Rodrigo Simas – Foto: Brunno Rangel

Rodrigo Simas se entrega à sua versão nada shakespeariana da peça “Prazer, Hamlet”, em cartaz em São Paulo, no teatro Ruth Escobar, até este domingo (26.05). O monólogo mergulha profundamente nas complexidades do Príncipe Hamlet, abordando temas contemporâneos como a superficialidade do ambiente virtual e as máscaras sociais. “Questionar a sexualidade de Hamlet é muito interessante. Não tem uma verdade absoluta. É a visão de um autor e de um diretor, uma obra autoral”, conta o Simas. “Não só o amor é a mensagem [principal], mas a coragem.”

Sob direção de Ciro Barcellos, a adaptação não se limita ao clássico de Shakespeare como a peça explica, mas também aos escritos de Saxão Gramático, oferecendo uma nova perspectiva sobre a obra e explorando os labirintos do coração de um dos personagens mais debatidos da literatura, além de pôr em xeque sua sexualidade. “A questão do se assumir é muito relativa. Acho que cada história é uma história. Acho que não tem uma obrigação de falar sobre. Mas, ao mesmo tempo, o simplesmente ser é muito mais potente.”

Uma das cenas mais impactantes é quando Simas se despe no palco, ficando apenas com um cinto de castidade, simbolizando a sexualidade de Hamlet – um aspecto nunca explorado, além de simular um ato sexual no palco e cantar em cena. Os cenários, adereços e figurinos, assinados por Claudio Tovar, complementam a performance, criando uma atmosfera que transporta o público para o universo medieval, onde a peça, originalmente, se passa. Prazer, Hamlet está em cartaz na capital paulista e se despede nesta sexta, sábado e domingo (24, 25 e 26 de maio), com ingressos de R$ 40 a R$ 100. Leia a entrevista na íntegra:

Foto: Brunno Rangel

Harper’s Bazaar Brasil – Você tem algum ritual para entrar e sair do personagem?

Rodrigo Simas – Acho que não. Mas eu tenho o meu ritual que é bem instintivo. No teatro, tenho alguns, mas fico com vergonha de falar. Eu como uma maçã pela metade e deixo a outra metade até o final do espetáculo. Depois, jogo fora.

HBB – Teve alguma coisa engraçada que já aconteceu nas bastidores da peça? Vontade de ir ao banheiro no meio do espetáculo ou coisa do tipo?

RS – Não nesse sentido. Antes de começar, sempre vou ao banheiro e sempre tento estar o mais pleno possível para começar, principalmente nesse espetáculo. Não tenho muito tempo nem de pensar.

HBB – Você está na segunda temporada do espetáculo em São Paulo, o que tem de diferente dos outros lugares, como no Rio de Janeiro, onde estreou?

RS – Ainda não viajei com o espetáculo. São Paulo vive teatro, acho que se você quiser assistir a uma peça todos os dias, você consegue. Então, isso me encanta muito. O teatro no Rio vive também, mas de uma forma reduzida. A temporada do Rio foi sensacional e com casa cheia, casa lotada. Fico muito feliz de estar em São Paulo, porque me sinto fazendo parte do teatro paulista (risos).

HBB – Mas você já morou aqui?

RS – Nunca morei. Passei algumas temporadas, como quando fiz a série “As Aventuras de José e Durval”, sobre Chitãozinho e Xororó, com meu irmão (Felipe Simas). Além disso, quando vim fazer a preparação para o espetáculo fiquei dois meses direto. Dessa vez, eu estou indo e voltando (ao Rio, onde mora).

Foto: Brunno Rangel

HBB – Você falou que não tem nenhuma preparação ou ritual, mas vi você se batendo no comecinho….

RS – Eu tenho vários rituais, na verdade. O que você viu, no início, é mais um aquecimento de ator, para aquecer o corpo. Não tenho uma regra exatamente do que faço todos os dias. Vou sentindo e aquecendo para estar com o corpo presente para começar o espetáculo.

HBB – A peça aborda o amor. Qual a maior mensagem? O que no texto te encantou e te fez aceitar o papel?

RS – A primeira vez que li, quando fui convidado pelo Ciro, eu vivia uma angústia artística. Esse texto me pegou por me interessar por essa leitura que o Ciro fez sobre Hamlet. Questionar a sexualidade de Hamlet é muito interessante. Não tem uma verdade absoluta. É só uma visão de um autor e de um diretor fazendo esse espetáculo.

É uma obra autoral baseada em Hamlet, como a gente explica na peça. Não é o clássico, mas existe essa transição entre o ator, Hamlixo – que é o alter-ego do Hamlet, que vem para se vingar das coisas que fizeram com ele – e o clássico, além de outros personagens. É uma montanha-russa, né? Eu sou bem doido (risos). Não só o amor é a mensagem, mas também fala muito sobre a coragem. O fato de ter tido coragem de aceitar fazer um monólogo já foi muito importante para a minha vida.

HBB – Em junho, a gente entra no mês do orgulho e você tornou-se referência ao falar abertamente sobre sexualidade… Qual mensagem você deixa para novos atores e outras pessoas que se espelham em você e te têm como um grito de liberdade?

RS – Cada um tem o seu tempo. Ser, cada vez mais, tem me tornado mais pleno como artista e como pessoa. Fico honrado de ter essa visibilidade hoje, me aproprio muito desse lugar – porque é a minha verdade, e demorei para me entender. A questão do se assumir é muito relativa. Cada história é única. Não há uma obrigação de falar sobre. Mas, ao mesmo tempo, o simplesmente ser é muito mais potente.