Não há nada mais relaxante do que uma voz didática falando em francês e o ensinamento do que todo mundo está tão ferrado quanto você. Ou talvez este seja só a minha maneira de olhar para as coisas. Mesmo assim, foi exatamente por isso que eu pulei na oportunidade de assistir o documentário “Dopamina – Os Efeitos das Redes Sociais no Cérebro”, uma produção do ARTE France que está sendo lançado pelo canal Curta! aqui no Brasil – e que você pode a qualquer momento na plataforma de streaming Curta!On. Ele conta exatamente o que o título indica: como as redes sociais entregam dopamina para o nosso cérebro e como isso virá um vício horroroso que devíamos lutar contra.
No começo, achei que ia deixar os fatos contados passar de uma maneira bem normal. Seriam informações interessantes sobre como o mundo está viciado em si mesmo e é isso. Mas eu não me incluía nisso. Me orgulho do fato que nunca fui uma pessoa tão ligada com redes sociais – entrei no WhatsApp só durante o ensino médio por obrigações escolares e meu Instagram pessoal foi criado só aos dezoito anos (tinha apenas fanpages para séries, filmes e musicais antes disso). Não sou tão ligada a me mostrar. Ou, pelo menos, é isso que pensava.

Cena do documentário “Dopamina – Os Efeitos das Redes Sociais no Cérebro” – Foto: Divulgação
O negócio é que, para ser alguém hoje em dia, você tem que se mostrar. Não tem mais essa de ficar por trás das câmeras porque todo mundo tem uma câmera na palma da mão. Atores tem que ter uma quantidade mínima de seguidores para sequer fazer audição para projetos, por exemplo. Entramos naquele episódio de Black Mirror com a Bryce Dallas Howard. Você sabe qual estou falando. Aquele do mundo todo em cores pasteis em que as redes sociais definem o seu valor na sociedade. É horrível falar isso, mas é verdade. E como chegamos a esse ponto? Bom, o documentário argumenta que é pela dopamina que as redes sociais liberam no cérebro.
De novo, achei que esse fato não se aplicaria a mim. Na última semana, percebi que estou também, assim como o resto do mundo, totalmente perdida nesse vórtex hormonal da internet. Eis o que aconteceu: estava querendo ser alguém porque, bom, morro de medo de fracassar. Quero ser uma escritora de romance e roteirista e, para isso, tenho que arranjar leitores. Você pode até argumentar que isso viria naturalmente – que, lançando livros e escrevendo o máximo que consigo, já me daria algum tipo de abertura com o que potencialmente chegaria a ser meu público. Sim, acho que se certa forma isso pode ser verdade. Mas vamos encarar os fatos: eu não me dou bem com a incerteza e vivemos numa sociedade em que não ter uma presença online é quase uma anomalia. Lembra do que eu disse sobre os atores? Pois é.
Sempre fui uma pessoa do Twitter (ou X, se você gosta desse tipo de coisa). Lá funciono sem esforço e até consegui achar uma comunidade que não me acha uma aberração ambulante (em outras palavras: me acham engraçada). Lá está tudo certo. Postar no Instagram, na minha humilde opinião, é o inferno na terra. Me desculpa se isso parece ofensivo, mas o fato de que 99% das pessoas lá querem vender uma vida perfeita me enoja. É tudo tão falso. O problema não é a plataforma, e sim as pessoas. Não sei ser falsa a esse ponto – e não vejo isso como algo bom para mim! Queria poder parecer que está tudo perfeito a toda hora e postar selfies e mais selfies com um sorriso no meu rosto, mas não é realista. Às vezes, a vida é uma merda. Enfim, isso não chega a ser um problema. Deixo o Instagram ser o Instagram, quando bate a vontade de postar alguma bobagem ou foto esteticamente agradável, faço.

Cena do documentário “Dopamina – Os Efeitos das Redes Sociais no Cérebro” – Foto: Divulgação
Chegamos no TikTok: eu amo. Sou totalmente obcecada em perder horas da minha madrugada vendo vídeos. Recentemente, decidi eu mesma tentar produzir conteúdo para lá. Acabou que virei um bicho louco e obcecado. A dopamina que a voz francesa relaxante estava explicando para mim bateu com tudo. Faço uns vídeos meio bestas, meio aesthetic (assim como no Instagram), mas lá é divertido. E, meu deus, me dão atenção! Não há nada melhor do que atenção. Todo mundo gosta de ser apreciado e lá, por algum motivo, uma pequena parcela de pessoas me apreciam. Ou seja, é claro que eu ando checando as notificações com uma frequência quase insana. Vou ser honesta: fiquei até tarde outro dia esperando um TikTok meu chegar em 10 mil visualizações. Horrível.
Bom, é isso. É nesse ponto da história que estamos. Não tenho finalização grandiosa ou algum aprendizado genial para te dar. O documentário entrega diversos fatos científicos e interessantes, o indico. É bom se informar do quão ferrados todos estamos. Ainda mais com uma voz didática francesa. Fora isso, não tem muito o que fazer. Chequei as notificações do meu celular pelo menos umas dez vezes enquanto escrevia esse texto. Fato vergonhoso que não vou esconder de você (talvez deveria, se fosse me adequar as etiquetas de perfeição do Instagram). O mundo está perdido dentro das redes sociais – você e eu somos apenas mais um mínimo fator dentro de uma esfera gigante demais para ser destruída. Talvez ela se autodestrua um dia. Gosto de imaginar uma discussão no futuro em que viro para você e digo: “se lembra daquele tempo bem louco em que éramos viciados em contar quantas pessoas haviam curtido uma foto nossa? Que bom que nos livramos dessa”.