. Só uma pergunta: por onde você andou?