
C. Tangana | Foto: Rocio Aguirre
Ser apenas músico não basta para Antón Álvarez Alfaro, mais conhecido como C. Tangana. Multifacetado, o artista espanhol criou seu próprio universo e quer fazer dele o que bem entender, seja na música, na moda, com sua marca de roupa Late Checkout, e no audiovisual, com a produtora Little Spain. No auge dos seus recém completados 31 anos, o rapper, cantor e compositor, conhecido por diversos gêneros musicais como trap, pop latino, flamenco e reggaeton, ainda colhe os frutos de seu último álbum El Madrileño. O aclamado disco, que junta gerações e ritmos de vários países, ganhou uma apresentação no Tiny Desk, no canal NPR Music, e se tornou o mais assistido de 2021. A turnê mundial, que não passou pelo Brasil, impressionou pela qualidade, estética e storytelling. E alçou uma leva de músicos espanhóis que, de carona, tornaram-se conhecidos e ouvidos em todo o mundo.
Para o espanhol, a sua arte é um retrato da vida cotidiana e talvez seja por isso que seu trabalho ganhou êxito. “A minha inspiração é o que me emociona, mulheres que passaram pela minha vida. Todas as coisas que escrevo aconteceram comigo, importam para mim”, comenta em entrevista à Bazaar de Madrid, onde mora. Torcedor fanático do Celta de Vigo, clube da região da Galícia, C. Tangan voltou aos holofotes com a canção Oliveira dos 100 anos, para celebrar o centenário do time. Sucesso absoluto. Além de escrever e interpretar a canção, o artista dirigiu o clipe épico e cinematográfico da homenagem. “Gosto dessa ideia de começar a música com um conceito, com uma ideia para desenvolver, depois pensar nas imagens, produzir o vídeo, realizar, dirigir. É uma coisa que dá muito trabalho, mas eu gosto de ter o controle”, afirma.
Essa busca pela perfeição foi o que levou El Madrileño a dispensar o uso de elementos sonoros e DJs como substituição de músicos em cima do palco de seus shows, comportamento comum da indústria atual. O posicionamento é curioso, visto que Antón vem da cultura dos DJs, começou na música por meio do rap. Além da boa música, o que elevou a carreira de C.Tangana foi a internet. O artista reconhece que o espaço online garante uma visibilidade incrível para os artistas a curto prazo, sem ter que passar pelos filtros da imprensa, do rádio. No entanto, para ele, essa busca pelo reconhecimento deve andar lado a lado com a qualidade. “O que me parece errado é que o espaço deveria ser para fazer músicas mais bonitas ou que mais pessoas gostem. Esse deve ser o principal motivo. Se você pensar o tempo todo sobre como as coisas funcionam no TikTok, no final, estará degradando a música”, reflete ele, que critica a rede social. “Quando vejo as pessoas nos vídeos, parece que elas estão fazendo papel de bobas. Eu não me tornei um músico para fazer essas coisas. Eu entendo que faz parte do mundo e talvez eu esteja ficando velho demais, cedo demais”, brinca.

C. Tangana | Foto: Rocio Aguirre
Mesmo sem nunca ter vindo ao Brasil, Antón possui uma ligação forte com o País. “Sou um grande fã do funk carioca. É a melhor coisa que está acontecendo na música urbana neste momento, há um nível de experimentação para mantê-lo puro, original e forte”. Além de parceria com Toquinho, na música Comerte Entera, ele possui uma outra com Mc Bin Laden na canção Pa Llamar Tu Atención. “Gosto de pensar que existem colaborações que nem consigo imaginar e que posso fazer em algum momento. O que alguns chamam de guilty pleasure, pretendo quebrar isso, dizer em voz alta para não haver mais culpa. Essa maneira de fazer música tem me levado a ótimos lugares”, diz o artista que conseguiu unir Gipsy Kings, Omar Apolo, José Feliciano e Jorge Drexler em seu último disco.
C. Tangana confessa que tem conversado com o cantor uruguaio, que tem shows marcados no Brasil em novembro, sobre finalmente vir ao País. “Meu colega Jorge me incentiva muito. Ele tem uma comunidade muito grande no Brasil. Ele é muito fã do Caetano Veloso. Bom, nós dois somos. Também tenho conversado com o Toquinho sobre essa visita”, comenta o espanhol, que afirma ter certeza de que se apaixonaria pelo Brasil. “Sinto que tenho uma dívida. Eu não sei quando vai acontecer a visita, mas tem que ser logo”, afirma.
Enquanto a vinda não está na agenda, Antón segue trabalhando na parte de direção com seu sócio, Santos Bacana, na produtora LittleSpain. De acordo com ele, alguns trabalhos vão começar a ser divulgados a partir de setembro. “Tem mais a ver com me ver na tela do que me ouvir, mas sempre há música. A turnê também é um projeto importante dentro do que está por vir, haverá notícias sobre isso”. A proposta deste trabalho é jus- tamente unir todo o seu repertório artístico. Há uma sinergia entre as suas colaborações com a produtora, o cinema e as telas. “Tenho a ambição de ser um artista acima de um cantor de música urbana. Então, uso tudo o que tenho ao meu redor”. E faz isso sem nenhuma moderação, para nossa sorte.