Em depoimento a Luciana Franca
Depois de muito pensar, resolvi que precisava mudar algumas coisas na minha vida e na da minha filha, Maria Eduarda, e isso começou a acontecer quando deixei de participar do São Paulo Fashion Week (em 2013), que era meu segundo filho. Mas vi que a mudança teria de ser mais radical, não só profissional, e, conversando com meu irmão Paulo Borges (idealizador do SPFW), externei a vontade de me mudar para Salvador.
Ele deu a maior força. A partir daí, a decisão estava tomada, teria mais tempo para mim e para minha filha.Me tornei mãe aos 55 anos – me encontrei com a Maria ainda bebê e me apaixonei por ela, simples assim. Hoje ela tem 7 anos, é uma menina muito especial, esperta, inteligente, carinhosa e muito amiga: minha grande companheira.
O amor por Salvador surgiu em 2001, quando vim de férias, e mais tarde, para minha felicidade, começamos a trabalhar com o Shopping da Bahia (antigo Iguatemi). Cerca de quatro anos depois, comprei uma casa em Arembepe, cidadezinha na Estrada do Coco, lugar lindo e apaixonante. Assim surgiu a ideia de morar aqui um dia, e, quando senti que era o momento, vim embora. Moro na capital de segunda a sexta-feira, e nos finais de semana fico em Arembepe. Escolhi Salvador porque aqui sempre fui muito feliz, trabalhava com pessoas incríveis, o clima é maravilhoso, e a Maria nasceu aqui.
Trabalhei no SPFW desde a primeira edição, quando o nome ainda era Morumbi Fashion Brasil, sempre na parte estrutural, desde a elaboração, formatação do calendário, montagem, evento e desmontagem. Fiz isso durante 18 anos. Eu não só tinha fama de durona como realmente era muito durona. Afinal, tudo tinha de estar impecavelmente pronto no
dia e com tudo funcionando. Quando lidamos com muita gente, de diferentes níveis, você tem de ter o controle, senão as coisas não funcionam. Hoje sou muito mais tranquila, porém muito firme, pois sou muito exigente em tudo o que faço. Ser mãe me mostrou a carência de eventos infantis mais educativos, isso me incentivou a pensar em ações com mais conteúdo voltado para as crianças. E parti para essa área. Também estou desenvolvendo um novo projeto, o Brechó Chic, que terá sua primeira edição este mês. Quando me mudei para cá, deparei com o problema de adequar um guarda-roupa enorme dentro de um guarda-roupa pequeno, que mostrou o excesso que havia. Então, me uni a algumas pessoas com os mesmos desejos e estamos montando o Brechó Chic. Espero que dê muito certo, porque esse processo de se despir de coisas que estão paradas é muito bom, faz a energia girar e te leva a ótimos resultados.

Graça Borges e a filha, Maria Eduarda, têm uma rotina mais tranquila entre Salvador e Arembepe. Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal
Sobre minha rotina baiana, ela é maravilhosa e muito simples. Vendi meu carro, faço tudo a pé ou, se precisar, uso transporte público.Tenho tempo para mim, faço caminhada e exercícios na Praça do Campo Grande, aliás, uma praça lindíssima. Minha filha tem tempo para brincar, fazer lição de casa e até de irmos de manhã à praia antes da escola. Em São Paulo, eu não conseguia fazer nada disso, porque perdia muitas horas no trânsito, não sobrava tempo para curtir a Maria e isso me entristecia muito. Hoje, temos uma vida muito mais saudável, com muito mais tempo para nós mesmas. Não sinto saudade de São Paulo. Só sinto falta da minha família e dos amigos, de nada mais. Desde que fui embora, há quase dois anos, voltei apenas duas vezes para lá.