Camila Yunes Guarita, da Kura, e Lucas Recchia, no novo espaço, em SP (Foto: Igor Reis)

Lucas Recchia abre as portas de seu novo estúdio, no Jardim Paulistano, na capital paulista, em uma parceria com a Kura (consultoria de arte fundada por Camila Yunes Guarita). Nesta quarta-feira (22.11), também vem à público a exposição Distorção Material, que estreita as fronteiras entre arte e design. O designer apresenta a mais complexa coleção de sua carreira, com técnicas, materiais e tipologias inéditas, em diálogo com importantes nomes como Abraham Palatnik, Tunga e Marília Kranz. A seleção de obras de arte que integram a exposição evidenciam a força e a pluralidade da arte contemporânea brasileira.

Conhecido nacional e internacionalmente por seu mobiliário feito de vidro fundido, o designer amplia os recursos técnicos na nova coleção e introduz o uso do bronze. O título da mostra faz referência à maneira de trabalhar os materiais e à relação “fenomenológica” que as peças estabelecem com o espaço. “Meu trabalho parte de uma ideia inicial e vai se transformando ao longo do processo, com surpresas visuais geradas pelas reações químicas. O termo ‘design experimental’ surge dessa postura de estar constantemente experimentando, suscetível às mudanças, até chegar ao resultado”, reflete o designer. “A arte tem forte relação com o design. Neste projeto, buscamos explorar os cruzamentos e entrelaçamentos entre estes dois mundos. O Lucas é um jovem designer que busca muita referência em arte para criar. Há uma identidade muito única e autoral nas suas peças”, complementa Camila.

Foto: Ana Pigosso

Recchia transforma as folhas de vidro colorido ao recortá-las, empilhá-las e levá-las ao forno, o que resulta em mais espessura e superfícies sutilmente arredondadas, além de pequenas bolhas. O bronze, por sua vez, é fundido em moldes para formar molduras para os vidros, e depois passa por processos de oxidação que criam pátinas de cores e texturas distintas e sempre únicas. Quando são atravessadas pela luz, o desenho das peças reverbera no ambiente na forma de luz colorida contida pelas sombras do metal.

Uma consequência da nova fase da produção de Recchia é a diversidade de dimensões e tipologias, permitido pelo trabalho com peças modulares – são quatro no total, que o designer vai conectando de modo a formar cada móvel ou objeto. Além das mesas laterais – encontradas com recorrência em suas coleções anteriores –, há vaso, lustre, bandeja, mesa de centro, espelho e luminária. Na bandeja, Recchia experimenta em alguns dos módulos a inserção do couro de arraia, material raro que importa da Tailândia com certificação.

Foto: Ana Pigosso

Interessado por história da arte, grande parte de suas referências vêm desse universo e encontram eco no design colecionável e na produção de pequenas tiragens. Neste sentido, a Kura propõe, para a inauguração, obras que valorizam os materiais e técnicas empregadas por artistas de movimentos, pesquisas e gerações variados – o que resultou no diálogo entre artistas históricos – como Paulo Roberto Leal, Tunga e Pietrinna Checcacci – e jovens e promissores artistas – como Fran Chang, Rebecca Sharp e Vivian Caccuri.

Nas pinturas de Pietrinna Checcacci e Marilia Kranz, os volumes escultóricos e quase palpáveis conversam com a estética circular das peças de design, enquanto as obras de Tunga e Vivian Caccuri extrapolam os materiais tradicionais e experimentam com aço, algodão, ferro, ímã e ardósia, por exemplo. São obras que, de alguma maneira, adotam usos subversivos da matéria, em ressonância com o título da mostra. Após período de exposição no Brasil, as peças serão expostas em Paris, cidade com um movimentado circuito de design autoral e colecionável no mundo.


SERVIÇO

Distorção material
Local: Rua Maria Carolina, número 692 – Jardim Paulistano
De 22 de novembro a 3 de dezembro. De seg. a sáb., das 14h às 19h.