“A vida é feita de ciclos, e a jornada deve ser vivida com brilho nos olhos até o fim”, afirma André Vasco – Foto: Divulgação

Por: Gilberto Júnior 

O multifacetado André Vasco aposta em um negócio com propósito, a ll Sordo, mix de gelateria e galeria de arte – novidade na capital paulista. Aqui, o apresentador fala sobre sua perda de audição e como o esporte o ajudou a combater a ansiedade e a depressão

Como surgiu a gelateria na sua vida?

Minha família materna é de Sergipe. Desde pequeno, vou muito a Aracaju, mas não conseguia visitar a Il Sordo – uma gelateria criada por um surdo, o Breno [Oliveira]. O negócio nasceu pela necessidade dele trabalhar e proporcionar emprego para seus pares. Após a pandemia, finalmente, consegui. Havia descoberto minha perda auditiva recentemente. Foi mágico, chorei. Explosão de felicidade, leveza e verdade. Voltei a São Paulo querendo propagar a ideia. Meu amigo Felipe Paladino conhecia e me confessou o mesmo desejo. por que investir? Sou um inquieto, buscando desafios fora da minha área principal, que é apresentar. Cuido da comunicação e do marketing em conjunto com minha produtora e a agência 11:11. Além de ser um negócio com propósito real, não apenas por engajamento. como a gelateria se relaciona com a sociedade? Os colaboradores são surdos e a maioria, mulheres e LGBTQIAPN+. Há uma acessibilidade reversa, onde pessoas que não sã o PcD precisam se comunicar. É uma imersão em um mundo não mostrado. Todos precisamos de acessibilidade e, ali, essa troca é orgânica, leve e divertida. Virou ponto de encontro da comunidade surda de São Paulo. No último andar, farei uma galeria contando histórias do movimento, de artistas, expondo obras e momentos históricos

Você vem da tv, mas como surgiu a skin empresário?

Desde cedo, animei festas infantis, toquei violino… Depois da MTV, criei um canal de vídeos e terceirizei a publicidade. Tive uma startup de customização de playlists – antes do Spotify; criei, com mais dois sócios, a Working Title – marca de roupas que está bombando. Também tenho banda e produtora. Nunca tive nada fácil, mas, se acredito, me jogo por amor. Sou contra o famoso que vira sócio e não põe a mão na massa.

Por que deixou a moda?

Não fazia mais sentido. Optei por canalizar minha energia, tempo e criatividade na Il Sordo. A vida é feita de ciclos, e a jornada deve ser vivida com brilho nos olhos até o fim. a facilidade de se comunicar ajuda? a fama atrai investimentos? Comunicar é inerente ao ser. Com certeza, me ajuda, assim como ser conhecido abre portas. Mas nada sem verdade e tesão perdura, convence ou vive. Atrair investimentos? Ainda não sei. Eu me jogo, raspo economia, pego empréstimo…Nem te conto!

Que lugar a comunicação ocupa em sua vida atualmente?

É o meu dom. Existo para me comunicar, conectar, entreter. Sou grato aos projetos que já participei e às marcas com quem trabalho. Tem uma conquista profissional que ainda não tive, mas que está perto: uma emissora.

Como foi descobrir a perda de audição?

Fiz audiometria em 2015, mas fugi por medo e desinformação. Cinco anos depois, “redescobri” a perda, aceitei e lutei contra o preconceito. Uso aparelho nos dois ouvidos. Recebo mensagens de pessoas que não aceitam essa condição. Sempre falo: se uma pessoa não enxerga direito, usa óculos. Se não tem os dentes retos, usa aparelho. Por que o aparelho auditivo é tabu?

O que mudou na sua vida?

Minha percepção de mundo e o interesse por aprender Libras [Língua Brasileira de Sinais]. Fiz um curso básico e, com os colaboradores, me atiro a conversar. Serei fluente em breve.

A corrida é algo presente em sua vida. como o esporte o ajuda?

Tive crises de ansiedade, descobri uma depressão e quadro de bipolaridade – apesar de eu não concordar. Aprendi que o esporte pode ser um aliado. Garante confiança e controle da ansiedade junto à música, à família e ao medicamento. Correr é uma tremenda terapia (risos).

Qual é sua relação com a música?

É meu respiro. Tenho uma banda, Os Mirandas. Uma válvula de escape que gera empregos e sorrisos. Tocamos versões de Rolling Stones a Joelma.

Como você se vê em cinco anos?

Feliz, fazendo o que amo. Na correria real, ao som de muita música. Comunicando, entretendo e vivendo.