As DJs Aisha Mbikila e Yaminah Mello – Foto: Arquivo Pessoal

Por Dani Pizetta

Aisha Mbikila e Yaminah Mello são primas e formam um dos duos de DJs mais potentes de São Paulo. Apesar de uma agenda intensa dedicada à música, arte, moda, filmes e videoclipes, partiram rumo à Londres especialmente para tocar no Carnaval de Notting Hill, considerado o maior evento do segmento fora do Brasil.

O convite veio da amiga e curadora brasileira, residente na capital inglesa, Ana Beatriz Almeida, que é também cofundadora da Marujada, uma plataforma responsável por ligar artistas e músicos do mundo todo em uma fusão caribenha e africana. “Crescemos ligadas à uma rede de artistas que nos inspiram e nos dão suporte, e quando eu e Yaminah recebemos o convite de Ana Beatriz para tocar em um dos palcos mais importantes do evento, não pensamos duas vezes: da noite para o dia estávamos cruzando o oceano rumo a Londres”, disse Aisha em entrevista à Bazaar.

No alto, Yaminah no ateliê/casa do amigo Samuel De Sabóia, em Londres – Foto: Arquivo Pessoal

Apesar do convite ter sido feito um mês antes da viagem, a confirmação só chegou no dia anterior à partida, e como as duas acreditam na força e no poder das conexões em suas vidas, tudo se ajeitou para que as DJs fossem “chacoalhar” o Carnaval londrino. No auge do verão no hemisfério norte, Londres ferve. A capital inglesa é conhecida por ser uma das mais expressivas do mundo, não porque dita regras, mas porque respeita a individualidade de cada um, fato que está diretamente ligado às suas pessoas, à sua pluralidade e à sua fusão multicultural.

Na festa Faggamufifn em Dalston, com a DJ Gin – Foto: Arquivo Pessoal

O Carnaval londrino existe desde 1966 e este ano tomou as ruas de Notting Hill no último sábado de agosto e terminou na segunda dia 29, feriado na cidade, onde cerca de 50 mil artistas se expressam livremente. Diferentemente do Brasil onde temos samba, marchinhas e ritmos da cultura popular em geral, por lá a sonoridade predominante é o reggae. Nos palcos, é possível escutar os sons caribenhos, as músicas jamaicanas e os ritmos africanos em uma fusão entre a ancestralidade e a contemporaneidade da música. “Foi lindo ver a população preta protagonizando a música eletrônica, por exemplo. Senti que estávamos lá representando não só nossa arte, mas nossa herança genética”, disse Yaminah.

Aisha em vernissage na Mariane Ibrahim Gallery em Paris, durante exposição de Jerrel Gibbs – Foto: Arquivo Pessoal

A vibe da festa toma Notting Hill durante três dias e as ruas do bairro inglês lotam de gente fantasiada, mas não tanto quanto no Brasil, contaram as primas: “por aqui, a gente se fantasia mais!”. A diferença é que lá os looks são muito autênticos e variados, pois não só a música vem de diferentes lugares do mundo, mas as pessoas também. De indianos a latinos, jovens e velhos, pretos e brancos, o espetáculo é humano!

Aisha durante as peregrinações em Marseille, na França – Foto: Arquivo Pessoal

Cada dia de festa parece ser uma aventura. São inúmeros palcos e, se por um lado lembra as ruas e os blocos do Rio de Janeiro, por outro, lembra a Virada Cultural de São Paulo. As primas contam que os encontros com amigos novos e antigos durante a festa, levaram-nas a lugares e experiências ainda mais incríveis e memoráveis, como um after que aconteceu em um espaço que ficava dentro de uma estação de metrô: “você precisa se conectar com quem sabe onde ficam os afters, pois, na maioria, são bem secretos.”

Em meio à multidão, encontraram artistas de todas as esferas, mas um episódio marcou: enquanto caminhavam de um palco para o outro, avistaram a cantora Alewya, que admiram e tocam suas músicas. Não pensaram duas vezes, com carinho e respeito deram oi, tiraram fotos e demonstraram sua admiração.

Yaminah filmou toda a viagem, que será transformada em documentário – Foto: Arquivo Pessoal

Mais uma vez, os encontros e as possibilidades que Londres representa aos artistas vão da inspiração à conexão humana e, por isso, a cidade vibra por todos os ângulos. É sabido que a moda na capital inglesa é pulsante e Bazaar estava louca para saber sobre os “lookinhos” que levaram na mala. “Temos acesso a marcas, apoiamos os designers que acreditamos, mas gostamos de nos vestir de forma interessante independentemente do logo. Montamos nossos looks sem pensar muito, cada uma com seu estilo próprio”, contaram as duas.

Grafite em Hackney – Foto: Arquivo Pessoal

Viajar entre primas é uma festa e a dupla diz que a experiência as conectou a um lugar muito íntimo da infância. Dividiram quartos de hotel, compraram muito skincare e artesanato regional. Recomendam uma visita ao Dalston Market para descobrir um mundo de produtos e artigos alternativos, interessantes e únicos. Estilosas que só, circularam por lojas locais e voltaram com Doctor Martens e Nike by Comme des Garçons nos pés.

Cena da festa Faggamuffin em Dalston – Foto: Arquivo Pessoal

Subir ao palco durante a festa e apresentar sua arte foi definitivamente o ápice da viagem para as DJs. Mas representar sua cultura e suas raízes que se misturam entre Brasil e África é uma honra para todos nós, que ficamos aqui a admirar e a aplaudir mulheres poderosas que se expressam livremente e definitivamente, nos representam!