A frase do título é da head de marketing da startup americana Nate [o primeiro app com tecnologia para habilitar o checkout de qualquer site com apenas um clique – unindo inteligência artificial, social shopping e pagamentos seguros], cargo que acumula muitas funções e um sem-número de responsabilidades com trabalho e pessoas. Thais Castello Branco é brasileira, mas após se formar no colégio, aos 18 anos, partiu em direção aos Estados Unidos para estudar economia na Universidade de Chicago – coisa que na turma dela foi a única que conseguiu, mas ajudou vários colegas a seguirem o mesmo caminho.
Hoje, aos 25 anos e morando em Nova York, a jovem encara muitos desafios e mostra a que veio. Thais não é do tipo que fica esperando, ela corre atrás e conquista seus objetivos. Antes de partir para os EUA, estava cursando Insper (instituição conhecida por seus cursos de administração, economia, direito e engenharia) e Poli (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) simultaneamente. Economia e engenharia eram os cursos, respectivamente, e ela, ao conseguir uma vaga na Universidade de Chicago, optou por seguir com economia. Fez bem. “Eu sempre fui uma pessoa que gostou muito de números e dessas ciências, mas eu tinha um lado criativo que se tivesse cursado engenharia acho que não teria explorado tanto”, conta.
A universidade naquele país oferece a oportunidade de cursar outras aulas, e ela, mais uma vez, foi atrás de se especializar e ampliar seu campo de conhecimento. Entre outros, cursou ciências políticas e psicologia – o que viria a ser útil em sua vida mais frente.
Férias? Não. No período de recesso de verão na universidade, voltou ao Brasil para fazer estágio na Ambev, foi quando teve seu primeiro contato com a área de marketing e onde aprendeu muito por ter tido uma chefe que explorou sua capacidade de aprendizado rápido e interesse. “Minha chefe na Ambev me ensinou muito a entender como esse mundo todo de marketing funcionava, e me deu muita liberdade para criar um monte de projetos. Acabei me apaixonando por essa área, em como você pode combinar seu lado business com o de atender pessoas, que é o que eu mais amo, tocar no lado emocional das pessoas”, conta.
Na sequência, Thais se voltou para a área de inovação, fazia muita pesquisa relacionada às necessidades de consumidores, desenvolvia categorias novas, marcas e trabalhava com outras labels que precisavam de uma repaginada. “Isso despertou o lado de tecnologia em mim, lia muita notícia a respeito, ficava sempre de olho no que estava acontecendo. E pensei que já era hora de ir para uma startup.”
O app da Nate nem estava no ar, mas ela leu um artigo sobre seu fundador e a empresa, e achou muito interessante. Foi quando resolveu escrever para o dono perguntando se topava conversar com ela. Em princípio, ela achou que ele nem fosse responder, mas respondeu e a convidou para um café virtual, alertando que não estavam contratando para o setor de marketing.
“Nós batemos muito um com o outro, gostei muito das ideias dele, o quanto ele ligava para criar uma empresa a longo prazo, para fusão, criar espaço para criatividade, contratar pessoas independentemente da idade, do gênero. Ele me contratou durante a conversa, disse: ‘Quando você pode começar?’,” relata Thais, que aceitou de imediato.
Quando ela entrou na Nate, em setembro de 2020, a equipe era de 20 pessoas, hoje são 110. Em princípio, Thais foi para tocar mais a parte de estratégia de marca, depois de alguns messes, foi alçada para liderar o time inteiro de marketing e também ajudar o time de produto. “Desde então o time de marketing aumentou de duas pessoas para 16, e hoje são 110 ao todo . “Acho que foi uma das melhores decisões que eu já tomei [ir para uma startup].”
Thais conta que ela e o time sempre conversam sobre síndrome do impostor [insegurança em relação às próprias capacidades, e muito comum em pessoas que têm profissões competitivas], pois acha que muita gente sente esse problema, e, principalmente, mulheres no mercado de trabalho. “Eu acho que você tem que controlar sua síndrome do impostor e pegar o que é bom, que sempre tem um pouquinho, como questionar, continuar curiosa, sempre querendo mais, mas ao mesmo tempo não pode quero demais, porque você está lá por um motivo, você está lá porque é a pessoa certa para estar lá naquele momento. É importante ter coragem misturado com curiosidade, empatia. Acho que essas são as características principais para trabalhar em uma startup”, conta a head de marketing da Nate. Ela própria diz que não esperava conseguir tanto êxito, que se sentia insegura, mas que hoje lidera até pessoas que têm mais experiência que ela própria – claro, a moça tem só 25 anos e já galgou muitos degraus profissionais.
Thais, no último ano de faculdade, aplicou para um MBA [Master in Business Administration, na sigla em inglês] em Harvard, uma das mais importantes universidades do mundo. E ela, mais uma vez, foi aprovada. É um tipo de curso em que a pessoa depois de aprovada tem um período para decidir quando cursar, e esse momento chegou. Só que agora Thais está empregada e fazendo algo que ama. O grande dilema é que ela tem até o próximo ano para decidir se aceita ou não a vaga para qual foi selecionada. “Então, estou para tomar essa decisão. Se a Nate não desse certo era uma coisa certa [cursar o MBA], mas deu. Agora eu gostaria de continuar cultivando essa cultura de time que a gente tem, que é muito positiva e muito boa, vamos levar a marca para um outro patamar no próximo ano [pretendem ampliar a Nate para o Reino Unido]. Então, estou muito animada para isso e para entender como eu posso ajudar outras pessoas a terem trajetórias incríveis”, diz, de forma generosa. Agora eu quero usar o meu tempo livre para devolver um pouco de tudo que a vida me deu”, completa.
Sobre o mercado de trabalho para as mulheres atualmente, Thais diz acreditar que a sociedade progrediu muito, mas que há vários obstáculos que acabam sendo invisíveis, às vezes. “Principalmente quando chegam na minha idade, que é o tempo de de ter filhos, acho que elas se questionam se são capazes de fazer tudo, balancear tudo. Preciso ser bem-sucedida no trabalho, me cuidar, ter amigos, e cuidar da minha família. Eu acho importante termos a cultura de as mulheres se levantarem, tanto no lado profissional, como no pessoal. É importante criar essa cultura positiva entre mulheres, tem que ter essa mentalidade de time mesmo.” Em 2021, ela foi nomeada como Inspiring Leader pelo NYC Fintech Women – um reconhecimento anual de mulheres que são inspiradoras na área de finanças e tecnologia.
Na Nate, por exemplo, empresa em que é o grande nome de marketing, Thais conta que há políticas de responsabilidade social. Lá, eles têm 50% dos funcionários mulheres, além de 33 nacionalidades diferentes. “Essa cultura de empoderamento e o poder que a diversidade tem estão no DNA da empresa. Há ainda benefício de fertilidade [congelar óvulos, adotar], maternidade e paternidade, temos um programa em que a empresa fornece US$ 5 mil para que o funcionário cresça na educação. Nós pensamos sempre em contratar para o futuro, pessoas que pensem para frente. Não necessariamente pessoas que tenham todas as qualidade técnicas para determinada função são contratadas, pois acreditamos que podemos ensinar. Isso também ajuda muito a promover a diversidade, porque você não limita, você aposta no potencial e ajuda muito mais a pessoa a crescer”, relata.
Mas será que uma pessoa como Thais, tão qualificada e bem-sucedida no exterior, pensa em voltar ao Brasil? A resposta é sim. “Eu quero muito voltar para o Brasil, é meu objetivo de vida. Gostaria de voltar para empreender, abrir meu próprio negócio, mas acho que ainda tenho muito chão pela frente”, finaliza.