A coleção de estreia da Herchcovitch; Alexandre na Casa de Criadores (Foto: Zé Takahashi)

Já são trinta anos desde que debutou nas passarelas e Alexandre Herchcovitch continua um dos maiores mistérios na moda brasileira… literalmente. Pergunte para cada uma das centenas de pessoas que estiveram ontem em seu desfile de estreia na Casa de Criadores, e escute, pelo menos, cem pronúncias diferentes de seu nome. Esse tipo de dúvida absurda –hilária e muito sintomática do “fashionismo brazuca” – faz parte da aura que transformou o estilista em uma figura quase mítica. Não é chic? Ou melhor, Herchco-chic?

O que Johnny Luxo, que desfilou um dos looks, chamou de “babado”, eu chamo de nababesco. Entrar na sala do desfile, um pouco atrasado, foi um deleite para os olhos, seguido de vários acenos e sorrisos. Tenho dito: a moda nacional vive uma crise na primeira fila e são poucas as marcas que sabem driblar a situação. Não me entendam mal, porque não é preciosismo. Acredito mesmo que (quase sempre) há espaço para todo mundo – ou você acha que ninguém se espreme em Paris? É apenas curiosidade em saber o que tanta gente anda tomando para achar que as fashion weeks são “programas” divertidos para fugir do tédio.

Claro, nem tudo é trabalho. A moda também existe para flertar com os olhos sem compromisso. Acontece que, hoje, virou desculpa para alguns aspirantes a enturmados levantarem os celulares e filmarem tudo com o único objetivo de brincar de descolado nas redes sociais. Com Herchcovitch, a situação é diferente. Além do frisson que seu desfile causou antes mesmo de começar, a fila final não significou a hora de ir embora. Ao invés da saída, muita gente optou por se reunir no pátio externo e comentar, entre colheradas de açaí, o que havia rolado.

Enquanto o clima nos bastidores estava acalorado (um passarinho me contou, pelo menos), lá fora estava realmente calor. Por isso, talvez, os principais comentários tenham sido sobre a perfeita sintonia da coleção com a estação: tecidos coloridos, padronagens vibrantes e looks de neoprene, com ares de surf. Na observação astuta do photographer Alexandre Furcolin, a escolha do repertório praiano “lembrou muito peças da À La Garçonne”, marca em que Herchcovitch também é diretor-criativo. Os demais visuais vieram, igualmente, carregados da bossa do verão, mas não para todo mundo. Fabricio Santana, o it-manequim que cruzou a passarela, disse que achou um dos modelitos ideais para colocar na mala de viagem para a Escócia, destino invernal que elegeu para o fim de ano. “Não é perfeito?” – era uma alfaiataria cropped!

Sucesso, também, foram os acessórios e penduricalhos que surgiram na apresentação, em collabs-desejo: bolsas Ryzí, bonés New Era, chinelos Polo Go, joias Nart e almofadas Fom – uma opção criativa e meio gótica para descansar o corpo e a cabeça em uma versão Herchcovitchiana das férias de verão. Quem já descansou, aliás, foram as caveiras, emblema icônico no repertório do estilista que apareceu pouquíssimo nessa temporada, mas já mexeu muitos esqueletos fashionistas em coleções passadas. Agito, afinal, é especialidade de Alexandre.