Por Jéssica Colaço, da Plataforma Márcia Travessoni, com fotos de Igor Reis e edição de moda at large Filipa Bleck
O Ceará não consta como a terra natal da doutora em Sociologia Zelma Madeira. “Mas eu sou cidadã fortalezense, ganhei neste ano o título”, enfatiza ela, citando a homenagem recebida em março pela Câmara Municipal. Piauiense de 54 anos, ela partiu para o Ceará em 1992, acompanhando o marido e vendo nessa mudança a chance de se tornar professora universitária.
A carreira acadêmica se deu na Universidade Estadual do Ceará (Uece), onde atua desde 1997 como professora no departamento de Serviço Social. Também na Universidade, ela criou, em 2010, e coordena até hoje, o Laboratório de Afrobrasilidade, Gênero e Família (Nuafro). “Eu sempre estudo a maternidade, a minha preocupação são as famílias, casamentos, separações, a vida das mulheres negras, das mães de santo. Porque eu sou uma mulher negra e o meu projeto profissional imbrica com meu projeto de vida, que é construir um mundo antirracista”, define Zelma.
Em 2015, ela entrou na gestão pública estadual, assumindo uma coordenadoria responsável por criar políticas de igualdade racial. Hoje, como assessora especial de Acolhimento aos Movimentos Sociais, Zelma se vê no papel de estabelecer pontes e diálogos. “Embora eu não more mais na periferia, seja professora universitária e secretária de Estado, eu sou uma mulher negra e vim da classe trabalhadora. Quando estudo os contextos, eu entendo porque já vivi aquilo e consigo chegar nessas pessoas que estão nas bordas do sistema.”
Zelma se reconhece como uma líder, mas pondera sobre a cobrança exaustiva para assumir sempre o papel da mulher guerreira. “Já tenho dito que não posso estar o tempo todo guerreando, quero também usufruir de uma vida boa. Mas tem muitos momentos de solidão nesse campo da política, porque o racismo é adoecedor”. O impulso para seguir, diz ela, está na energia da juventude universitária, com quem Zelma nunca abriu mão de conviver; e nas trocas com os movimentos sociais dentro da rotina profissional. “A gente também perde algumas batalhas, mas estamos ali, sustentadas pela força ancestral dos que vieram antes da gente”.