Isabel del Priore – Foto: Divulgação

Não fica muito tempo no mesmo lugar nunca foi um grande problema para Isabel del Priore. Muito pelo contrário, é o movimento que caracteriza e dá sentido à jornada profissional da diretora de negócios da Animale. Seja a mudança literalmente geográfica, seja ela em virtude das inúmeras possibilidades e cargos que surgem no mundo da moda (ou até mesmo em sua vida pessoal), o desvio de rota é uma constante para ela.

Isabel começou sua formação na França, onde estudou em um colégio interno e, depois, cursou business na Faculdade Leonard De Vinci, em Paris. Viver no epicentro da moda e, sobretudo, conviver ao lado da tia Hiluz Del Priore, consultora e editora de moda, marcaram seu início profissional.

Ainda estudante, decidiu embarcar em uma missão humanitária da ONU, na África. Na volta, entendeu que era hora de retornar ao Brasil, mais precisamente para o Rio de Janeiro, onde nasceu e onde vive sua família. “Nos primeiros anos, tive a oportunidade de trabalhar com assessoria de imprensa. Atendia marcas francesas que não tinham representação no Brasil e assumi um pouco esse papel de ajudá-las a entender o que se fazia aqui e de que jeito”, lembra.

Foi só o começo. Na multimarcas Clube Chocolate, foi responsável por trazer grifes como Prada, Miu Miu e Valentino; mudou-se para Nova York, para dar corpo à então neomarca Rafael Cennamo Couture; voltou ao Brasil para desenvolver projetos com a perfumaria Água de Cheiro.

Até que, em 2013, começou sua trajetória na Hermès. Em seis anos, Isabel foi de gerente à diretora de toda a operação para a América Latina da marca francesa. “Tive um filho no meio de todo esse processo de mudança profissional, então fui buscar entender qual seria a construção do meu novo caminho, agora como mãe e executiva. No meu caso, meu filho nasceu antes do previsto, e veio para mostrar que, se eu achava que tinha algum controle, que a maternidade seria apenas mais um item no meu schedule, estava completamente enganada. Ser mãe e profissional trouxe, para mim, esse ensinamento de que é preciso respeitar o tempo e a verdade de cada mulher”, analisa.

Em 2021, Isabel recebeu o convite para assumir seu atual cargo na Animale e levou para o grupo SOMA mais do que sua bagagem profissional: a missão de ampliar a igualdade de gênero na empresa. “Hoje, na moda, temos muitas lideranças femininas, porém centradas no departamento criativo. Temos 60% dos cargos de liderança de negócios da Animale preenchidos por mulheres. Parcialmente, eu herdei este cenário. Fizemos alguns ajustes internos, muito mais culturais do que na organização em si.”

Uma das medidas adotadas pela marca sob a tutela de Isabel foi aderir ao movimento Elas Lideram, do Pacto Global da ONU, em que 1600 empresas se comprometeram a ter metade dos cargos de liderança femininos. Embora a Animale já tenha até mais do que isso em seu comando, está adotando ações para além da representação nos altos cargos. Isabel está comprometida em criar planos para as sucessoras. “Temos programas de capacitação, mentorias, recrutamento de mulheres pretas e capacitação delas dentro de casa”, lista. A jornada é longa, mas ela está preparada.

Todo esse movimento – profissional, geográfico, estrutural – é um reflexo de sua principal inspiração: sua mãe, a escritora e historiadora Mary Del Priore. “Ela tem suas grandes conquistas no mercado, mas, para mim, sempre foi um exemplo de mãe profissional. Para a geração dela, tudo era ainda mais desafiador. Tenho memórias da minha mãe indo para a faculdade, se formando, buscando o lugar dela”, relata com carinho.

As inspirações podem vir do passado, mas, no trabalho, o olhar de Isabel está sempre no futuro. Com mais de 30 anos de história, a Animale passa por um momento de revitalização, em que busca atualizar seus códigos, sem deixar de ser fiel à sua herança. “O varejo nacional passou por vários momentos: o das multimarcas trazendo o internacional; depois, a chegada do internacional, quando não sabíamos qual produto nacional iria sobreviver a essa abertura; e, hoje, vivemos um momento privilegiado, em que um novo horizonte de renovação se abre para as marcas nacionais”, diz. E, claro, para as mulheres. Que, na visão iqualitária de Isabel, são causa e efeito de um ambiente profissional humano e equilibrado.