
foto: divulgação
Por Luigi Torre
De todas as novidades (ou, para quem preferir, pequenas revoluções) apresentadas por Maria Grazia Chiuri como diretora de criação da Dior, na última maratona de desfiles em Paris, a mais emblemática é a forte presença do jeans. Ok, não é a primeira vez que ele aparece por lá – Galliano já havia trabalhado com denim na virada dos anos 1990 para os 2000 e Hedi Slimane também na linha masculina da maison –, mas nunca de maneira tão representativa dos tempos em que estamos vivendo e do estado em que a moda se encontra.
Tanto que Maria Grazia está longe de estar sozinha nessa. Chanel, Fendi, Louis Vuitton, Miu Miu, Dolce & Gabbana, Balenciaga e, claro, a Gucci e Vetements (as duas etiquetas mais influentes do momento) são apenas algumas a investir em um dos tecidos mais democráticos da história da moda. Criou-se até um termo específico para esse segmento: denim couture ou haute denim, que, basicamente, refere-se ao jeans supertrabalhado (e cifrado), seja em sua modelagem, construção ou decoração.

foto: Miu Miu, Vitorino Campos
Pode ser um vestido ou um sobretudo, como os apresentados por Miuccia Prada no inverno 2016 de sua segunda marca; um macacão oversized de barras desfiadas, como na Marques Almeida; uma pantalona navy (Tommy Hilfiger); uma flare boho deluxe (Roberto Cavalli); uma calça baggy no melhor estilo 90’s, a exemplo das desfiladas na DKNY e por Vitorino Campos; uma superlavada e com cós desfeito (Ellus); uma jaqueta com construção de alta-costura (Balenciaga); ou as versões remade de modelagens clássicas, como os best-sellers da Vetements. Ou seja, tem para todo mundo, não importa gosto, estilo e físico.
Não foi à toa que o jeans ganhou o título de “o tecido que veste todos”. Bem como não é à toa sua ascensão ao mundo do alto luxo. Vivemos em tempos plurais. Ser múltiplo não é mais só uma possibilidade, mas, muitas vezes, uma necessidade. O denim exerce tal função como poucos. Vai do dia à noite, do escritório aos drinks. Agora mais ainda. Há algumas temporadas a moda, sempre refletindo as mudanças em nossas vidas, caminha para uma maior casualidade. Mudança que tem a ver com toda uma nova forma de pensar, agir e se relacionar com tudo a nossa volta.
Quem melhor representa essa nova atitude é a geração chamada de millennial. Trata-se de um grupo de pessoas entre 18 e 35 anos (mas não somente, porque o termo se refere mais a uma forma de pensar do que a um período específico), extremamente preocupado e engajado com seu tempo, meio social e como eles se posicionam e se representam naquele contexto. Personalidade e identidade são qualidades-chave aqui. Daí a necessidade de usar a moda não como cartilha de tendências, mas como plataforma para construção e expressão de sua imagem própria. Eis que o denim, de novo, salta aos olhos por suas múltiplas possibilidades e aparências. Ele pode ser básico, vintage, supermoderno, minimalista, maximalista…
Não surpreende, então, que, nas passarelas, o jeans nos leve numa viagem no tempo. São reinterpretações que vão desde suas origens como uniforme de trabalho de mineradores, passando pelo tempo rebelde, libertário e revolucionário dos anos 1950, 1960 e 1970, até suas versões símbolos de movimentos da cultura jovem e de rua, como o punks, o grunge e os clubbers, e a subversão de modelos mais clássicos (e quase caretas), como os mom jeans dos anos 1980 e 1990. Na hora de escolher o seu, esqueça as cartilhas de certo e errado e deixe-se levar. Aqui, a experimentação é mais do que bem-vinda, e é o seu estilo que deve falar mais alto. Aproveite.