Vista do pavilhão menor – Foto: Leonardo Finotti

Quando começou a pensar em seu refúgio de praia, há mais de uma década, Thiago Bernardes tinha apenas uma vontade: proporcionar aos filhos, Antonio e Vicente (de 13 e 11 anos, respectivamente), a mesma experiência de sua infância junto ao pai, o também arquiteto Cláudio Bernardes, em Angra dos Reis. A Cabana, dividida em três pavimentos, não tem nada de alvenaria ou vidro. Fica em um terreno no Saco do Mamanguá, em Paraty – um fiorde tropical com acesso apenas de barco, abraçado pelo Oceano Atlântico.

“Existem vizinhos, mas não são vistos. Há uma boa distância e a casa fica, realmente, imersa na mata.” O projeto é um verdadeiro abrigo, respeitando o espaço e aproveitando as tecnologias existentes para ser o menos invasivo possível à natureza. “Os interiores misturam móveis de família, como a mesa de jantar que era da minha avó (Clarice, mulher do arquiteto e designer Sergio Bernardes), um antigo armário, outros comprados ou fabricados no local, dando identidade própria ao projeto.” A casa ganha vida com detalhes do artesanato da região e riqueza de detalhes.

O arquiteto Thiago Bernardes, em retrato de Ruy Teixeira – Foto: Ruy Teixeira

Bernardes não tinha um conceito formado sobre como deveria ser a construção quando iniciou a empreitada. Foi o terreno que ditou tudo. “O sonho que se tornou realidade tinha esse espírito caiçara e carregava a cultura local”, conta à Bazaar. “É um local preservado, não chega muita gente, não tem estrada.” E conseguiu criar um espaço autossuficiente, totalmente desligado da cidade, mas confortável. A cabana não tem fornecimento de energia. Antes, era tudo à luz de velas, depois foram instalados painéis solares, que garantem o funcionamento de itens básicos. “Optamos por instalar um gerador de energia para receber mais gente. A água é captada de fonte corrente, e o chuveiro é aquecido a gás. Cada construção também tem seu próprio sistema de esgoto e drenagem.”

A relação com o entorno e as construções pré-existentes foram o ponto de partida para pensar nessa estrutura. “O objetivo era preservar ao máximo a Mata Atlântica e criar uma arquitetura imersa com possibilidade de desfrutar dessa riqueza, além de privilegiar a vista.” Resultado da sinergia entre topografia, insolação e mata, o pavilhão principal é uma grande varanda, com 150 metros quadrados, sendo a maior área uma ampla sala de estar integrada ao meio ambiente. Quem está de fora não consegue ver a casa. Além desse espaço, que ocupa mais de dois terços da construção, há a suíte principal e a cozinha. “Existem outros quatro volumes, dois deles com duas suítes cada, além da garagem de barcos e a moradia do caseiro”, enumera, dizendo existir uma área técnica para garantir o funcionamento das instalações.

A casa foi pensada para Bernardes passar pequenas temporadas em família, com programas bastantes simples, como aproveitar a vista, descansar e receber amigos. “Quando cheguei lá, existia uma pequena casinha e duas ruínas. A antiga casa de pescador em pau a pique, localizada junto ao mar, foi a primeira reformada, com ajustes mínimos. E fiquei anos utilizando apenas essa casinha”, recorda.

A disposição dos espaços é guiada pela presença das árvores e da vegetação, mantendo a conexão com a flora. A escolha do compensado naval, pintado em vermelho e azul, foi pensada para ter fácil manutenção e longevidade. “Precisávamos de uma solução que facilitasse o transporte, tivesse uma montagem mais ágil e o mínimo de impacto ambiental.”

A casa, simples, abriga apenas o essencial. Um banco de madeira serve como guarda-corpo, enquanto painéis modulares delimitam áreas privadas. As portas e janelas, alinhadas às divisórias, revelam a beleza da madeira maciça em cada detalhe. A gestão consciente de recursos, incluindo o controle da água e o cuidado com o lixo, é uma prática louvável. Além de manter uma composteira para resíduos orgânicos, um barco faz transporte de recicláveis para Paraty. Um pedacinho do paraíso, enfim, se não totalmente intocado, respeitado ao máximo em seus limites.