
Adriano Pedrosa – Foto: Divulgação
Por Aure Vieira
Para quem gosta de arte, a Bienal de Veneza é assunto incontornável. Fundada no século 19, parece ser o ep centro cosmopolita do mundo a cada edição. Este ano, a intitulada carinhosamente pelos italianos de simplesmente “Biennale” chama a atenção do Brasil. Adriano Pedrosa, curador-chefe do Museu de Arte de São Paulo (Masp), é o primeiro latino-americano a estar à frente da exposição de arte mais importante do mundo. E o que Pedrosa faz é, justamente, confundir de propósito, e com inteligência ímpar, o sentido de cosmopolitismo que se arraigou naquela cidade tão singular do norte da Itália, que outrora já foi chamada de a primeira cidade capitalista do mundo. Foi rota da seda, recebeu as mais importantes influências mouriscas e hoje é palco de todo um zeitgeist imprescindível para o mercado cultural.
Com o título de Stranieri Ovunque/Foreigners Everywhere, Pedrosa, com extensíssima e sólida carreira como curador internacional, joga luz aos fluxos migratórios, às neo-diásporas afro-atlânticas, aos povos originários, ao feminismo, e sua versão mais atualizada, e ao mundo queer. Sim, os estrangeirismos que não definem somente nações e nos diferenciam, mas que também reúnem, em cada um de nós, nas nossas identidades mosaicas, colagens de uma contemporaneidade complexa que torna o mundo cada vez menor, mais conhecido e polêmico por estar ora avançando, ora retrocedendo em tantas discussões sociopolíticas. A partir de 19 de abril, a Bienal de Veneza promete evidenciar o frágil pêndulo das artes com os ativismos. Serão 332 artistas, contando com núcleos histórico e contemporâneo. Se, na edição passada, apenas cinco brasileiros estiveram na curadoria de Cecilia Alemani, Pedrosa não deixará de reverenciar a América Latina e o Brasil, visto que já selecionou 85 artistas de 16 países, sendo 28 ainda vivos e o restante parte da história desse peculiar território do sul-global do qual fazemos parte. E, já que citamos os estrangeiros no stricto sensu, será possível ver artistas de 70 países. Conheça alguns destaques da Biennale 2024:
Claudia Andujar
Uma das maiores aliadas dos povos originários Yanomami, nasceu em 1931, na Suíça, e toda sua família foi perseguida pelo nazismo. Salva por um tio remanescente, morou em Nova York a partir de 1948, e desde 1955, vive em São Paulo. Foi uma voz poderosa na ONU em favor dos indígenas, logo após o lendário encontro ambiental Rio 92. Suas fotos são fundamentais até hoje para a conservação da tradição ianomâmi.
Joyce Joumaa
Videoartista mais jovem da mostra, nasceu em 1998, em Beirute, e vive entre a capital libanesa e Montreal. Um de seus recentes trabalhos mostra a cidade de Trípoli, fundada oito séculos antes de Cristo, com suas mesquitas e ruelas históricas, que conta também com uma carcaça modernista de um parque abandonado projetado por Oscar Niemeyer.
Mahku
O coletivo acreano, dos povos originários caxinauás, é uma das maiores promessas da Bienal. As pinturas são tão vívidas quanto hipnóticas, devido ao seu tamanho. Foi possível vê-los na última Bienal de São Paulo como em um invólucro das curvas do pavilhão do Ibirapuera.
Selwyn Wilson
Um dos fundadores do modernismo Maori, entre os anos 1950 e 1960, o artista neozelandês foi morto em 2002. Suas cerâmicas e seus retratos poderão ser vistos na 60ª Bienal de Veneza, refletindo tanto a sua herança cultural quanto a sua visão artística única.
Grace Salome Kwami
Escultora ganesa uma das pioneiras da arte africana, seu autodidatismo começou quando tinha apenas 4 anos. Participou do Sankofa Arts Movement e é das porta-vozes de uma era intuitiva e feminista na arte africana.
Anna Maria Maiolino
Reconhecida com o Prêmio Leão de Ouro em Veneza, ano passado, a artista faz parte da diáspora italiana, pois migrou para o Brasil no começo da sua prolífica carreira. Utiliza uma miríade de materiais e pesquisas e é uma das grandes artistas ainda vivas, que merece as honras da bilateralidade ítalo-brasileira.