
Azulik Uh May, complexo criativo em Tulum, México – Foto: Divulgação
A visão ecológica que está por vir, defende o filósofo britânico Timothy Morton, não é a imagem de um objeto delimitado, mas uma vasta e extensa malha de interconexões sem centro nem contornos definidos, que promove a coexistência com outros seres, sencientes ou não. Tal ligação multidisciplinar nos aproxima do pensamento de criativos que constroem espaços profusos, que dão vazão a propostas artísticas que integram diferentes ideais. Este é o caso do argentino Eduardo Neira, conhecido como Roth, fundador do eco-resort Azulik e do complexo artístico transdisciplinar Azulik Uh May, espaços que têm levado entusiastas das artes e de um lifestyle alinhado com o meio ambiente ao delírio.
Localizados em meio à Floresta Maia, em Tulum, no México, a chamada Cidade das Artes reúne arte contemporânea e laboratórios criativos de moda, design e arquitetura. “Um espaço construído localmente que tem relevância para além da espécie humana e é norteado por conhecimentos ancestrais à luz da contemporaneidade”, explica o curador Marcello Dantas, diretor artístico do SFER IK, museu que tem reunido ao longo dos últimos três anos obras site specific que reforçam a relação com o meio ambiente. De acordo com Roth, a proposta do espaço é de sempre relembrar de onde viemos e qual a nossa origem, nossa fonte. E essa fonte, reafirma o fundador, é a natureza. Entre as instalações que ocupam a ampla e orgânica construção, criada e executada pelo escritório de arquitetura comandado pelo próprio fundador, o Roth Architecture, está a criada pelo carioca Ernesto Neto. Chamada “Cada árvore é uma entidade civilizatória”, a obra sustenta em seu centro uma árvore de 7 metros feita em crochê e algodão delicadamente tramados. A partir dela, uma malha de interligações do mesmo material se alastra, instigando-nos a refletir sobre a pujante natureza brasileira e também sua constante ameaça em ser desmatada.

Ana Carolina Ralston – Foto: Divulgação
Próximo dali, encontramos a instalação “MEXX”, do japonês Azuma Makoto. A obra entrelaça o uso de matérias-primas locais à já reconhecida expertise do artista com plantas e flores. Mundialmente conhecido por ações artísticas que movem o universo ambiental, como o envio de um Bonsai para o espaço, Makoto criou alí um magnético organismo onde promove um encontro biofílico entre diferentes plantas de todo o México. A união de distintas espécies, que costura o discurso apresentado por Dantas, fica ainda mais claro na recente instalação “Mama”, uma colaboração entre a francesa Marlène Huissoud e as abelhas Melipona, nativas da Península de Yucatán. O biotrabalho envolve a vida selvagem como participante ativa no processo de criação artística para reforçar os imperativos climáticos e sublinhar o potencial de interconexão humana com a natureza na arte contemporânea. “O projeto como um todo é uma grande pesquisa”, pontua Dantas. “Os artistas residem no complexo para desenvolver uma ideia com materiais locais e por meio de habilidade desenvolvidas pela comunidade. Um intercâmbio de conhecimento.”
Como relembra o Morton, “a arte é o espaço no qual uma sociedade consegue tornar visível o que ela não consegue confessar, pensar ou imaginar”. E dessa forma, as experimentações de Roth, Dantas e uma potente equipe criativa que conduz o Azulik Uh May não param por aí. Para além do SFER IK, múltiplos espaços desaguam pelos arredores do museu como parte do FabLab, um laboratório criativo que mistura arte e artesanato produzidos com conhecimentos Maias ancestrais, atrelado ao design contemporâneo e às novas tecnologias. Sistemas construtivos, impressoras 3D e uma vasta gama de maquinários e salas para experimentação de novos materiais tecnológicos se fundem em uma sinergia de construção e desenvolvimento, integrando criadores de diferentes partes do mundo para promover um pensamento inovador. E as extensões criativas não devem parar por aí, adiantam Roth e Dantas. Projetos de expansão de construções integradas à natureza da região, assim como instalações de artistas como Mona Hatoum e Tomás Saraceno estão a caminho.
Enquanto isso, seus visitantes podem descansar no paradisíaco eco-resort Azulik Tulum, a 25 minutos de carro de Uh May, e onde todas as mirabolantes ideias de Roth tiveram início. Com uma instigante arquitetura biomórfica, o local foi construído para que seus hóspedes se sentissem levitando em meio à floresta e ao mar. O hotel-santuário virou referência quando o assunto é autocuidado, já que promove experiências de conexão interior, com a natureza e também e com a cultura ancestral Maia por meio de rituais – que já começam logo na chegada ao local, com uma consagração de boas-vindas – e um longo menu de massagens e cerimônias. Restaurantes, bares e música regam as noites dos hospedes, sempre com vista privilegiada para o belíssimo mar do Caribe. Impossível não sucumbir ao que Roth chama de “Clã”.