Por Carollina Lauriano
As “coreografias do impossível” são tema da 35ª Bienal de São Paulo, que abre suas portas nesta quarta-feira (06.09). Sob curadoria de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, o coletivo busca ecoar vozes diversas. Em cartaz gratuitamente até 10 de dezembro, no Parque Ibirapuera.
Além de pertencer à lista de curadores da edição, Diane faz parte de um grupo essencial para a revisão da história da arte: a pesquisadora é uma das mulheres negras que ocupam cargos de destaque e tomadas de decisões que incentivam a inserção de novas formas de se pensar e organizar exposições, dada a incorporação de pessoas racializadas em cargos estratégicos dessas instituições.
Às vésperas da estreia da nova edição da Bienal de São Paulo, Bazaar conversou com Diane e apresenta mais detalhes de sua trajetória, pesquisas e práticas. Leia:
Quando questionada sobre como a curadoria se estabelece como uma prática em sua vida, Diane Lima referencia um ensaio elaborado para o catálogo da 35ª Bienal de São Paulo. No texto, a curadora nascida em Novo Mundo, cidade do interior da Bahia, retoma uma imagem da reprodução do quadro de “Monalisa” que esteve presente durante parte de sua vida, como decoração da casa de sua família.
Diane conta que ao pensar sobre o papel da imagem no imaginário social, há uma constatação da reafirmação de uma história e seus cânones. Assim, a prática curatorial se firmou, para ela, como um lugar de fuga de uma história ocidental, projetando quais outras formas e perspectivas de compreensão da história da arte, valorizando outros saberes que estiveram relegados a uma compreensão linear de produzir registros históricos.
Mestra em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, interessa à curadora pensar a prática curatorial e suas relações com a memória e os significados da cultura imagética para referenciar práticas ancestrais, nos levando a pensar sobre, não só onde esses conhecimentos estão refletidos em nossa sociedade, mas como eles revelam marginalização de processos e epistemicídios. Ao estabelecer essa reflexão tanto poética, quanto crítica, surgiu, inclusive, o projeto “Afro-T”, uma plataforma de produção e difusão de conhecimento afrocentrado, que pensava a memória como lugar de criação.
Dessas experiências pautadas na investigação da impossibilidade de certos corpos ocuparem certos espaços, Diane vem criando métodos performativos para tentar escapar da violência, sempre que for possível – citando a professora de literatura inglesa e estudos negros Christina Sharpe. Ao longo de sua fala, a curadora também traz outras tantas citações de pensadoras negras, afirmando a importância do feminismo negro como uma força motriz questionadora e toda sua contribuição em repesar linguagem e representatividade. Não é à toa, Diane também inscreve sua prática na escrita, colaborando para essa elaboração de memórias. Ainda este ano, a curadora e escritora lança o livro “Negros na piscina: arte contemporânea, curadoria e educação” (Editora Fósforo), reunindo diversas gerações de curadores, entre outros agentes da cultura, negros para falar de suas práticas nesse campo, mais uma forma que Diane atua para que as dificuldades do impossível não vençam a beleza do cotidiano.