Jason Mraz na capa de “Mystical Magical Rhythmical Radical Ride” – Foto: Divulgação

“Uma pessoa que tem contato com a arte, no mínimo, sofre mais bonito, porque ela sofre acompanhada dos poetas, da beleza.” As palavras são da atriz brasileira Denise Fraga em entrevista à Bazaar, mas provavelmente poderiam ser do cantor norte-americano Jason Mraz, com quem conversamos sobre seu novo álbum. Talvez você se lembre dele por alguns de seus trabalhos mais antigos, como “I’m Yours” e “I Won’t Give Up”, mas agora, uma década depois, ele ainda quer te acompanhar por esse passeio místico, mágico, rítmico e radical que é a vida.

“Mystical Magical Rhythmical Radical Ride”, seu oitavo disco de estúdio lançado nesta sexta-feira (23.06), consegue te transportar ao longo de dez canções para uma jornada por vezes revigorante e otimista, por outras, conturbada e desafiadora. O que o cantor pretende com sua música é exatamente aquilo que Denise Fraga resumiu: te acompanhar nos bons e maus bocados.

“Nesse álbum, eu me apoio na ideia de conexão para manter minha esperança e energia”, conta. É sobre isso a sexta faixa, “The Irony Of Loneliness”. “A ironia da solidão é que a sentimos ao mesmo tempo”, tranquiliza o cantor. “Com a pandemia, nosso clima político desastroso, o modo como tantos seres humanos estão sofrendo por problemas de liderança, era importante para mim fazer arte que mostrasse possibilidades positivas.”

Esse tom reflexivo e introspectivo do álbum – cujo primeiro som é de um sino tibetano, muito usado em sessões de meditação, e aproveitado na faixa “Getting Started”, com um convite para olhar para dentro –, é acompanhado de música disco em canções como “Disco Sun” e “I Feel Like Dancing”.

“Eu queria mergulhar na música disco faz tempo, mas demorou para descobrir como unir isso com minha escrita. Levou muito esforço e treinamento. Algumas dessas músicas levaram dez anos de demos e tentativas. Eu não queria fazer um álbum eletrônico, ainda queria que fosse uma representação de música ao vivo, com essa sensação de disco e pop ao mesmo tempo”, conta.

Essa união pode parecer contraditória, mas acaba sendo extremamente realista quanto aos altos e baixos da vida, oferecendo uma espécie de antídoto para a baixa frequência. “Quis combater o isolamento e a solidão com uma expressão jovial de dança e gratidão, plantando sementes para novos sonhos e recomeços”, explica. “Nos meus trabalhos mais antigos, como ‘I’m Yours’, a diferença é que as letras eram sobre as dificuldades dos relacionamentos, enquanto agora é mais sobre perceber a preciosidade do tempo.”

Ainda que ele afirme que as músicas que escreveu quando estava na casa dos 20 anos focavam mais em questões corriqueiras, como problemas na vida amorosa, ele sempre se conectou com o público ao inserir reflexões profundas sobre a condição humana em suas letras. “I’m Yours”, com um ritmo contagiante, já falava sobre a importância de se manter presente, se desfazer da vaidade e aproveitar o momento. Agora, ele atinge essa consciência em toda sua potência.

“Ainda que o resultado seja feliz, foi preciso muito trabalho árduo e às vezes lágrimas para chegar a essa coisa feliz que fizemos, mas é uma prática minha fazer música com propósito, que tem um tom otimista e feliz”, revela.

Talvez por isso seus fãs brasileiros se conectem tanto com sua música, que carrega essa capacidade de manter um espírito positivo mesmo em adversidades. Inclusive, ele próprio é um grande fã da produção musical brasileira e, além de ter conhecido Maria Gadú pessoalmente, escuta Milton Nascimento, Caetano Veloso e Seu Jorge. Não vai demorar muito até que ele volte para o País: já tem planos para passar por aqui em 2024.

“Tudo isso se resume no título do álbum, que vem da letra de uma das músicas. O passeio místico, mágico, rítmico e radical é, basicamente, a vida. Dizer só vida é muito curto, mas ‘Mystical Magical Rhythmical Radical Ride’ é algo longo, que engloba tanto e nos dá a oportunidade de experimentar a vida. É isso que eu percebi que esse álbum está tentando fazer.”