
Foto: Mário Bock
Durante esta semana, acontece a Boogie Week, que encerra no sábado com um festival de música aberto ao público (veja a programação). Um dos mais novos festivais de celebração à música, arte e cultura negra de São Paulo tem uma série de ações dedicadas às artes visuais, negócios da música, aos 50 anos do Hip Hop e mais. À frente da organização está a CEO da produtora Boogie Naipe, Eliane Dias. “Quero que as pessoas se sintam respeitadas e felizes por serem quem são. Essa é a base da Boogie Week”, conta a idealizadora do projeto.
O evento acontece no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, no Ibirapuera, e tem programação até sábado, quando se encerra na Arena de Eventos do parque com o festival de mesmo nome, e line-up variado. Entre as atrações, estão MC Carol, Linn da Quebrada, Pixote, BK, TZ da Coronel, Duquesa, Yunk Vino, th4ys, Danzo, Mc Luanna e Bebé. O festival também terá a presença do cantor americano October London, que fará sua primeira apresentação no Brasil, com produção executiva de Mano Brown. Os ingressos já estão disponíveis e podem ser adquiridos por meio da plataforma Sympla. Leia a seguir a entrevista, na íntegra, com Eliane Dias.
Quando, de fato, vocês começam a pensar na Boogie Week?
O processo de criação da Boogie Week em 2016, realizando um mapeamento global dos principais festivais temáticos da cultura negra, passando pela África do Sul, Estados Unidos e América Latina. Avaliamos não somente a curadoria artística, como também toda a estrutura técnica e a experiência geral do público.
Acaba uma e a outra já começa a ser pensada?
Quando acaba uma Boogie Week, a gente já está pensando em outra. Acaba no final de novembro, chega dezembro e estamos exauridos – todo mundo está querendo dar uma respirada. Vem janeiro, o carnaval, e aí em março a gente recomeça. Estamos tendo um grande enfrentamento que todos os investidores e patrocinadores estão interessados em patrocinar os grandes festivais, e deixam a gente na cota, o que é errado.
Deixam os festivais menores na cota racial, e sendo assim, os valores que vem para gente é um valor menor. Ficam esperando que a gente tenha tudo certinho, para depois oferecer um valor – que é sempre bem-vindo –, mas a gente tem que correr muito atrás. Os grandes investidores, as grandes marcas, devem olhar para os festivais que são tendência e mostram a tendência. A gente tem o Som das Ruas, a própria Boogie Week, o Afropunk, o Coala, que trazem a tendência e a gente precisa ter o mesmo valor de investimento que os grandes festivais que trazem 70 mil a 80 mil pessoas por dia.
Qual o ponto de partida para definir as atrações?
A Boogie Week é um xirê (palavra iorubá que significa roda), ele começa do mais velho e termina no mais novo. (Nossa ideia) é homenagear uma pessoa mais velha que contribuiu com a cultura negra. Então, nós tivemos no ano passado como homenageados a Lei de Zu e o Carlos da Fé, anteriormente a gente teve o Pitanga. É esse griô (antepassado) ser reconhecido como uma pessoa que contribuiu para a cultura negra. O ponto de partida é sempre o mais velho, dar carinho, dar colo, conforto e reconhecimento para o mais velho, e a gente vai indo até chegar ao mais novo. Neste ano, a gente fará uma exibição de filme para os jovens de uma escola que, infelizmente, tem crianças que moram em São Paulo em palafitas. O ponto de partida é o carinho é o amor é o respeito.
E qual você acredita ser a sua maior assinatura neste evento? Qual a maior conquista do ponto de vista de quem está no comando de um festival deste porte?
A Boogie Week só tem um propósito por enquanto, é a gente acolher, agradecer, dar visibilidade, mostrar tendência, se reconhecer e se gostar. Esse é o maior propósito. Claro que eu quero ganhar dinheiro com isso no futuro, mas ele nasceu com o propósito de reconhecer, de ser um espaço em que a gente pode ser abraçada, poder se beijar, ter os nossos interesses, simplesmente estar junto. A gente gosta de ficar junto. A gente não gosta de cara feia, a gente não gosta de ser maltratado, a gente gosta de sorriso e de ficar junto. O propósito é esse.
Neste ano, o Hip Hop completa 50 anos… tem um peso maior? Qual a importância para você desta celebração?
Se falar que não tem peso, vou estar mentindo porque está todo mundo falando a respeito. Tem um peso maior porque nós temos pessoas que chegaram e fizeram, estão trazendo essa música e querem que seja reconhecida e respeitada como uma ópera, por exemplo. Além de estar todo mundo falando e entendendo o que é Hip Hop, estamos entendendo, também, quem são essas pessoas. Porém, ainda é preciso ter mais mulheres no hip hop.
Quando as pessoas estiverem lá no evento, quando poderá dizer: ok, dever cumprido? Vai dar tempo de tirar o crachá em algum momento e curtir?
Não vai dar tempo de tirar o crachá e curtir, mas o dever estará cumprido quando eu olhar e ver pelo menos 10 pessoas sorrindo.
Algo que não perguntei e gostaria de acrescentar?
Acho que deve ficar a reflexão que a gente gosta de ser bem tratado nos lugares, que só uma cara de arrogância, já faz com que o festival inteiro seja estragado, eu fui e vou a muitos festivais e, às vezes, a pessoa que está recepcionando não fala nada. Ela só é arrogante e a gente consegue perceber isso e ela estraga todo festival.

Foto: Mário Bock