Por Ana Ribeiro | Fotos André Giorgi | edição de moda Rodrigo Yaegashi

Regina usa vestido Jil Sander, pulseiras, anel
e fivela assinados por ela, camiseta, calça e botas de seu acervo pessoal. Fotos André Giorgi
NUMA ESQUINA INSUSPEITA da Vila Madalena, por trás do muro baixo que poderia ser da casa da vovó – com direito a jabuticabeira carregada -, se esconde o tesouro feito de pedras brutas e madeiras recolhidas do mar da Córsega pela joalheira Regina Dabdab. Ali, o que vem à cabeça é o dilema do ovo e da galinha: será que o ambiente é tão energizado porque recebe as peças de Regina ou a artista se instalou ali porque o local é carregado de energia? Diferentemente do impasse insolúvel da ciência, aqui a equação é mais simples de resolver.O endereço entra com o charme despretensioso da casinha térrea na rua estreita, mas o poder vem mesmo do magnetismo das peças intensas/marcantes/possantes – e lindas! – de Regina. Elas te transportam para o mar,para o sol,para a areia,para a natureza na sua for- ma intocada, para o Novo México de Georgia O’Keeffe, para mulheres poderosas que querem mais do que se enfeitar – querem se diferenciar.
A casa era endereço conhecido de Regina desde antes de se mudar para Paris, 13 anos atrás.“Minha irmã,a fotógrafa Roberta Dabdab, teve estúdio aqui”,relembra. “Esse canto daVila Madalena é muito legal, é muito countryside.” Regina se instalou ali quando voltou ao Brasil, há 9 meses. “Ficou uma pegada ótima, todo mundo que vem comenta como aqui é gostoso.” Ela me oferece um copo d’água com folhas de manjericão e tenta explicar o que não tem muita explicação: como descobriu, sozinha, a vocação para combinar materiais (ela refuta o conceito de “desenhar”), como desenvolveu as técnicas de montagem e como os objetos parecem se encaixar naturalmente em combinações orgânicas e únicas.“O meu papel é fazer encontros, é como se as partes tivessem sido feitas umas para as outras. Essa é a magia do que eu acredito mesmo, é incrível como as formas orgânicas são encaixáveis umas nas outras.Faço tudo um por um,tudo passa pela minha mão.”
Aos 27 anos, Regina foi embora do Brasil atrás de um francês por quem se apaixonou loucamente.“Me joguei de cabeça.” Foi morar em Paris e imaginou que lá pudesse se inserir no mercado de sapatos, em que se destacava por aqui – criou acessórios para Cori, Fit, Arezzo, Alexandre Herchcovitch. Descobriu que os produtores de sapato parisienses são uma bolha impenetrável. Colecionadora de pedras e “catadora de coisas”, começou a montar pequenas esculturas com pedras e pedaços de madeira.“Eram peças bem toscas”, acredita. Não foi a percepção da stylist francesa Annabelle Jouot, que viu as montagens e quis usá-las em editoriais. Logo Regina foi surpreendida por seu nome estampado em capas de revista e fotos de publicidade.“Abriu-se um mundo novo para mim.” O casamento com o primeiro francês acabou depois de 8 anos. Ela se casou com outro e o trouxe na bagagem, junto com a filha dos dois, Eve, de 4 anos.