
Day Molina durante painel do Global Fashion Summit – Foto: Divulgação
Por: Day Molina
“Moda lenta, mudanças aceleradas.” Com essa frase, passei dias refletindo sobre o impacto de ter sido convidada para o painel com a Kering e a Conservação Internacional na Dinamarca. Participei de um debate durante a Global Fashion Agenda, onde discutimos crises climáticas, sustentabilidade e princípios indígenas em parcerias no mercado de moda.
Quais mecanismos o setor busca para obter consentimento cultural e colaborar com criativos de comunidades detentoras de propriedade intelectual? O que grandes empresas podem fazer daqui para frente nesses fóruns para garantir a representação adequada e a inclusão no setor global da moda? Precisamos refletir sobre nosso consumo e a origem das nossas roupas!
Se você está pagando pouco, é porque na ponta, o fast fashion está lucrando muito. As roupas baratas revelam quem realmente paga o preço por elas. E os trabalhadores da moda não estão envolvidos nessas discussões. O fast fashion está cada vez mais comprometido com crises humanas e ambientais. Falei sobre a cosmologia do bem viver – sendo uma referência na minha prática como criadora e empresária na NALIMO – um vínculo com o combate às desigualdades sociais, erradicação da pobreza, contribuição para pautas antirracistas e igualdade de gênero. Empresas precisam reverter o processo (comunicar internamente e depois externamente). Menos marketing verde, mais ações práticas.

Day Molina no Global Fashion Summit – Foto: Divulgação
O Global Fashion Summit é o maior evento de moda sustentável do mundo, representado pela Global Fashion Agenda (GFA), uma organização sem fins lucrativos que promove a colaboração da indústria da moda sob uma perspectiva sustentável para acelerar o impacto positivo. Em maio, a organização completou 15 anos. Sendo o principal fórum para a sustentabilidade na moda, o Global Fashion Summit é sinônimo de inovação sustentável, criando diretrizes para novos paradigmas na moda global. O evento proporcionou conversas profundas e diálogos construtivos sobre a indústria e a necessidade de mudanças emergentes.
Esse convite significa muito para mim como estilista, indígena e brasileira. Fui a única criadora e a primeira mulher indígena a participar de um painel na programação em 2024. Durante a agenda, encontrei outras duas brasileiras que participaram como ouvintes: Lilian Pacce e Alexandra Farah.
Outro fato muitíssimo interessante aconteceu no dia seguinte ao meu painel: o caso da Ralph Lauren em parceria com os nativos americanos. Através de uma coleção em colaboração com Naiomi Glasses, da nação Navajo, criaram um movimento cultural entre moda e povos indígenas. Naiomi enfatizou que, quando era criança, sua mãe a vestia com roupas da Ralph Lauren e que, por muito tempo, frequentou uma loja da marca próxima ao seu território originário, na região nordeste do Arizona. Ela contou em seu painel que o convite da marca foi especial. O processo criativo foi cuidadoso, envolveu muita escuta e aprendizado para ambas as partes. Atualmente, Naiomi participa de um programa de residência criativa dentro da Ralph Lauren. Esse caso foi, sem dúvida, muito inspirador para todos e trouxe clareza sobre o papel crucial das grandes marcas em acolher e apoiar jovens criadores.
Porém, o que a crise climática tem a ver com a moda? Ficou claro que, para pensarmos nos próximos níveis, precisamos acelerar mudanças sistêmicas e produzir moda lenta. No sentido do “slow fashion”, as emergências climáticas não podem esperar. Nesse duelo entre fazer com propósito e ser consciente, ainda há muito a avançar em medidas mais transparentes e rígidas sobre moda e meio ambiente. As partes mais vulneráveis e impactadas pelo clima precisam ser ouvidas e inserir maior diversidade nessa agenda.
Quando pensamos em moda, é impossível não pensarmos em design e apelo estético. Mas será que a moda se resume apenas a isso? A GFA nos mostra que não é somente sobre estética. Devemos nos inspirar nas boas práticas e ações tangíveis de empresas comprometidas com transformações sociais. O design, por mais interessante que seja, é apenas um detalhe comparado às práticas que têm impacto real no meio ambiente e na vida das pessoas. Se, por um lado, a moda precisa ser feita de forma lenta e humanizada, as mudanças precisam ser aceleradas. Isso é um convite às marcas para que coloquem em prática seus planos. Essas conversas são essenciais para reacender a energia de mudanças que se estabeleçam de forma mais eficaz e acelerada. A conferência enfatizou a importância de ter lideranças certas à mesa. Isso impacta e muda muita coisa na moda e no mundo.