Quando a estilista Amy Powney tinha 11 anos, sua família trocou a cidade por uma vida alternativa no campo. Um celeiro foi transformado em casa e assistir televisão só era possível se houvesse vento suficiente para impulsionar a turbina eólica.
Em compensação, sobrava tempo para brincadeiras ao ar livre com a irmã. “Criamos o hábito de questionar a origem de tudo, sem contar que foi ótimo crescer longe da tecnologia”, conta a estilista da Mother of Pearl.
A marca inglesa acaba de lançar a “No Frills”, primeira coleção totalmente sustentável e repleta de itens desejáveis, que flertam com o universo masculino e vêm arrematados com as pérolas que viraram assinatura da grife.
Das 32 peças desta safra, várias desembarcaram com exclusividade no e-commerce Conceito ê., que exibe acervo recheado de marcas estrangeiras de moda, papelaria e objetos de design. Comandado por Giovanna Arede e Luiza Andreazza, está com loja temporária até janeiro no shopping Cidade Jardim, em São Paulo.
Além da Mother of Pearl, elas também garimparam, por exemplo, itens da MM6, segunda etiqueta da Maison Martin Margiela. “Nos conhecemos no Istituto Marangoni, em Paris, onde também surgiu a ideia do projeto”, contam as jovens empresárias.
A ideia é manter uma postura slow fashion, com acervo enxuto e primoroso, endereçado a garotas cosmopolitas e multiconectadas. É o que associa as jovens empresárias ao lema da Mother of Pearl.
A preocupação com uma produção que agrida o mínimo possível o planeta esteve no radar de Amy desde sua coleção de formatura, na Kingston School of Art.
Também tem sido sua inquietação nos 12 anos integrando a equipe – primeiro como assistente de estilo e desde 2011 como diretora criativa – da marca criada por Maia Norman, ex-mulher do artista Damien Hirst. “Nós sempre buscamos métodos sustentáveis, como as sedas estampadas digitalmente aqui mesmo no Reino Unido”, explica Amy, acrescentando que, até agora, o desafio era monitorar os métodos adotados pelas tecelagens.
Não mais. Seu principal trunfo foi conseguir montar sua própria rede de fornecedores com perfil sustentável – tarefa que consumiu dois anos de viagens para países com vocação produtiva.
Lã do Uruguai, malha de alpaca do Peru e algodão da Turquia para serem tecidos na Áustria, em fábricas que usam vapor em vez de produtos químicos para amaciar os tecidos. Por fim, a manufatura fica a cargo de Portugal.
Apesar do cenário global, Amy diz que várias peças são feitas entre um e quatro países, média inferior ao que é praticado pela indústria de moda atualmente – muitas vezes uma única peça roda por cinco destinos diferentes antes de chegar às araras.
“Fazemos uma moda séria para não ser usada com tanta seriedade”, brinca a diretora criativa, interessada em conquistar destaque no segmento do luxo sustentável, cuja maior referência é o trabalho da conterrânea Stella McCartney.
A postura despojada e até um pouco irônica começa pelo nome da linha. “No Frills” – algo como “sem frescura”, em português – é emprestado de uma linha econômica do supermercado Kwik Save, localizado no norte da Inglaterra, onde Amy passou sua infância. “O nome está conectado a uma mensagem, mas também ao meu passado, que é de onde vem muito da minha inspiração”, explica.
“Queria criar um produto verdadeiramente honesto, exatamente o que dissemos que ele é, sem mentiras”, reforça a diretora criativa sobre o conceito vindo da indústria varejista de bens de consumo básico, de onde ela trouxe, ainda, referência para o visual bold dos slogans que estampam as camisetas, como “Quick save” e “No artificial content, No frills, net wgt 177g”.
Para marcar o lançamento, Amy convocou a modelo e ativista Taja Feistner, que, além da passarela, estuda sustentabilidade e está moldando a Eka Minetta, uma marca de upcycling com a colaboração de artistas.
O próximo rosto será o da stylist sueca Emma Elwin, autora do blog Make It Last. As garotas-propaganda de “No Frills” resumem o ideal da marca e seu público alvo: “Dream girls com cérebros e looks maravilhosos”.
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