Nesta capa, Bidiande Madah usa vestido Estudio Cena | Direção criativa: @klebermatheus | Foto: @pedronapolinario | Styling: @dudubertholini | Beauty: @herodrigues | Coordenação: @mariisimon | Produção de moda e assistente de styling: @marcelladahl, @fazziolijohn e @ramon_bonifacio | Produção executiva: @loviproducoes | Produtor responsável: @diegofragosonyc | Retoque: @taugeretouch | Assistente de foto: @pradellapedro | Assistente de beauty: @adriellucass | Camareira: Luciana Santos | Locações: Praia da Sereia

“A pintura fala para o olho que ouve.” A frase é do artista Delson Uchôa e foi dita em prosa solta com a equipe de Bazaar no seu ateliê/residência, em Maceió, quando a turma explorava a cidade em busca de locações para a edição que você lê agora. A frase causou tamanho impacto, que virou título de um dos ensaios de moda, que você confere mais para frente. Foi no encontro com a dupla Gabriel Novis e Famke Van Hagen, que mora em L.A, ele alagoano, ela holandesa, que sentimos a necessidade de uma moda documental, justamente pela associação dos olhares próximo e distante de lá. A visão fresca de Pedro Napolinário sobre a região está em outras duas modas. Antes dessa ida a Maceió, atribuía as características mais evidentes da obra de Uchoa à “Geração 80”, de que é fruto.

Apesar da pintura de cores eletrizantes, em diferentes suportes representarem a transgressão daquela década, depois do mergulho na cidade de águas ora azul-turquesa, ora verde esmeralda, entendi melhor as referências iluminadas do artista. Afinal, cores vibrantes também tramam o rico artesanato local, sobretudo as rendas e os bordados filé, que sintetizam o encontro de moda, tradição e cultura. O estilista alagoano Antonio Castro, à frente da marca FOZ, é um dos bons exemplos dessa fusão. No momento em que técnicas de handmade estão cada vez mais apreciadas no mundo, educamos o nosso olhar, que se volta para o que produzimos internamente e, a partir da valorização da produção local, reafirmamos a brasilidade moderna. Ainda que o movimento, muitas vezes, seja de fora para dentro, força o processo de decolonização pelo qual finalmente estamos passando. Essa rede impulsionada por técnicas manuais e pelo resgate da nossa memória afetiva, abarca design, arte e arquitetura.

Ao longo da jornada, descobrimos e agregamos talentos ao nosso conteúdo. Julia Nogueira foi um deles. Disruptiva, a artista imprime referências circenses aos acessórios típicos do cangaço, colore cadeiras feitas de galhos retorcidos e espalha uma pintura vibrante para além dos muros da cidade. Do micro ao macro, Julia reverencia e revitaliza a cultura local, assim como a galeria mais raiz do pedaço, a Karandash, dos artistas Maria Amélia e Dalton Costa, que reúne as obras dos principais mestres nordestinos. Os encantos da cidade espalham-se pela brisa constante – vão do centro ao bairro das rendeiras, e passam pelos mercados, praias e coqueirais. Alguns registrados aqui, graças à participação mais que necessária de locais, como o fotógrafo Carlos Davi, traz um registro autoral da essência de Maceió. São dele alguns dos retratos da edição e paisagens que ilustram a seção Escape. Tudo feito sob a batuta de Kleber Matheus, nosso diretor criativo, com styling de Dudu Bertholini, figura mítica da moda nacional, o mais sensível para traduzir fundamento em poesia. Só agora, ao fechar esta edição, saio de Maceió. Mas, como era de se esperar, Maceió fica em mim, e tenho certeza, também ficará em você.

P.S. Obrigada a todos os envolvidos, em especial aos colaboradores e parceiros locais, pela experiência e oportunidade. Além das belezas naturais da cidade, da cor dos mares ser a mais bonita da costa brasileira, Maceió é particularmente acolhedora e, nesse momento, clama por ainda mais divulgação e incentivo ao turismo. Agradeço também à Daniela Falcão, que agora à frente da Nordestesse, mas com longa experiência editorial, bordou este encontro, com a habilidade e o esmero de uma renda filé.