Colaborou Larissa Romano
Com cores fortes e poesia, o cotidiano cearense ganha formas na coleção atual da marca autoral Sherida, batizada de “Terra Luz” e apresentada no line up do DFB Festival, em Fortaleza.
Leia entrevista com a estilista Sherida Livas:
Como foi para você a volta aos desfiles presenciais depois de dois anos?
Energética! Acredito que após esses dois anos eu vejo designers com sede de criação. Foram dois anos que passamos ruminando em pensamentos. Além do medo da incerteza de como será o futuro e como a moda será inserida nele. Então nessa volta aos desfiles presenciais, também ser uma estreia, me faz acreditar que minha voz pode pertencer a esse futuro.
O que inspirou você ao criar esta coleção apresentada no DFB Festival?
Resolvi iluminar, trazer luz e recomeços. A coleção partiu da ideia de abrir uma janela para iluminar e arejar nossa casa. De fazer limpeza na alma. As palavras Terra e Luz fazem alusão ao estado do Ceará, pelo fato de ser ensolarado na maior parte do ano e também por ser considerado visionário, já que foi a primeira província do Brasil a abolir a escravidão. Fatos que permearam a ideia da coleção. A energia e calor humano. O ato de estender a canga e ficar até o final do dia curtindo a mudança da paisagem, entre amigos, enquanto pertencemos aquele ambiente. Assim cada família tem um mood específico para cada momento do dia, começando com caimentos e cores mais suaves até finalizar com cores e formas mais dramáticas.
Como foi o processo de criação da coleção?
A coleção foi desenhada de uma forma fluida, assim como todo processo, eu me permito experimentar. Em materiais de diferentes caimentos, que me trouxessem as formas que eu imaginei nesse universo. Nasceu nesse período uma nova visão de roupa de banho. Nessa visão a alfaiataria foi mesclada de uma forma não óbvia entre forma e material. Desenhos são características comuns no meu processo e nessa coleção eu resolvi trazer para dentro do universo de Terra Luz. São estampas baseadas em elementos do meu dia-a-dia, de memórias em dias ensolarados e percepções do meu tempo. A ideia se aprofundava e se conectava com a coleção, da mesma forma que eu tive uma visão amplificada. É comum nos meus processos eu participar de cada etapa e nesse não foi muito diferente. As modelagens foram pensadas em conjunto com minha mãe, Lidelba Livas, que trabalha comigo no ateliê DozeVinte7. É um trabalho colaborativo na qual estudamos as formas que cada material pode assumir. Assim como também prezo por um acabamento que agregue valor e fortaleça ainda mais o design da marca.
Quais foram as técnicas e tecidos usados nesta coleção?
A coleção tem uma mesclagem pontual entre a alfaiataria e o surfwear. Essa mistura não existe apenas nos shapes, o que faz ela se tornar inusitada e com proporções diferentes. Assim encontramos peças como neoprene e cetim sarjado, ou ainda lycra com aplicações em organza bordada na técnica de richelieu, que enriquece ainda mais a superfície da coleção. A jovialidade fica por conta das estampas que representam cada família da coleção e elementos que nortearam a criação. São pranchas de surf, ondas do mar no estilo op-art, jarros com plantas psicodélicas, banhistas e cadeiras de praia.
O que você já tem em mente para a próxima coleção?
Geralmente minhas coleções são pontuais ao meu tempo. Se em Terra Luz temos cores vibrantes e muita energia, na próxima eu espero trazer essa energia em conjunto com a ideia de liberdade, falo em vários sentidos. Passamos por anos difíceis e eu acredito que esse desejo se mescla com a identidade da marca, um design mais selvagem e livre. Penso que precisamos nesse momento trazer mais dessa energia subversiva de brincar com formas não tão óbvias e dar voz e fôlego aos nossos sentimentos. Dias melhores virão e com ele espero uma óptica realista e positiva.