Carol Costa está acostumada a transitar entre personagens muito diferentes – Foto: Caio Galucci

Do corset preto rendado de Roxie Hart para a camisola azul de Wendy, Carol Costa precisou se despedir do clima tenso e sensual de “Chicago” ao mesmo tempo em que dava boas-vindas à fantasia de “Peter Pan”. Embora a atriz já esteja acostumada a emendar trabalhos, esta foi a primeira vez em seus 12 anos de carreira que acabou um musical na mesma semana em que estreou outro. Agora, Carol chega ao fim de mais uma etapa levando essas personagens na bagagem de incríveis mulheres que já interpretou.

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“Foi bem difícil conciliar, uma loucura. Fora trocar os cartuchos, saber separar as coisas e embarcar em histórias tão diferentes”, conta ela, que agradece por ter dado tudo certo no fim. Para transitar de um papel para outro tão diferente, é necessário se apropriar daqueles universos até, de certa forma, pertencer a eles o suficiente para contar a história. E isso só é possível com muito estudo.

Habituada a adentrar o mundo de suas personagens, Carol nunca sai totalmente. Algo de cada uma sempre fica ali, como uma atriz que constrói seus papéis e, em algum nível, é construída por eles também. “Às vezes, a peça até tem um universo mais lúdico, infantil, e mesmo assim a personagem está me ensinando alguma coisa”, diz ela sobre o próprio trabalho em “Peter Pan”, musical que termina neste fim de semana. 

Na carreira, outros trabalhos importantes também marcaram a vida da atriz, que já foi de cangaceira a estrela de televisão. Em “As Cangaceiras Guerreiras do Sertão”, Carol deu vida a uma velha nordestina enquanto contava a história das mulheres no cangaço e os abusos que sofreram. Já em “Hebe, O Musical”, a artista fez sua estreia com uma grande personagem, interpretando a Hebe jovem, parte pouco conhecida do público, e que é um símbolo da libertação feminina em vários aspectos.

Bailarina, atriz e cantora, Carol Costa é uma artista completa – Foto: Caio Galucci

Mas talvez um dos principais divisores de água em sua carreira tenha sido a Chiquinha, de “Chaves – Um Tributo Musical”. O papel de muita exposição lhe rendeu dois prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante e ainda lhe ensinou muito sobre empoderamento feminino. “A Chiquinha é uma menina superjovem, sapeca, moleca e que bate de frente com os meninos ali, sempre levantando essa bandeira das mulheres e meninas”, destaca.

Emancipada aos 15 anos para facilitar a rotina de trabalhos que começou cedo, Carol precisou lutar muito por seu lugar, especialmente pois não queria ser reduzida a apenas uma área de trabalho, e sim ser entendida como a artista multifacetada que é. “A gente costuma ser colocados em caixinhas: o ator é o ator, o cantor é o cantor e a bailarina é sempre bailarina. Mas eu não queria isso para mim, queria fazer tudo”, diz ela, que começou no mundo da arte por meio da dança. 

Ao longo dos anos, essa luta pelo próprio espaço acabou encontrando algumas barreiras, como o machismo do meio. “Sempre fui uma pessoa de relacionamentos sérios, e escutei uma vez de um diretor de televisão que, se continuasse namorando, nunca ia conseguir crescer na carreira”, lembra ela, um episódio que mostra bem o quão grave são alguns comentários que se escuta no meio. 

Hoje, com mais maturidade, Carol diz que ainda existe muito a ser superado pelo mercado do teatro e da TV, mas que as pessoas parecem estar aprendendo, inclusive ela, que se coloca mais quando necessário e sabe sair melhor de algumas situações. “Isso não foi apagado pelo meio ainda, mas estamos todos, ou quase todos, aprendendo e em constante evolução”, afirma. 

Carol Costa termina o musical “Peter Pan” ainda neste fim de semana – Foto: Caio Galucci

Na mesma linha, a inclusão de pessoas negras e LGBTQIA+ também vem mudando, mas ainda está longe do ideal. Como muitas histórias contadas no teatro são antigas, elas têm linguagens ultrapassadas e o próprio casting original dificilmente é diverso. Para a atriz, isso tem mudado mais recentemente, com uma maior liberdade de expressão dos artistas junto aos diretores, criativos e produtores, que passaram a olhar com mais cuidado para o que está sendo contado e como está sendo contado.

“A gente sabe que nem todo mundo tem a mesma oportunidade. Eu agradeço muito todos os dias porque estudei e batalhei muito para estar aqui, mas sei que também fui privilegiada. Nada veio fácil, mas sei que fui privilegiada porque tive oportunidades”, afirma. É justamente por essas e outras que Carol fala como é difícil trabalhar com cultura no Brasil, são muitas incertezas, mas que a paixão que coloca em tudo que faz acaba falando mais alto.

Colhendo os frutos de anos de trabalho, a atriz encara com prazer um desafio atrás do outro, e ainda quer conquistar muito mais. “Meu maior sonho de carreira é viver de arte até ficar bem velhinha. Ter uma carreira sólida e expandir meu campo de trabalho”, conta ela, que chega a ficar emocionada de pensar no futuro. Mas um verdadeiro sonho compartilhado por ela e por outros artistas no País é o de que a arte e a cultura sejam mais valorizados aqui.

Para quem está começando na carreira, Carol ainda deixa um conselho uma palavra importante para o meio que é a paciência. “Como eu falei, as coisas não são fáceis, então estude muito, mas aproveite também. Aproveite o percurso, o processo e não queira pular etapas, isso é muito importante.”