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Stephanie Mayorkis é um dos principais nomes do teatro musical no Brasil. À frente dos grandes espetáculos de sucesso nas últimas décadas, seu mais recente trabalho é o musical Uma Linda Mulher, em cartaz no teatro Santander, em São Paulo, cuja montagem chega ao fim neste domingo somando 100 apresentações, e abocanhando um público de mais de 100 mil espectadores.
Com mais de 20 anos de carreira, passagem pela T4F, hoje comanda a EGG Entretenimento, sua própria produtora. A executiva guarda no currículo grandes feitos, como as primeiras montagens da Broadway em São Paulo, à la O Rei Leão, em 2013, e turnês do Cirque du Soleil. Seu próximo passo é “o maior desafio de sua carreira até agora”: a montagem de Priscilla – A Rainha do Deserto, com direção de Mariano Detry, direção musical de Jorge de Godoy, coreografias de Mariana Barros, cenografia de Matt Kinley e figurinos de Fábio Namatame. Estreia em maio, no teatro Bradesco, na capital paulista. No ano que vem, ela tem outra turnê do Cirque du Soleil com um passo maior: além de Brasil, vai visitar o Chile com a tour. O nome do outro musical ainda está mantido a sete chaves, e deve ganhar os holofotes apenas no início do próximo ano.
Tenista profissional até os 23 anos, quando parou de jogar, nos idos de 1990, ingressou na faculdade de Administração. Sua vontade era trabalhar com marketing esportivo, mas acreditava que existiam poucas oportunidades no setor. De lá para cá, a carioca – que chegou a ser a segunda melhor tenista do Brasil – trouxe para o entretenimento ao vivo a disciplina enquanto atleta. Mudou-se para São Paulo para fazer MBA na FGV/EAESP, trabalhou nos parques Playcenter e Hopi Hari, e logo se encantou pela indústria do faz de conta que acontece. “No entretenimento ao vivo, sonhamos com o nascimento de um projeto desde a idealização até compra dos direitos autorais, comercialização dos patrocínios e lançamento do produto com todo o planejamento de marketing exigido e produção”, detalha. “Este processo é muito rico e ver isto tudo se materializar depois alguns anos de planejamento é muito gratificante e mágico porque sobretudo mexe com a emoção do público”.
Além dos musicais e do Cirque, quer iniciar um trabalho voluntário que ajude jovens carentes a entrarem no mercado de trabalho por meio da cultura. Leia o papo:
Você trabalhou em montagens gigantescas, desde a volta dos musicais ao teatro até big produções – à la Cirque du Soleil. Tem alguma que te marcou para sempre, seja pelo desafio, seja pela experiência?
Eu diria que a primeira turnê do Cirque du Soleil, que produzi em 2011 foi muito impactante. Uma empresa global, ícone do entretenimento ao vivo mundial, como o Cirque du Soleil, me trouxe muitos aprendizados e desafios. Desde conhecer a cultura organizacional no headquarter em Montreal até o processo de posicionar a marca no Brasil e na América do Sul, além da enorme estrutura que temos de produzir para receber as turnês do Cirque por aqui. O desenvolvimento da relação com a Disney Theatrical Group, em 2011 e 2012, para conseguir convencê-los que o Brasil estava pronto para ter uma produção do porte de O Rei Leão igual à da Broadway, em 2013, em São Paulo também foi um processo incrível. Tivemos quase 1 milhão de espectadores em 20 meses de temporada.

Primeira montagem de “O Rei Leão”, em São Paulo, aconteceu em 2013 (Foto: João Caldas/Divulgação)
Como equilibra suas responsabilidades como produtora com sua vida pessoal?
Sempre fui workaholic e muito focada na minha vida profissional. E acho que isto veio da determinação e foco que minha vida de tenista me ensinou. Mas, diria que com o nascimento da minha segunda filha, em 2018, e a pandemia, tento hoje em dia balancear mais. Formei ao longo dos anos equipes maravilhosas e que confio totalmente. Isso me ajuda muito a ter mais tempo para minha vida pessoal e me sinto realizada em poder ter formado gente muito boa, que pode crescer e que segue ao meu lado há anos.
Você passou pelas principais produtoras de entretenimento. Hoje, quais são as principais queixas do mercado? A gente vinha de uma crescente antes da pandemia, você acha que isso mudou? Estacionou ou cresceu depois do lockdown?
O mercado de entretenimento ao vivo tem várias vertentes diferentes tais como shows, musicais, exposições, balés, teatro de prosa… Cada um tem suas especificidades e diferentes demandas. Mas, eu diria que um grande ponto é o fato de as produtoras locais não conseguirem ter escala suficiente para crescer em função do País ter uma renda per capta bem abaixo de mercados como Estados Unidos e Europa.
Ou seja, os grandes conteúdos, considerados AAA, acabam sempre dependendo da alta captação de patrocínio e atingindo somente a classe mais alta da população, em função dos ingressos serem caros por conta dos custos de produção, e com um percentual grande destes custos em dólar. Acredito que as pessoas e as marcas estão ávidas por experiências presenciais e que só o entretenimento ao vivo proporciona. O mercado está bastante aquecido pós-pandemia.
Além da indústria de entretenimento, quais são outras áreas que você se interessa? Digo, na vida pessoal. Tem algum hobby?
Amo jogar tênis, continuo treinando como amadora e jogo alguns torneios de primeira classe, interclubes etc. Adoro viajar, estar com os amigos, ficar com meus filhos e celebrar a vida.

Último espetáculo do Cirque no Brasil foi “Bazzar”, em 2022 (Foto: Andrée Lemire)
Você tem dois filhos… Eles pensam em se embrenhar pelo entretenimento? Já sente alguma aptidão dos dois?
Tenho um filho que irá fazer 18 anos em fevereiro e uma filha de 5 anos (Kim e Victoria, respectivamente). Ele está começando a demonstrar algum interesse pelos eventos, mas acho que se um dia seguir neste caminho será mais para o lado de festivais e música eletrônica. Além de tocar muito bem bateria e ser DJ nas horas vagas. Minha filha ainda é muito pequena, mas ama um palco (risos) Está sempre cantando, dançando e desenhando. Parece ter uma veia artística aguçada.Desejo que sigam um caminho onde possam ser felizes e realizados.
Como é a sua dinâmica no trabalho? Quando dá “sim” a uma produção, por onde ela começa?
Eu, normalmente, negocio os direitos de novos musicais e turnês do Cirque com cerca de três anos de antecedência. Fazemos o business case de cada conteúdo e, se fizer sentido, seguimos em frente. E aí vem sempre uma boa dose de risco “calculado” porque temos que dar o go ahead para a compra dos direitos e início da produção que demanda um nível alto de caixa antes de termos captado o patrocínio necessário e performado a bilheteria. Esta é uma grande diferença entre os pequenos e grandes promotores, o tamanho do risco que você pode assumir é maior, porém o retorno também é maior se o projeto der certo.
Em relação ao musical Uma Linda Mulher, cuja temporada encerra neste domingo (17.12), teve alguma curiosidade de bastidor? Alguma coisa que foi o maior desafio?
Esta produção foi uma grande felicidade na minha vida e carreira. É um filme icônico que tira a bolha do público de musicais da Broadway. Apostei desde o momento em que vi a montagem na Broadway de que poderíamos realizar uma nova montagem com versões em português e elenco brasileiro, melhor do que a fizeram em Nova York e Londres. Acreditava que o público queria ver uma montagem que reproduzisse o que viram no filme. E tivemos a felicidade de ter uma produção grandiosa, com cenários que reproduzissem todas as locações, assim como figurinos. Além de um elenco supertalentoso e equipes técnicas muito competentes, tivemos uma temporada lotada de quatro meses no teatro Santander, com cerca de 100 apresentações e 100 mil pessoas.

O musical de “Priscilla, a rainha do deserto” estreou na Broadway em 2011 (Foto: Joe Corrigan/WireImage)
Quais são seus planos para o futuro? Alguma meta que queira tirar do papel em 2024?
Em 2024 teremos um ano super desafiador com umas das turnês mais grandiosas e complexas do Cirque du Soleil que faremos no Chile, também, além do Brasil (o nome do espetáculo ainda não foi anunciado). Além disso, faremos dois musicais de grande porte, sendo um deles dos maiores desafios da minha carreira até hoje, que é o de produzir Priscilla – A Rainha do Deserto, com sua grandiosidade de cenários e figurinos, grandes hits musicais, mas principalmente sua mensagem de amor e acolhimento em um mundo diverso e bem diferente de 2011 quando estreou em Londres e depois na Broadway.
Qual conselho daria para quem está pensando em começar no entretenimento ao vivo? Há alguma faculdade que possa ser um caminho?
Para se ter sucesso neste mercado, a pessoa precisa ter espírito empreendedor, já que na maioria das vezes precisará criar sua própria produtora para prosperar e, caso decida seguir como executivo, terá que assumir muitos riscos. Precisa ter cabeça de dono e pensar grande para crescer. Não é um business com receita de bolo ou que tenha alguma faculdade que te ensine o suficiente. Mas, digo que o fato de ser administradora e ter um MBA me ajudaram muito a me desenvolver como empresária e executiva neste segmento, já que tenho uma visão pragmática do negócio, sem deixar que o ego ou gosto pessoal guiem minhas decisões.
Para finalizar, tem algum mantra ou frase que te acompanha sempre?
Precisamos de muita competência e capacidade de trabalho, mas uma dose de sorte na vida também ajuda aos que trabalham! Estar no lugar certo na hora certa faz a diferença. Tenho muita vontade de iniciar algum tipo de trabalho voluntário, que ajude jovens carentes a se desenvolverem e entrarem no mercado de trabalho através da cultura.

Foto: Caio Gallucci