Pensei muito se eu iria ver de perto a coleção de estreia de Seán McGirr na Alexander McQueen. Não por desinteresse (talvez um pouquinho), mas porque ontem, enquanto o desfile acontecia, eu estava no Lapérouse com a Valentino e vi trechos da apresentação que me deixaram decepcionado.
Há algumas semanas, quando escrevi por aqui uma reflexão antecipada sobre os caminhos da nova McQueen de Seán, já tinha mostrado preocupação. Não sou nenhum vidente, claro, mas tudo parecia nostálgico demais, cansado demais – isso para não dizer pretensioso. Acontece que, no fundo, minha vontade mesmo era morder a língua.
Apesar de ser crítico, acredito em segundas chances, ainda que eu não tenha muita paciência para elas. Por isso, decidi que era necessário olhar tudo com os meus próprios olhos. Peguei o metrô para a rue Natiole (bem longe do roteiro glamour-fashionista) e entrei na garagem sinistra que abrigou o desfile ontem à noite e… surpresa! Realmente, nada demais.
Acontece que, nas entrelinhas dessa coleção absolutamente tediosa, tem muito potencial. Ouvi muito que a apresentação tinha ares de trabalho universitário – e tem mesmo. Mas é do tipo Saint Martins, sabe como? (rsrs)
É fácil querer um espetáculo. Eu também queria. Mas depois de uma maratona cheia de adrenalina que começou com o próprio Alexander McQueen, em 1993, e terminou com Sarah Burton no ano passado, talvez fosse hora de retomar o fôlego.
Aqui, Seán dá atenção ao detalhes, daqueles bem escondidos, quase secretos. São botas em formato de casco de cavalo (com ferraduras embaixo!), casacos de tricô enormes (feitos à mão e pesando mais de 13 quilos) e visuais criados com estilhaços de faróis de carro.
A impressão é de que o novo designer na casa é um adolescente rebelde e mal criado, descobrindo seus fetiches, ignorando expectativas e experimentando “coisinhas” que dão prazer. Acho que ele ainda vai amadurecer, mas por enquanto, prefere mostrar o dedo do meio para quem adora andar com o nariz em pé. E essa atitude é muito McQueen. Enfim, há esperança! Mas será que há paciência?