Jandaraci Araujo fala sobre representatividade no universo empresarial

Foto: Divulgação

Até alcançar o cargo de Conselheira Independente de Administração do Instituto Inhotim e do Instituto Tomie Ohtake, Jandaraci Araújo precisou escancarar algumas portas – e a educação foi a principal chave para abrir as fechaduras de grandes instituições. Além das iniciativas culturais, seu currículo também conta com o Conselho do Capitalismo Consciente Brasil, o cargo de Subsecretária do Empreendedorismo de Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo e Diretora Executiva do Banco do Povo Paulista.

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Da venda de salgados aos conselhos administrativos, a empresária reuniu uma extensa bagagem. Para compartilhar essas informações com outras mulheres, Jandaraci cocriou o Conselheiras 101, programa que visa a inclusão de mulheres negras em conselhos de administração.

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, conversamos com Jandaraci sobre representatividade no mundo empresarial, suas inspirações e a importância da data. Leia a entrevista na íntegra:

Harper’s Bazaar – Como foi sua trajetória dos dias de vendedora aos conselhos administrativos?

Jandaraci Araújo – Foi uma jornada de muitos “nãos”, muita resiliência, muito estudo e também de oportunidades. Sempre acreditei que a educação poderia ser a ponte para realizar meus objetivos. Não adiantaria a oportunidade surgir e não estar preparada. Importante ressaltar, não chegaria onde estou se alguém não tivesse me dado a primeira oportunidade. Ter um sponsor na carreira foi fundamental para chegar onde queria.

Como é seu trabalho no Instituto Inhotim e no Instituto Tomie Ohtake?

Estar no conselho de duas instituições culturais é um grande presente, para mim. O setor cultural tem enfrentado inúmeros desafios nos últimos anos e foi fortemente impactado pela pandemia. Como conselheira, nosso principal papel é acompanhar a gestão, auxiliar para que executivos atinjam os objetivos da instituição.

Como surgiu a ideia da criação do Conselheiras 101? Qual é o seu principal objetivo?

O Conselheiras 101 foi gestado por nove mulheres inconformadas com o discurso de que não haviam mulheres negras preparadas para estar em conselhos de administração, consultivos ou comitês. Nosso maior objetivo é preparar mais mulheres negras para ocuparem essas posições e dar visibilidade a todas.

Quais são os principais desafios de ser mulher negra no universo da administração?

Os desafios são vários, difícil até enumerar. Temos que lidar com machismo e racismo, simultaneamente. É exaustivo, mas escolhi não esmorecer. Para isso conto com minha rede de apoio para seguir, que vai de grandes amigas e amigos, família e minha terapeuta.

Que conselho daria a mulheres que sonham em trilhar caminhos profissionais semelhantes ao seu?

Preparem-se para ocupar todo e qualquer espaço que queiram. E não se conformem com os “nãos”. Façam muito networking, estudem bastante, estejam disponíveis e sejam um pouco “cara de pau”.

Nesta segunda-feira, é celebrado o Dia da Mulher Afro Latino Americana. Como você enxerga a importância desta data?

É uma data de reflexão e de lembrar das que vieram antes de nós, mulheres que não aceitaram o que estava posto para elas. Apesar da data ser importante, não vemos grandes mudanças na situação da mulher negra no Brasil, continuamos na base, com os piores salários e sem oportunidades.

Como o dia pode inspirar ações de representatividade no mundo corporativo?

Que sirva para as empresas tenham programas de aceleração de carreira para as mulheres negras. Não é ter uma apenas, garanta que todas tenham acesso às oportunidades de ascensão. Nosso lugar não é mais servindo café, limpando o chão apenas. Podemos e devemos estar em todas as posições.

Quais mulheres são inspiração na luta por essa representatividade?

São tantas as mulheres que me inspiram. Do passado, Luiza Mahin, Tia Ciata, Tereza de Benguela, Antonieta de Barros. Contemporâneas que me inspiram diariamente, Andrea Cruz, Josilay Santiago, Adriana Barbosa, Sonia Guimarães, Lisiane Lemos e muitas outras.

Como você enxerga um futuro mais justo para mulheres negras latino-americanas?

Um mundo onde não precisaremos lutar para continuarmos existindo, com mais oportunidades. Em que a nossa cor não seja a razão para sermos desqualificadas, hipersexualizadas e subestimadas intelectualmente.