A brasileira Raysa França é representante do Youth for Nature, organização que envolve a juventude nas questões climáticas em nível global. Conhecê-la foi um dos presentes desta COP27. Na foto, eu presenteando a Raysa com o nosso moletom do projeto Des.a.fio, produzido com 33% menos de água – Foto: Arquivo Pessoal

Por Greg Reis

Nosso último dia de COP27 teve um gosto especial. Dois assuntos importantes para nós, que somos indústria e mercado da moda, estavam sendo discutidos com intensidade no evento e a sensação não foi de conclusão, mas de baterias carregadas para seguir fazendo mais.

Em primeiro lugar, estava o tema da água. Para quem trabalha com moda, o uso consciente da água é um desafio enorme. Nossa indústria é responsável por colocar em pauta ações práticas de redução de uso e poluição, e, neste caso, estamos brilhando! Na Malwee, o projeto de circularidade Des.a.fio, que produz peças a partir de roupas que seriam descartadas, apresenta uma redução de 33% no uso da água, por exemplo. Mas exemplos bons vindos do Brasil não estão só na Malwee. Empresas de moda e beleza como a Farm, Laces, Renner e Simple Organic deram orgulho de ver e ouvir. Viemos com o mantra “não adianta pensar sustentabilidade sozinhos” e aqui encontramos parceiros dispostos a colocar a competição de lado, abertos a uma conversa transparente e colaborativa para que o futuro seja bom para todo mundo (e todo o mundo).

A água não é um recurso renovável, ela tem fim, por isso, precisamos de ações urgentes. Como falei em um dos stories para cá, o problema sempre cai na produção de alimentos. Quando falamos na sobrevivência da nossa espécie, é a forma como produzimos o nosso alimento que preocupa. E a água é fundamental nessa conta. Em uma das rodas mais inspiradoras, conhecemos Felipe Vilela, dono da Renature, empresa que trabalha pela floresta e culturas regenerativas. Felipe nos disse que, se continuarmos a plantar do jeito que plantamos, usando a água e o solo da forma como fazemos hoje, em 2050 não teremos mais café. Como mineiro que sou, bateu um desespero. Café, não! Mas vem em seguida um alívio quando vemos o trabalho dele e de outros profissionais e ativistas na luta para que essa tragédia não aconteça.

Brincadeiras e exageros à parte, falemos de brincadeiras e exageros com seriedade. É importante agirmos com urgência, mas nos movermos unidos não precisa acontecer sem esquecermos que conexões humanas profundas precisam de um alívio de vez em quando. Nas COP27, sorrisos, gargalhadas e conversas leves fluíram como água. E no humor sempre inteligente de pessoas incríveis que conhecemos, assuntos sérios tomam formas mais fáceis de engolir e digerir. Um exemplo foi a conversa com Raysa França (mineira que provavelmente compartilha meu amor por café) e representante do Youth for Nature, organização que envolve a juventude nas questões climáticas em nível global. Um dos nossos papos foi sobre como a juventude precisa estar nessa pauta também para trazer uma certa descontração. Raysa, preocupada em passar seu “gloss Y2K”, como disse, levantou o benefício de termos pessoas abertas a agir e dialogar sem premissas rígidas. E a conversa foi de fato uma delícia! Dali saiu um assunto também bastante profundo, mas com muita clareza e leveza. A questão da equidade de gênero, por exemplo.

As questões sociais se misturam às ambientais no momento em que mudar comportamento é primordial para redirecionarmos o futuro. Raysa nos lembrou que o cuidado está em um lugar feminino em nossa sociedade e, por isso, a participação das mulheres nessa luta vem carregada de significados que geram ações. Fomos à COP27 levando duas mulheres incríveis do nosso lado. Taise Beduschi, nossa gerente de sustentabilidade do Grupo Malwee, se dedica a questões técnicas da indústria para produzirmos com consciência. Hoje, nos representou em uma reunião do Pacto Global da ONU em que as ações conscientes da Malwee foram apresentadas como exemplo a ser seguido. Do nosso lado, representando a diretoria de negócios da Malwee, estava Anay Zaffalon. No cargo de liderança que direciona todas as marcas do Grupo, Anay teve participações em muitos painéis, incluindo um convite do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, onde nossas ações foram aplaudidas em muitas línguas diferentes. Mulheres que estão liderando o caminho com a força de profissionais super competentes e coração de mãe.

Fechar esta semana, e nossa presença na COP27, falando e pensando sobre o futuro da água e da participação feminina na questão climática é unir o pensamento sobre natureza e pessoas. E a moda está no centro dessas questões. Nosso comportamento precisa de ajustes, mas as ferramentas estão aí. Moda é indústria, desejo, diversão, necessidade… mas, acima de tudo, é cultura. Estamos no centro do problema, mas liderando a solução, que não parte de dados e números. Parte de cuidado, diálogo, paixão e uma visão de que estamos em uma correnteza na qual devemos navegar juntos. A COP27 pra gente termina com gosto de algo que está só começando.

*Greg Reis é diretor criativo do Grupo Malwee