
Lucas Pinheiro Braathen (Foto: Eric Scaggiante/True Color Films)
(Esta entrevista foi publicada originalmente na edição de junho/2024 da Harper’s BAZAAR Man Brasil e assinada pelo Editor de Moda Guilherme de Beauharnais)
Guilherme de Beauharnais: Alô, Lucas! Por onde anda? Em Paris, ainda?
Lucas Pinheiro Braathen: Sim, ainda! Mas vou ficar alguns dias em Roma, depois volto para Paris e viajo para Milão e Áustria.
GDB: Férias?
LPB: Trabalho! (risos) Fico treinando na academia enquanto o inverno não chega.
GDB: Vamos falar sobre isso, mas, antes, me explica esse sotaque? Que charme!
LPB: Ah! (risos) É uma mistura. Minha mãe é brasileira, de São Paulo, e meu pai é norueguês, então cresci com várias perspectivas diferentes. Acho até que amadureci mais rápido por causa disso.
GDB: E você ainda vem muito para o Brasil, não?
LPB: Sim, bastante. Meu amor pelo esporte começou no Brasil.
GDB: Pelo esqui?!
LPB: Pelo futebol! (risos)
GDB: Ah, para! Que clichê! (risos)
LPB: Juro. Eu jogava bola com os meus primos e amigos nas ruas de São Paulo. Na época, eu não gostava de esqui e dizia para o meu pai que odiava as botas de plástico, porque machucavam minhas pernas. Eu achava que tinha nascido para ter chuteiras e o pé na areia.
GDB: E acabou com as botas e o pé na neve, olha que ironia (risos).
LPB: Pois é!

Lucas Pinheiro Braathen (Foto: Eric Scaggiante/True Color Films)
GDB: Você torce para algum time?
LPB: Sou São Paulino. Até fui ver um jogo no Morumbi uns tempos atrás…
GDB: Chega, chega! (risos) Além de futebol, sei que você também joga tênis, faz escalada… de tudo um pouco, não?
LPB: Eu tento. Quando não estou esquiando, quero fazer todo o resto. Até surfo!
GDB: Ah, então é daí que vem o cabelo de surfista! (risos)
LPB: Totalmente! (risos) Eu adoro a cultura e a estética do surf, especialmente no Brasil. Deixar meu cabelo crescer foi uma forma de me aproximar disso tudo. Mas é uma bagunça, não? (risos)
GDB: Bagunça boa (risos). Qual é o segredo para deixá-lo assim?
LPB: Meu cabelo tem vida própria e eu respeito isso (risos). Aqui na Europa, é um sucesso, porque não é muito comum.
GDB: Você tem cabelo de surfista, alma de futeboleiro… como é que foi parar no esqui?
LPB: Aqui na Europa, meu pai queria me ensinar a esquiar porque foi um dos grandes amores dele. Como um brasileiro na Noruega, sempre me senti um pouco deslocado. Me encontrei no esqui porque achei pessoas de outras culturas. É um esporte que exige viagens, então chegam pessoas do mundo todo.

Lucas Pinheiro Braathen (Foto: Eric Scaggiante/True Color Films)
GDB: Aos poucos, você se profissionalizou e começou a ganhar competições internacionais de esqui alpino. De repente, se aposentou aos 23 anos, no ano passado. Temos exatamente a mesma idade! Me explica isso?
LPB: Não existe um caminho certo e errado. Existe o seu caminho. No meu caso, a decisão de me aposentar foi muito difícil. Eu amo esquiar, mas, na Noruega, senti que não tinha liberdade para ser quem eu sou. Mostrar meu lado pessoal, meu estilo, minha criatividade… Nada disso era possível. A vida é muito mais do que só o esporte.
GDB: E o que te fez voltar atrás na aposentadoria?
LPB: Foi duro assistir às competições e me sentir fora de tudo aquilo. O esporte é uma grande performance, afinal, e eu me considero um showman. Em uma viagem para o Brasil, discuti possibilidades de retomar minha carreira, agora pela delegação brasileira. Me encantei pela ideia de trazer a vitória para o Brasil e ser uma inspiração para os brasileiros que não se sentem representados nos esportes de neve.
GDB: Agora, teremos você dando um show nos Jogos Olímpicos de Inverno em 2026. Você diz que se enxerga como performer e uma prova disso está nas suas próprias redes sociais. Além de atleta, também é fashionista! Me fala um pouco sobre a sua relação com a moda?
LPB: A moda se tornou uma paixão para mim porque é através dela que mostramos quem nós somos. A nossa geração, Gen-Z, cresceu com as redes sociais e eu encontrei, na internet, muitas pessoas que me inspiraram nesse sentido. Desde os doze anos, acompanho designers e diretores criativos e leio sobre a vida deles.

Lucas Pinheiro Braathen (Foto: Eric Scaggiante/True Color Films)
GDB: Quem são seus ícones da moda?
LPB: Miuccia Prada, Virgil Abloh, Oskar Metsavaht e Remo Ruffini, da Moncler. Como esquiador, sou apaixonado por como ele levou a moda para as montanhas.
GDB: Você também desfila. Acha mais difícil esquiar ou andar na passarela?
LPB: A passarela, com certeza! (risos) Quando fiz meu primeiro desfile, meu coração disparou como se eu estivesse no topo de uma montanha.
GDB: E você sentiu dificuldade em explorar a moda no meio do esporte?
LPB: Sim… Eu demorei para ter coragem de me jogar na moda. A comunidade do esporte é sobre treinar, comer e dormir. Eu não tinha espaço para mostrar outros interesses. Quando comecei a ganhar meus primeiros prêmios internacionais, percebi que a opinião dos outros não importava e decidir ousar mais.
GDB: Qual foi a sua maior ousadia até agora?
LPB: Foi subir no pódio da Copa do Mundo de Esqui Alpino, em Andorra, usando Moon Boots cor-de-rosa. Na comunidade esportiva, sempre recebi críticas por ter um estilo considerado “muito feminino”. Por isso, foi importante usar as botas rosa na minha vitória e mostrar que o meu jeito de ser é único.
GDB: Onde você guarda seus prêmios?
LPB: Na garagem do meu pai, na Noruega. (risos)
GBD: Escondidos?
LPB: Não diria escondidos, mas guardados. Eu não ligo muito para troféus.
GDB: Além deles, você coleciona hobbies. Fiquei sabendo que você também é DJ…
LPB: Sim! (risos) É algo que começou com um convite de amigos para tocar na abertura de uma exposição de arte na Noruega. Tive cinco dias para aprender a ser DJ e praticava depois dos meus treinos. Eu amo música. É um amor que também começou no Brasil, mas eu não toco nenhum instrumento. Ser DJ me permitiu experimentar a música de outras maneiras.
GDB: O que esperar no seu setlist?
LPB: Deep house e afro-latin house. Eu amo!

Lucas Pinheiro Braathen (Foto: Eric Scaggiante/True Color Films)
GDB: Você é muito festeiro?
LPB: Muito. Eu adoro dançar. Sendo atleta, eu não tenho muito tempo para ir em festas então, quando eu vou, aproveito ao máximo.
GDB: Quando estiver no Brasil, vou te levar aos meus clubs favoritos.
LPB: Com certeza! E eu te dou aulas de esqui!
GDB: Combinado. Se importa se eu acender um cigarro?
LPB: Sem problemas.
GDB: Esse é o meu hábito ruim. (risos) Você tem algum?
LPB: Pão de queijo.
GDB: Como assim?
LPB: Eu tenho o péssimo hábito de comer muito pão de queijo quando estou no Brasil. É muito, mesmo, e o tempo todo. Quando volto para a Europa, preciso fazer o dobro de academia para conseguir entrar no uniforme de novo. (risos)
GDB: Quando você está de uniforme, descendo uma montanha em alta velocidade, o que passa pela sua cabeça?
LPB: Nada. Absolutamente nada. Durante o minuto e meio em que estou esquiando, não consigo pensar, só escutar o som do esqui no gelo. É um sentimento lindo e especial. Quase um estado meditativo.
GDB: Parece um pouco suicida demais para ser uma espécie de meditação. (risos)
LPB: É um pouco louco, sim… (risos) Mas eu sou um viciado em adrenalina.
GDB: Acha que vai morrer esquiando?
LPB: Não! (risos) Acho que vou morrer velho e descansado, já longe do esporte. Hoje, vivo no esporte, nas viagens… é ótimo, mas agitado. Quero que meus últimos dias sejam tranquilos.