Foto: Divulgação

Em seus mais de 175 anos de história, a Cartier faz parte do hall consagrado da alta-joalheria internacional. Desde sua fundação, em 1847, em Paris, a maison revolucionou o universo dos acessórios com criações luxuosas e símbolos emblemáticos (como a pantera, seu mais famoso) que decoraram o estilo de clientes e ícones de estilo. Agora, a casa leva seus arquivos para ‘Um Legado Vivo’, a exposição inédita no Museu Jumex, na Cidade do México, recontando para o público (de 15 de março à 14 de maio de 2023) sua trajetória de quase dois séculos através de 160 designs marcantes – e com a presença da Harper’s Bazaar, convidada para acompanhar a estreia da mostra.

Enquanto a primeira exposição da Cartier no México só aconteceu em 1999, a relação da maison com o país é muito mais antiga (e as ligações são protagonistas nas salas do museu). María Félix, atriz glamorosa do cinema mexicano conhecida como “La Doña”, é uma das personalidades latinas que lidera a lista de clientes memoráveis da joalheria, e algumas de suas maiores encomendas estão entre as “atrações” mais aguardadas de “Um Legado Vivo”. As histórias da artista no número 13 da Rue de la Paix, onde a Cartier abriu as portas em 1899, são famosas: na década de 1950, não era incomum encontrá-la entrando na boutique coberta de diamantes e chamando por Gabriel Raton, seu designer favorito na maison.

Uma apaixonada por criaturas míticas, suas joias da Cartier são ainda mais lendárias. De seu último casamento, com o empresário suíço Alex Berger, ela herdou um estábulo de cavalos de corrida perto de Paris e, para combinar com o estética excêntrica dos animais (todos cobertos em equipamentos da Hermès), se tornou uma frequentadora assídua da maison de alta-joalheria. Em 1968, adquiriu um colar tridimensional e completamente articulado em formato de serpente, com escamas de esmalte colorido na barriga e um total de 2.473 diamantes. A peça, que pesa mais de 178 quilates, fez sucesso na noite de 19 de agosto de 1973, quando Félix apareceu em Deauville combinando a joia com um vestido rosa Chanel, decorado com plumas de avestruz.

Dois anos depois, em 1975, a atriz fez sua segunda encomenda histórica: um colar na forma de dois crocodilos articulados. Como prova da tecnologia Cartier, eles não apenas têm patas removíveis (para o caso das garras incomodarem a pele), mas podem ser separados e usados como broches. Divididos entre os dois animais, feitos em ouro, estão 1.023 diamantes amarelos, 1.062 esmeraldas e dois rubis.

Ambos os colares (de serpente e crocodilos) fazem parte da nova exposição da marca no México, mas não são os únicos destaques da curadoria, assinada pela historiadora de arte Ana Elena Mallet. Na disposição da mostra, desenhada pela arquiteta Frida Escobedo, se encontram os maiores exemplos de criações icônicas da Cartier, de joias e relógios à peças decorativas, separadas em cinco núcleos temáticos. O primeiro deles, “Os Primeiros Anos e o Nascimento de um Estilo”, é seguido por “Curiosidade Universal”, “O Gosto de Jeanne Toussaint”, “Medir o Tempo e Vestir a Beleza” e, finalmente, “María Félix e os Ícones da Elegância”.

Para além da última sala, dedicada à atriz e outras personalidades de estilo, aquela dedicada à Jeanne Toussaint, designer e joalheira que brilhou nos ateliês da casa entre 1913 e 1970. A primeira mulher a dirigir artisticamente a Cartier, entrou para a história como uma revolucionária no design e por dar vida à icônica Panthère, felino que se tornou emblemático entre suas criações. Enquanto a ideia do animal já circulava nos ateliês desde 1914, entre os irmãos Louis e Jacques Cartier, foi com Jeanne que o desenho se tornou realidade. Apelidada de PanPan (diminutivo de pantera) por um amante durante uma viagem às savanas africanas, ela foi responsável pela criação dos primeiros broches de felino tridimensionais no final da década de 1940. Os primeiros foram comprados por Wallis Simpson, a Duquesa de Windsor, que transformou o design em um must-have. Em pouco tempo, outros ícones de moda, como as herdeiras Barbara Hutton e Daisy Fellowes (igualmente apaixonada pelo design tutti-frutti da maison), já estavam copiando a tendência.

Entre as criações europeias, que traçam a história das tendências nas joias, do Art Déco ao glamour Hollywoodiano, visitantes também encontram as inspirações que marcaram o legado da Cartier nos últimos dois séculos. Da Índia e Egito Antigo ao Oriente Médio e Leste da Ásia, as raízes de algumas das joias memoráveis também estão na América Latina – e para muito além de María Félix. José Yves Limantour, ministro mexicano do século 20, também é referenciado na exposição, assim como o aviador brasileiro Alberto Santos-Dumont. Herdeiro paulista de um magnata do café, se mudou para Paris ainda em 1892 e fascinou a sociedade francesa com seu Baladeuse, o pequeno avião que usava para ir de um restaurante a outro. Anos mais tarde, foi um dos fundadores do Aeroclube da França, que tinha Louis Cartier como um dos membros. A amizade instantânea deu origem ao relógio de pulso Santos, criado pela Cartier em 1904, revolucionando o universo de acessórios masculinos em uma época em que apenas as mulheres usavam relógio de pulso, enquanto a moda para homens ditava os modelos de bolso.

Das mais detalhadas às mais misteriosas, são essas (algumas) das histórias que se materializam e se unem em “Um Legado Vivo”, a nova exposição da Cartier no Museu Jumex, na Cidade do México, aberta entre 15 de março à 14 de maio de 2023.