Greg Reis na COP27 – Foto: Arquivo Pessoal

Por Greg Reis*

O papo de hoje da COP27 é claramente sobre energia. É claro que a mudança climática, sendo o tema principal da conferência, nunca deixa de estar desconectada das origens e repercussões, mas a conversa aqui vai além.

A guerra recente da Rússia com a Ucrânia levantou o tema da energia por conta da escassez que gerou na Europa e, por isso, a necessidade de recursos alternativos. O espaço da Ucrânia na COP27 (em sua primeira participação no evento) tem um ar solene e deixa espaços vazios no nosso olhar. Alinhados com o momento, nos aproximam do que estão vivendo e explicam como a violência também nos afeta. Solo machucado que não produz alimento e outros recursos invadidos anulam a contribuição que o país oferece ao seu redor e, por consequência, ao mundo.

A diretora executiva de negócios do Grupo Malwee, Anay Zaffalon, no estande Brasil se preparando para apresentar cases da empresa, que é referência internacional em sustentabilidade na moda – Foto: Arquivo Pessoal

Num contraste meio absurdo, mas que quase aponta um alívio (que pode ser minha percepção otimista) o espaço da Ucrânia no evento fica em frente ao do Brasil. Que exatamente carrega a nossa excelência em desenvolver alternativas de energias limpas e renováveis. Já ouço há muito tempo que o Brasil é referência nesse sentido, mas ver materializado em espaço – formas, cores e mensagens – é lindo e dá um orgulho danado! Setores público e privado de liderança no Brasil construíram um campo para diálogos e contato do mundo com a nossa narrativa de preocupação com o futuro e o acesso a energias duráveis. Em uma instalação de projeção mapeada e telas de LED, contamos lá, enquanto país, um pouco sobre essas iniciativas.

Mas, como criativo, não consigo deixar de poetizar a palavra energia. É o que sinto andando pelos corredores da COP27. Acredito que tem a ver com a intensidade nas estampas ultra coloridas, nos rostos diversos e atentos do público, com olhares de descoberta. Tem a ver com enxergar de perto o encontro de engravatados, thawbs, cocares e turbantes que cobrem mentes geniais e uma vontade enorme de mudança. O cansaço dos últimos dois anos deu lugar a uma emoção coletiva que só posso chamar de… energia!

Ps.: Preparando este texto, ontem, fui pego de surpresa com a notícia de morte da Gal. Uma tristeza enorme! Sempre gostei dela, desde criança, e estar fora do Brasil neste momento potencializou minha tristeza e nostalgia… Mas lembrei que todo artista vive para sempre, porque deixa o pensamento vivo com a gente. Gal, bem brasileira, tinha energia na voz e na alma. Cantava como algo muito próprio da nossa natureza. Ela deixou “solar” para nos conectar com esse momento.

Solar
Canção de Gal Costa e Milton Nascimento

Venho do sol, a vida inteira no sol
Sou filha da terra do sol
Hoje escuro, o meu futuro é luz e calor
De um novo mundo eu sou
E o mundo novo será mais claro
Mas é no velho que procuro
O jeito mais sábio de usar
A força que o sol me dá
Canto o que eu quero viver
É o sol, somos crianças ao sol
A aprender a viver e sonhar
O sonho é belo
Pois tudo ainda faremos
Nada está no lugar
Tudo está por pensar
Tudo está por criar
Saí de casa para ver outro mundo, conheci
Fiz mil amigos na cidade de lá
Amigo é o melhor lugar
Mas me lembrei do nosso inverno azul
Eu quero é viver o sol
É triste não ter o sol
É triste não ter o azul todo dia a nos alegrar
Nossa energia solar irá nos iluminar o caminho
Nossa energia solar irá nos iluminar o caminho

*Greg Reis é diretor criativo do Grupo Malwee