Foto: Misan Harriman

Nia DaCosta é dessas diretoras da nova geração que está interessada em contar histórias diferentes, que geralmente não foram retratadas nas telinhas ou telonas. Pelo menos, até agora. “O ponto em comum entre as histórias é que há sempre algo interessante sobre a humanidade ou sobre a pessoa que quero me aprofundar. Normalmente, há um quebra-cabeças nesses personagens sobre os quais estou curiosa”, conta à Bazaar. Por outro lado, Nia também está afim de fazer grandes projetos, caso de As Marvels (Disney Studios), marco do universo cinematográfico geek, que chega às telonas nesta quinta-feira (09.11).

Com três protagonistas mulheres e de diferentes gerações, estão no elenco Brie Larson (Carol Danvers), Iman Vellani (Kamala Khan) e Teyonah Parris (Monica Rambeau). “É divertido explorar o poder através desse prisma”, acrescenta, afirmando que elas são diferentes entre si, mas têm similaridades com suas personagens. “Brie tem muito dessa coisa de liderança, verdadeiramente intensa sobre ser boa, prestativa e que todo mundo se divirta. Iman é a mais nova, nerd do universo Marvel, esperta demais para a sua idade, divertida e maravilhosa. Enquanto Teyonah é estudiosa, detalhista, e engraçada. Foi ótimo dirigi-las, amplificando suas personalidades, e acrescentando camadas ao universo dos super-heróis”.

Iman Vellani, Brie Larson e Teyonah Parris (Foto: Laura Radford/Divulgação)

Nia gosta desse balanço, um blockbuster aqui, um longa indie ali. Acrescente um terror no meio do caminho. “Os filmes que costumo escrever ou os shows para a TV são totalmente diferentes”, explica. Mas a humanidade é sempre esse denominador comum, vide A Lenda de Candyman (2021) e até mesmo Hedda, sua próxima produção baseada na peça de teatro do dramaturgo Henrik Ibsen. O que muda, para ela, é apenas o tamanho. “Às vezes, nem eu mesma sei no que estou interessada (risos). Pode ser que eu sinta que há algum lugar para onde ir, algo a dizer, explorar e descobrir”, diverte-se.

Para As Marvels, houve muita preparação. Assistiu a todos antecessores da sequência, como Capitã Marvel, Ms. Marvel, WandaVision e até mesmo Vingadores: Invasão Secreta e Ultimato. Mas para entender o seu longa não vai ser preciso revisitar as franquias. “Li todos os roteiros, assisti aos episódios (das séries) como parte do processo, mais porque gosto. Mas você pode assistir sem precisar rever nada, a não ser que você seja um verdadeiro completista (termo usado no videogame para quem não pula nenhum nível)”, brinca. No longa, motivo de orgulho são as cenas de ação, território novo para ela – ainda mais com a ajuda de efeitos especiais. “Descobrimos isso juntos. Com a Monica, e sua jornada de aprender como usar seus poderes, veio de muitas conversas entre mim e Teyonah a fim de ter uma ideia muito clara do que ela queria que esse personagem passasse”. Para ela, a equipe só ajudou a melhorar sua visão de um jeito técnico.

Iman Vellani com a diretora Nia DaCosta da Marvel Studios (Foto: Laura Radford)

Das suas referências pululam nomes (óbvios, ela sabe) de atmosfera setentista dos thrillers americanos, caso do americano Martin Scorsese, a quem ela diz saber dosar as histórias mainstream e as menos óbvias – e apesar de ele ser conhecido por seus filmes de gângster, também se embrenhou pela comédia. “Ótimo guia”. Ao mesmo tempo, sabe da importância de ser uma voz ressonante em um universo majoritariamente masculino. Sendo uma diretora negra, retratando outra mulher negra como heroína na tela e mais uma paquistanesa, ela sabe o seu valor. “Reunir mulheres negras é algo que sempre quis, porque amo meus filmes de Scorsese e de (Sidney) Lumet, mas sempre quis que mais mulheres negras fossem retratadas neste tipo de aventura. É realmente ótimo poder fazer isso em escala”. Toda vez que se esquecia desse aspecto, Teyonah fazia questão de lembrá-la. “Para ela, é seu corpo e rosto. Ela, sim, é a verdadeira face do projeto”.

Quando questionada se tinha um ritual para entrar no mood, ela sorriu, e disse que tem um hábito sem a intenção. Sempre assiste ao longa Apocalypse Now (1979), de Francis Ford Coppola. “É tão audacioso, que amo. Faz você se sentir confiante, capaz de fazer qualquer coisa”, elogia. E para se despedir do set, dá um “Ok, tchau, até logo” e encerra as filmagens. “Não tem o que fazer. Já me centro no próximo projeto”, ri. Do Brasil, ela se desculpa por conhecer referências óbvias, como Cidade de Deus e, mais recentemente, a música de Cartola – a qual foi apresentada por um amigo. Deve visitar o País em breve, e quer dar um mergulho na cultura local. E se Nia pudesse ter algum poder, ela com certeza não escolheria nenhum de suas heroínas. E, sim, controlar o tempo, como a Tempestade de X-Men. Mas esse é papo para outro filme…

Foto: Misan Harriman