“Se quiser fazer quatro álbuns, tenho música”, conta Marina Sena sobre processo de composição

Aos 27 anos, Marina Sena está em busca de uma nova identidade nas páginas da Harper’s Bazaar Brasil de maio. “Uma coisa nunca antes vista”, brinca a cantora. Tinha medo de, no nosso ensaio, soar artificial. Porque sempre evocou a naturalidade ao invés do fashionismo captado aqui. Não é porque deixou de lado os cabelos cacheados e naturais para apostar em diferentes laces, que não está em uma jornada de descoberta.

Depois de sair da pequena Taiobeiras, uma cidade de 30 mil habitantes em Minas Gerais, para ganhar o mundo com suas músicas autobiográficas, um sex appeal sem igual e conquistar diferentes públicos em festivais e shows pelo Brasil, e fora dele, Marina Sena quer se reconectar consigo mesma e entender sua força-motriz. Já sacou: a motivação não é a fama nem o dinheiro. Mas a possibilidade, enquanto artista, de se conectar ao divino e, assim, nutrir os fãs com paixões e objetivos.

Se ela conseguiu se ver de um jeito novo em cena, seu momento atual reflete essas tentativas. Em abril de 2023, Marina Sena lançava “Vício Inerente”, seu segundo álbum de estúdio. E se sente recompensada por seu trabalho ter furado a bolha. Mas não acreditava que seu som autoral pudesse se tornar comercial, como o single “Por Supuesto”, do primeiro trabalho, teve tal poder. “Sinto que, neste (recente) álbum, por ser mais experimental, tenha conseguido mesclar a MPB do meu coraçãozinho com elementos da atualidade, como o trap, drill e arrisquei colocar autotune na voz. Minha base é a MPB clássica, com instrumentos, voz limpa nem tantos filtros… É a rádio, a novela, o forró”, enumera as referências.

Se ela já está trabalhando em faixas inéditas, o antecessor vai ser contemplado com tracks existentes e participações especiais. “Se quiser fazer quatro álbuns, tenho música. Óbvio que não é bem assim. Tudo é momento. Às vezes, não cabe. Minha composição e poesia estão mais maduras. Cada vez, estou aprimorando em melodias, parte favorita.”

Por falar em futuro, ela chegou a fazer um camping de composições com seu novo diretor musical, Gianlucca Pernechele, e os integrantes de A Outra Banda da Lua, André Oliva, o Dedeco, e o Mateus Bragança – mais conhecido pelo sobrenome. “Antes do ‘De Primeira’, fiquei cinco anos compondo para o grupo e para o meu solo. Quando estou perto deles, minha inspiração fica aguçada, de conexão direta com o astral. Impressionante como a musicalidade flui. Vocês não tem noção do casamento, tinha esquecido. Enquanto a gente estava lá, ficava agradecendo por ter essas pessoas para me inspirar.”

O processo foi todo gravado e pode dar origem a um audiovisual. “Muito mais reggae nation. Estava lá no sítio, meditando, e estou em uma onda muito da espiritualidade”, conta, explicando ter estudado temas como Filosofia e autoras à la Helena Blavatsky (da coletânea “Ísis sem Véu”) e Alice Bailey (do livro “Estâncias de Dzyan”). “É coisa de maluco, né?”, diverte-se. “Todas as vezes na qual me conecto com essa essência criadora, mais a criatividade pulsa – mais componho e as coisas me inspiram. Não tem a ver com religião, e, sim, entender o Deus existente dentro de você. Por isso, estamos aqui.”

Marina Sena está “nessa onda”, meditando, se autoconhecendo e toparia até ir para retiro de silêncio, mesmo sabendo da pessoa verborrágica que é. Sentiu este chamado porque, sabe, “com grandes missões vêm grandes responsabilidades. Não tinha nenhum vínculo com esse universo da fama. Corri, cheguei e ‘tô’ aqui. Se tive oportunidade, tenho de fazer bom uso. Cuidar da cabeça, do corpo e da vida para entregar coisas boas.” Por isso, vem meditando para esse encontro com ela mesma. “Senão, como lidar com toda essa benção. Vai ficar fazendo hitzinho? Comecei a me perguntar: ah, beleza, ganhei dinheiro, ganhei tudo e não estou satisfeita. Não era o dinheiro e o sucesso? Obviamente, era isso, mas o motivo principal é uma necessidade fisiológica. De fazer as pessoas escutarem o que tenho a dizer.”

Neste processo, por vezes, acha as respostas, mas elas acabam se esvaindo. E lá vai ela para mais uma sessão. Estar perto da natureza, uma de suas paixões, aguça tal criatividade. “São Paulo é até complicado para mim porque o contato com a natureza é mais raro. Fico mal, tira minha autoestima. Quando estou conectada com a natureza, me sinto uma onça, fico inabalável.”

De malas prontas para uma turnê nos Estados Unidos e Europa, aproveita esse momento para colocar os pés no chão. Ela diz isso porque saiu de um show para 60 mil pessoas no Lollapalooza Brasil para uma casa de shows com 150 pessoas, e equipe reduzida, no ano passado. “Você chega em um ponto de exaustão impressionante. Nunca me vi tão cansada quanto na turnê europeia. Ano passado, quando voltei, falei que não queria. Passados seis meses, foi me dando uma saudade dessa sensação de descoberta.”

Para recuperar sua essência, Marina cerca-se de amigos da época em que não era famosa, recorre ao tarô e outras viagens esotéricas. Prestes a completar 28 anos, em setembro, já está sentindo o retorno de Saturno. “Quando você quer voltar para a sua essência original, parafraseando o ditado daquela pensadora contemporânea”, brinca fazendo quote à música “Voltei Pra Mim”.

Em suas composições, fala de amor, sempre atrelando contextos fora das relações, buscando inspiração na natureza e até um desejo por liberdade na vida selvagem. Voltada para o reggae, em sua nova fase, quer explorar outros ritmos, como o jazz e o jersey (dance eletrônico com raízes no hip hop, downtempo, R&B e crunk). “Amo, tá super em alta, mas tudo misturado de um jeito que talvez não se consiga identificar se aquilo, realmente, está ali.” Se “Vício Inerente” foi sobre dançar, a próxima fase será sobre cantar. Talento, audácia e ambição são as fórmulas do seu x factor – acima de qualquer interferência de vaidade, ego, dinheiro e outras cositas mas. E é nessa a bússola que acredita para seguir adiante.