Ievgeniia Severynenko nasceu e cresceu na Ucrânia. Aos 31 anos, Jenny Sever, como é conhecida, é modelo internacional, com carreira nos Estados Unidos e na Europa. Em depoimento exclusivo à Bazaar, ela fala sobre a guerra que assola o seu país. Leia na íntegra:
“Acordei pacificamente em Madrid, estava desligando o despertador do celular quando recebi a pior mensagem que alguém pode receber: ‘A guerra começou’. Eu não podia acreditar. Comecei a checar todas as notícias e ligar para meus pais. Infelizmente, os cidadãos de Kiev foram acordados às 5 da manhã por um alarme pior do que o meu… O alarme de emergência disparou quando a invasão da Ucrânia começou. Desde então, vivo em constante medo e ansiedade por minha família, amigos e meu país.
Como muitas outras pessoas na Ucrânia, sou meio russa por parte de minha mãe. Minha família se mudou para a Ucrânia nos anos 70. Russo é minha primeira língua e nunca senti ‘pressão’ ou precisar ser ‘protegida’ por russos ou Putin. Somos um país livre, com nossa longa história e bela cultura e povo. Sou grata a todo o povo russo que foi às ruas e pedir paz, apesar do medo de ser preso.
Minha família está assustada, mas segura em minha cidade natal, a 200 km de Kiev. Segura por enquanto, pois a situação é imprevisível e ninguém sabe o que esperar. Militares pediram mobilização total, meu pai foi se juntar às forças armadas para proteger a região. Havia uma fila enorme de homens, estou muito orgulhosa do povo ucraniano com espírito forte. Eles vão se defender e lutar até o fim!
Falamos o tempo todo, apoiamos e encorajamos uns aos outros. Eu tenho um irmãozinho, ele tem 11 anos, uma das minhas avós acabou de descobrir que tem câncer e precisa de um tratamento, meu avô está doente com Covid-19, e minha melhor amiga está grávida.
Nas grandes cidades, os ucranianos se escondem de explosões e dormem em estações de metrô porque não há abrigos antibombas suficientes. Meus amigos tiveram que correr (alguns deles por florestas!) e deixar suas casas e animais de estimação para proteger suas vidas e a vida de seus filhos de tanques, foguetes e bombas. Os civis estão morrendo. Todas essas pessoas inocentes estão sofrendo consequências pelas ações de um agressor pela falta de ação do resto do mundo.
Infelizmente, existem muitas notícias falsas na mídia, os canais russos não mostram o que realmente está acontecendo e como a população pacífica está morrendo, sendo ferida e milhões de pessoas estão em perigo. Ontem fui com meus amigos a uma manifestação junto à embaixada russa em Madri, na Espanha, para protestar contra a guerra e apoiar meu país.
A pior parte, não há muito o que eu possa fazer além de permanecer forte, apoiar minha família e estar pronta para ajudá-los a deixar o país se a situação piorar e ficar ainda mais perigosa.
Posso estar longe, mas estou vendo o que está acontecendo com meu querido povo, minha pátria e meu mundo. Estou chorando e com o coração partido por cada vida ucraniana.
Minha vida está parada. Não é apenas uma guerra contra a Ucrânia, é uma guerra contra a unidade da Europa e contra os direitos humanos elementares. Eles disseram ‘nunca mais’ depois de 1945 (o fim da segunda guerra mundial, quando as Nações Unidas foram criadas), mas veja o que está acontecendo agora.
Por favor, que as pessoas não fiquem caladas! A Ucrânia precisa ser isolada e se proteger contra os bombardeios vindos do ar.
Verifique apenas fontes oficiais de informação como a página do Instagram do presidente ucraniano @zelenskiy_official que relata a situação a cada hora. Você também pode ajudar e doar para o Exército ucraniano no site Save Life.”