Giuliana Braide fundadora e diretora criativa da HIST – Foto: Divulgação

O nome da marca fundada por Giuliana Braide já anuncia sua visão criativa sobre a label: HIST é um acrônimo da frase “how I see things”, em português “como enxergo as coisas”. Além de um certo clichê sobre olhar o mundo com os olhos amadurecendo, a expressão nasceu no Tumblr da designer, onde, com o mesmo nome, ela se aventurou nos universos estéticos escondidos na comunidade e começou a criar a sua versão pessoal. Nesta semana, Giuliana se prepara para seu aguardado début nas passarelas do São Paulo Fashion Week.

Em entrevista para a Bazaar, feita duas semanas antes de sua estreia, a designer fala sobre o nervosismo e, também, o sonho que envolve seus primeiros passos no maior evento de moda da América Latina. Aos 26 anos, dois de marca e uma loja física, Giulia conta que está com os nervos à flor da pele, mas tentando se lembrar de manter a calma e respirar pelo seu time. “[A oportunidade] veio em uma hora muito boa para mim. Me encontro em um momento mais espiritual, madura e holística, em que consigo parar e agradecer pela oportunidade”, acrescenta.

Aliás, os passos estratégicos da Hist podem ser creditados ao rico background em negócios que a designer tem em seu currículo. Formada em um BBA (Bachelor of Business Administration), não só a parte criativa, mas também a administrativa e o lado de empreendedora sempre foram coisas que a fascinaram. “A sensação sobre a estreia é de felicidade, é uma realização geral para todo mundo, estamos entendendo também, como uma marca jovem, como entregar a melhor estreia que conseguimos, dentro do tempo e dos recursos disponíveis”, comenta.

Há também uma simbologia interior muito importante para Giulia, que, aos 12 anos, tinha um blog com sua irmã, por onde comentavam os desfiles do SPFW. “Quando me perguntam sobre o sentimento de estar no SPFW, só lembro da Giuliana tirando print dos desfiles e fazendo review das trends. A primeira coisa que minha mãe falou foi: ‘Minha filha, lembro do meu tablet que só tinha print de desfiles. E agora você está lá'”, lembra com carinho.

Sua infância e amadurecimento pessoal são um assunto recorrente, não apenas sobre como sua paixão por moda desabrochou em uma carreira bem sucedida. Em Fortaleza, ela comenta que nasceu em uma bolha muito específica, que nutria expectativas sobre feminilidade e alimentava um estereótipo feminino ideal. Giuliana sente que nunca conseguiu entrar nesse molde e lembra que, esporadicamente, furtava peças do armário de seu pai. Com o tempo, foi encontrando sua expressão pessoal, unindo estilo e personalidade. A HIST também aparece como uma catalisadora desse momento interior de autoconhecimento.

“Fui me encontrando entre não me sentir confortável nessa realidade, não era quem eu sou. Mas ao mesmo tempo tenho raízes cearenses maravilhosas. É uma questão de conseguir extrair o melhor e aplicar no meu estilo hoje”, defende.

Giuliana Braide fundadora e diretora criativa da HIST – Foto: Reprodução/Instagram/@hist____

Existe uma relação delicada entre ser mulher e ter uma marca de streetwear no Brasil, um espaço muito dominado por homens. A HIST começou penetrando a bolha fashionista, mas quando elevada a uma marca comercial, ela precisa sair desse nicho específico, algo que, principalmente com o SPFW, a designer sente que está conseguindo fazer. Ao seguir um pouco do fluxo das tendências internacionais, a meta é estimular o desejo por meio de peças versáteis.

“Sobre ser mulher no streetwear, senti a maior diferença neste ano, quando conseguimos penetrar essa bolha. Antes era muito mais o pessoal de moda, agora o pessoal de street também começou a reconhecer a marca. São bolhas diferentes e fico sambando ali no meio, mas gosto disso. Não me assusta, me empodera”, explica.

A marca ganhou uma grande visibilidade online graças a seus acessórios certeiros, como um recente desejo fashionista: as bolsas com o corte na forma da letra “H”, elemento expressivo na estética visual da HIST, que se tornaram um dos primeiros acessórios de grande rentabilidade da marca.

Depois disso, eles aprimoraram a área de acessórios, com foco em pequenos luxos e em uma experiência interativa para consumidor. Como em outras grandes do streetwear, a HIST promove eventos em loja, como happy hours que aproximam a etiqueta do público em geral.

HIST – Foto: Reprodução/Instagram/@hist____

Giuliana viveu uma imersão na cultura street quando morava no Brooklyn, em Nova York, período que lhe possibilitou entender o conceito da subcultura e o que significavam as modelagens e acessórios. Sua estreia no São Paulo Fashion Week vêm com um olhar mais amadurecido e prático sobre seu trabalho em uma amplitude maior.

Em meio a um burburinho midiático, iniciado no anúncio da estreia, a coleção apresentada, intitulada “Voyeur”, leva a ideia de pontos de vista, tradução literal do conceito principal da marca, para a passarela.

Do francês, “voyeur” pode ser traduzido para “aquele que vê”, o que descreve alguém que gosta de observar e até capturar momentos privados despercebidos. O anúncio da participação na semana de moda tem uma estética semelhante a de vídeos captados por câmeras de segurança, aquelas que tudo veem. Não é sobre o blasé de passar despercebido, é o comprometimento em contemplar a imagem completa. Um spoiler exclusivo para a Bazaar? O famoso POV da geração Z viaja até as passarelas do SPFW com a HIST.