Foto: Andréa Rêgo Barros

Marina Abramović propõe um momento de reflexão em um muro energizante, criado por ela em Pernambuco. A obra em questão tem 25 metros de comprimento, 3 de altura e 2,5m de largura, na qual estão aplicados 12 conjuntos de quartzo rosa (com três almofadas, provenientes de Minas Gerais), para que o público encoste a cabeça, o coração e estômago nas pedras – elas conhecidas por transmitir calma e clareza. A inauguração da obra site specific, intitulada Generator (Gerador, em português), acontece neste sábado (03.02), na Usina de Arte de Água Preta (distante 127 km de Recife).

“Eu lhe dou o trabalho, você me dá seu tempo”, explica Marina (– uma das participantes da plataforma global Women in Art, da Bazaar –, conduzindo as pessoas ao encontro de uma conexão. “Neste momento de turbulenta história humana, vivemos uma época de guerras, violência, pobreza e aquecimento do nosso planeta. O rápido desenvolvimento tecnológico nos afastou da natureza e perdemos a capacidade de usar a intuição, a telepatia e de lembrar os nossos sonhos. Perdemos nosso centro espiritual. A função do Gerador não é apenas uma escultura. Destina-se à interação pública com os cristais e a sua energia, na esperança de restaurar a nossa capacidade de nos conectarmos com a natureza através da quietude e da presença no aqui e agora”, defende.

Instalada em uma área do Parque Artístico-Botânico, recém-expandida, fica na Zona da Mata Sul de Pernambuco. Os 12 agrupamentos de quartzos, ao longo do muro, permitem que visitantes das mais variadas alturas interajam com a obra, explorando a forma como esses materiais se conectam com o corpo do ser e com o corpo do planeta. A obra é um desdobramento da experiência vivida pela artista em uma performance na Muralha da China, em 1988.

Foto: Andréa Rêgo Barros

O projeto

Para chegar ao resultado de Generator, a artista tem se relacionado com a Usina de Arte há mais de um ano, em um processo de residência artística remota no equipamento cultural. “Ela apresentou quatro projetos e, ao final, a obra em questão foi definida. Uma obra que conversa com a memória do lugar, com a história e com o Nordeste do Brasil”, analisa o curador da Usina de Arte, Marc Pottier. “Este posicionamento faz parte do nosso desejo de colecionar artes que continuem com uma narrativa que fale sobre a região da Usina e da relação do museu com a arte.”

Para Bruna Pessôa de Queiroz, presidente do espaço, a chegada de Generator consolida duas importantes frentes: nas reflexões em torno do feminino e a internacionalização do seu acervo com diálogos locais. “Poder ter em nosso parque uma obra da Marina Abramović, cuja contribuição para o mundo das artes é imensurável, é evidenciar o protagonismo da mulher, seus desafios e sensibilidades para lidar com o mundo, nos aproximando de importantes debates sociais a partir dessa lente”, explica. “A obra também não deixa de ser uma homenagem à história desse lugar ao longo dos anos e da energia e trocas que ele é capaz de oferecer, uma espécie de memorial para que nunca esqueçamos que transformar é possível.”


Retrospectiva

Antes da inauguração de vir ao Brasil apresentar Generator, Marina Abramović esteve em cartaz, até o começo de janeiro, com uma exposição retrospectiva que celebrou seus 50 anos de carreira, na Royal Academy, de Londres. Tornou-se a primeira mulher em 255 anos a ocupar todas as salas do museu com uma mostra individual. A artista nascida em Belgrado (antiga Iugoslávia) tem explorado a relação entre o ser humano e os elementos naturais por meio de performances que investigam os limites físicos e mentais do corpo.

Radicada em Nova York, tem em seu DNA provocações a partir de materiais da natureza, que podem ser instrumentos de cura humana, em especial, pedras e cristais brasileiros. Suas pesquisas por aqui acontecem desde os anos 1980. Ainda nesse território, em 2012, a artista percorreu mais de 6 mil km de solo brasileiro em busca desse entendimento. Pesquisou espaços e pessoas místicas que representam os diversos tipos de manifestação de poder espiritual na cultura do País, cujo resultado é apresentado no documentário Espaço Além – Marina Abramović e o Brasil (2016), disponível no Prime Video (Amazon).

Foto: Getty Images