Isabella Santoni – Foto: Andrea Dematte/Divulgação

Por Diogo Rufino Machado

Isabella Santoni encontrou na brincadeira da escolinha de teatro a sua vocação para ser atriz – logo, aflorou. Frequentou diversos cursos, inclusive profissionalizantes e a própria graduação de artes cênicas, que foram cruciais para sua formação.

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Hoje, a atriz tem mais de 9,5 milhões de seguidores e usa as redes sociais para tratar de assuntos do seu dia a dia, como esportes, culinária e leituras, bem como temas que considera importantes, como a descoberta da endometriose e como vem se cuidando.

Em “Dom”, série da Amazon Prime Video, Isabella interpreta Viviane, jovem da classe média e bonita, que usa sua condição e o racismo estrutural para praticar crimes.

Mulher multifacetada da geração Z, além de atuar, ela tem outros projetos, como uma marca de beachwear, a NIA, que questiona a padronização de corpos e faz moda para todas. Além disso, preocupa-se muito com o meio ambiente, tanto que fundou o Pegada do Bem, iniciativa em que bota a mão na massa, realizando limpeza de orlas de praias e reflorestamento.

Leia a seguir entrevista com Isabella Santoni feita pela Bazaar:

Harper’s Bazaar – Antes de estudar artes cênicas na Unirio você teve algum contato anterior com teatro, cinema e TV? Quando você decidiu que seria atriz?

Isabella Santoni – Tive. Estudei em escola construtivista durante toda a minha primeira infância e é um ensino que valoriza muito a criatividade. E, por incentivo dessa escola, minha mãe me colocou no teatro aos oito anos. No início, era só uma brincadeira e uma forma de me desenvolver mais, só que foi virando uma necessidade. Comecei a procurar outros cursos fora da minha cidade e foi na pressão do ensino médio, de escolher uma profissão, que decidi focar na atuação – na época eu tinha 15 anos. E aí, mudei toda a minha vida pra conseguir iniciar num curso profissionalizante de atuação aos 16 anos. Mudei de cidade, de escola e comecei a trabalhar como modelo para bancar essa escolha.

Com sete anos de carreira na TV, você acumula 9,5 milhões de seguidores no Instagram. Você cria conteúdos também, é influenciadora digital? Qual assunto você gosta de abordar mais na sua conta?

Hoje, todo mundo é um influenciador se está no meio digital. Eu acabo atingindo uma massa maior pela exposição do meu trabalho como atriz e por gostar de criar na internet também. Compartilho assuntos que acho que vão ter alguma relevância na vida de quem me segue. Os temas são muito relacionados ao que estou vivendo na minha vida pessoal, no geral, minha ligação com a natureza e a importância que enxergo na conexão com ela pra termos uma vida mais leve, os esportes que pratico, as aulas que faço, a minha gestão pessoal em relação às funções que desempenho (atriz e empresária). Posto minhas aventuras na cozinha e falo das descobertas que tenho, desde algum hábito novo que está fazendo diferença para mim até insights de livros, filmes e inspirações. Recentemente, acabei abordando a endometriose por ter descoberto a doença e querer alertar as mulheres que me seguem com os cuidados certos.

Em “Dom”, série da Amazon Prime Video, você interpreta uma criminosa que se vale de ser branca para cometer crimes em virtude do racismo estrutural arraigado no nosso País. O que pode contar sobre a personagem?

A Viviane é uma jovem de classe média que vive na Zona Sul do Rio de Janeiro, tem acesso a todos os caminhos possíveis e acaba se envolvendo com as drogas, escolhendo fazer parte do mundo do crime para sustentar o seu vício. Na série, podemos vê-la usando o fato de ser uma mulher atraente, jovem e branca para invadir residências e não ser vista como suspeita. Infelizmente, isso reflete uma realidade. Quantas histórias não conhecemos ou já ouvimos sobre pessoas pretas sendo acusadas de terem roubado ou não sendo atendidas com respeito e dignidade numa loja por conta da cor da sua pele? É algo absurdo e que tem que mudar, e é necessário entender que o privilégio branco é uma realidade para que injustiças não sejam jamais relativizadas ou diminuídas.

Isabella Santoni – Foto: Andrea Dematte/Divulgação

Qual foi o papel que mais marcou você durante toda a sua carreira? Falando em carreira, o que de novo vem por aí ano que vem?

Muito difícil escolher um, mas o primeiro trabalho, em “Malhação: Sonhos”, foi um divisor de águas na minha vida e carreira. Até hoje, mesmo tantos anos depois, recebo o carinho do público com a Karina, e ainda sou chamada por apelidos da personagem nas ruas (risos). Também destacaria o último papel, a Viviane. Por ter sido minha estreia no streaming e por fazer uma personagem envolvida no mundo do crime e das drogas. Sobre os próximos trabalhos, a segunda temporada de “Dom” ainda será lançada, mas já agora, no segundo semestre deste ano, começo a gravar a terceira!

Qual a sua ideia em relação ao mercado de moda no quesito corpos, venda, slow fashion e também do consumidor?

Bem complicado, mas necessário. É um desafio para a equipe da NIA. Ainda não conseguimos manter uma grade ampla em todos os produtos, então precisamos fazer algumas escolhas: alguns produzimos no PP e outros no XG, mas sonho que possa ter todos os modelos com tamanhos diversos. É um desafio ainda colocar mulheres reais nas propagandas, porque ao mesmo tempo que as pessoas estão cada vez mais antenadas ao quão é imprescindível que as marcas entendam que ser inclusivas deveria ser obrigação, grande parte do público consumidor busca imagens de referência no chamado “padrão”. Não basta mudarmos nosso discurso, temos que mudar em todos os âmbitos, inclusive utilizando do nosso poder de compra e de escolha. Não apenas apoiando, mas comprando de marcas que tenham valores compatíveis com a sociedade plural em que a gente vive, marcas que prezem também por modos sustentáveis e bem do planeta, e por aí vai. Quanto mais as marcas entenderem que seus consumidores estão optando por isso, mais elas se verão forçadas a viabilizar mudanças positivas para o coletivo. Escolhemos essa vertente como um valor da NIA por enxergar no feminino essa diversidade, não é sempre (ainda) a escolha mais rentável mas é o que acreditamos e o que nos move. Aos poucos, estamos ganhando nosso espaço e cumprindo nossa missão que é quebrar padrões e inspirar as mulheres a se sentirem confortáveis e confiantes em sua pele. Recebo relatos maravilhosos das nossas Mulheres Oceânicas que são apaixonadas pela NIA e isso é o que me move.

Em meio a uma rotina tumultuada, você é fundadora do Pegada do Bem que promove eventos de conscientização ambiental. Conte sobre este projeto.

Sou idealizadora junto com o Caio (Vaz) e tenho apoio de alguns projetos e amigos para fazê-lo acontecer, como a Stone House (em Ipanema, de Arthur Cumplido), Salvemos São Conrado (na Rocinha, de Marcello Farias) e Route Brasil (de Simão Pedro). O projeto surgiu da minha insatisfação em ver o lugar que mais amo sujo. Quis colocar a mão na massa e agir de alguma forma. O projeto funciona desde organizando mutirões de limpezas das praias, até mesmo oferecendo atividades de educação ambiental, trazendo soluções pro nosso dia a dia. Já fizemos também ações de plantio de árvores e atividades totalmente direcionadas a crianças. Durante a pandemia, fizemos uma pausa nas atividades presenciais, mas já estamos nos organizando para as próximas ações. Sobre arrumar tempo, confesso que às vezes nem eu sei! Tem dias que penso em como queria que o dia tivesse umas cinco horas a mais, para dar tempo de fazer tudo que eu gostaria e ainda, claro, ter meus momentos de lazer e descanso. Afinal, ninguém produz da mesma forma e tão bem sem ter suas pausas e trabalhando 24/7, não é saudável. Uma das maneiras que tornou todas essas vertentes na minha vida possíveis é justamente a minha rede de apoio, e também ter aprendido a delegar. Na NIA, por exemplo, claro que coordeno muita coisa, mas delego outras funções importantes a gente competente. No Pegada, unimos forças e contamos com nossos parceiros, e todo mundo que se oferece a contribuir. Parece demagogia, mas aprender a ter espírito coletivo faz toda diferença se você tem a vontade de realizar muitas coisas, e nessa jornada, achar os parceiros de caminhada certos.