Nathalie Mouellhousen – Foto: Tinko Czetwertynnski

De perto, ela é impressionante. Alta, bonita, corpo escultural, poliglota (fala francês, inglês, italiano e português), allure atlética, cheia de atitude. Uma mulher e tanto. Mas a beleza é só um dos inúmeros atributos da esgrimista que vai representar o País nas  Olimpíadas. Aos 38 anos, os últimos quinze passados na capital francesa, a ítalo-brasileira (pelo lado materno), de sangue alemão (por parte de pai), sabe o que quer e aonde vai. Classificada para os próximos jogos que começam no final desse mês, Nathalie, que compete pela categoria espada, segue uma rotina restrita de atividades. “Meu treino varia entre preparação física e aulas e combates de esgrima. Mas também pratico relaxamento corporal, caratê, boxe, dança e teatro”, conta, em seu apartamento na Place des Victoires, no 2ème arrondissement parisiense. O número sugestivo do endereço é mais do que propício para essa atleta de peso, que sonha em ganhar o segundo ouro para o Brasil (o primeiro foi em 2019). “A pessoa que mais me motivou a representar o País na esgrima foi minha avó materna brasileira. Ela sempre me disse que eu deveria competir pelo Brasil porque a esgrima não era um esporte muito popular por lá. E quis que eu lhe deixasse um legado”, afirma.

Nascida em Milão, a italiana de alma brasileira competiu pela Itália até 2014, quando decidiu começar a competir pelo Brasil. Familiarizada com a esgrima desde a infância, Nathalie sempre soube que queria fazer algo diferente. E nunca mais parou. Mas graças à mãe, a designer Valeria Ferlini, a moda também sempre teve espaço na vida da medalhista. “Ela é uma guerreira, passou por momentos difíceis na vida, mas nunca deixou de trabalhar. Tenho isso dela. Desde criança costumava admirá-la, sempre elegante, dona de um estilo ímpar”, conta. “Minha mãe (a ex-modelo Valeria Ferlini), sempre trabalhou com moda e tem sua marca homônima há mais de 40 anos na Itália. Uma de suas frases favoritas é: ‘quando uma pessoa tem classe, pode até enrolar uma toalha no corpo, mesmo assim, vai se distinguir dos outros’”, revela. “Cresci com ela dizendo que uma das coisas mais importantes em um look são os acessórios: uma bolsa bonita, um sapato elegante… E, sobretudo, que não é a marca que faz o estilo da pessoa”, diz. “Sempre escolho peças que considero diferentes e, acima de tudo, com as quais me identifico. A etiqueta é só um detalhe”, acrescenta. Uma de suas preferidas? O quimono olímpico, desenhado por ela e executado pela mãe. “Passo a maior parte do tempo vestida com roupas de esporte por causa dos meus treinos, então tento adaptá-las de uma forma mais inte- ressante e chique”, conta. Para incrementar, saltos agulha Louboutin, um body com tules do e-commerce Wolf & Badger, um ensemble de plumas da label Moro Marrakech, braceletes vintage da avó e por aí vai… Foi a partir dessa vontade de “acessorizar” que ela teve a ideia de lançar sua própria marca, a Five Touches, que propõe joias, objetos de design, roupas de esporte e material de treino ligados ao universo da esgrima.

Nathalie Mouellhousen – Foto: Tinko Czetwertynnski

Um dos pilares mais importantes da marca é “Seja seu próprio herói”, tema do projeto social lançado em 2022, em São Paulo, com o intuito de ajudar as crianças menos favorecidas do Brasil. Em parceria com o brasileiro Lúcio Fonseca, a ideia é levar o esporte às comunidades carentes como forma de integração social. Para incrementar o projeto, Nathalie se uniu ao street artist Eduardo Kobra, que pintou três máscaras de esgrima que serão vendidas a colecionadores para arrecadar fundos para dez instituições. “A questão da máscara é subjetiva, muito mais profunda do que parece. Quero que as crianças entendam que, quando elas se vestem com elas, podem se transformar no herói que quiserem”, explica. Essa mensagem, aliás, ela fez questão de passar ao inaugurar, no mês passado, o mural de 19 metros de altura e 10 de largura pintado por Kobra (que vem do Jardim Martinica, periferia de São Paulo), em Saint-Ouen, cidade da periferia de Paris, que vai hospedar o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). O painel, inspirado na figura feminina de Marianne, um dos símbolos da República e da liberdade francesas, homenageia a tela do francês Eugène Delacroix, Liberdade Guiando o Povo (1830), que exalta as três “Revoluções Gloriosas”. Nele, uma figura feminina lidera o povo. Na versão de Kobra, a líder é uma atleta de tênis, que segura uma ban- deira com a mensagem: “Soyons nos propres héros” (“Sejamos nossos próprios heróis”). Mesmo motto que Nathalie adotou, na vida e no esporte