
Kenoe – Fotos: Divulgação
Recebo um convite para conhecer o Kanoe, o Omakase mais exclusivo de São Paulo — e do Brasil. Um balcão com apenas oito lugares no esquema speakeasy. Secretíssimo. Recebo o endereço um dia antes, com o QR code que garantiria meu acesso à casa que passa despercebida em uma rua dos Jardins. Com ele vem o recado: “este QR code só funciona até 13h05. Depois disso, sua reserva será cancelada.” Antes, já havia enviado minhas preferências e restrições, que incluem até a pergunta se sou destra ou canhota (faz diferença na escolha do lugar no balcão). Saio de casa ansiosa e diria até um pouco temerosa. Lembro do clássico episódio de Seinfeld, o No Soup For You, em que os comensais que saem da linha são convidados a se retirar — sem comer.
Para minha surpresa, sou recebida calorosamente pela hostess e por toda a equipe. Sou levada a meu lugar no balcão, onde meu nome e um cartão de boas vindas estão me esperando. Ambientada, descubro que o nome Kanoe, é uma homenagem do chef Tadashi Shiraishi à sua avó, que o inspirou a cozinhar, desde que ele tinha 5 anos de idade. Ele vem ao meu encontro e se apresenta. Tadashi é jovem, falante, agradável e une a conversa para que todos participem, o que torna o ambiente leve e descontraído. Não espera aficcionados em sushis nem críticos especializados em culinária japonesa. Nada ali é calculado, exceto o trabalho orquestrado de seus assistentes para tornar toda a experiência impecável.
Apesar dos 30 e poucos anos, Tadashi tem uma longa história com a gastronomia japonesa. Morou em 8 países, já comandou a cozinha do Kinoshita e unidades do Nobu em diversos países; e fundou o premiadíssimo Hiden, em Miami, em 2018. De volta ao Brasil, teve a ideia de fundar o Kanoe há dois anos, ao lado da mulher e sócia Patrícia Bianco. Eles também montaram o grupo Omotebako Hospitality, que é a junção de Omotenashi: hospitalidade e Bako: caixa em japonês — e que promove viagens e experiências culturais em torno do país. Tadashi me conta que buscava algo que pudesse transportar os clientes para um Japão tradicional e suas variações regionais, que são muitas. A equipe do restaurante, aliás, viaja regularmente ao país para pesquisas e compra de ingredientes.
Voltemos ao menu. Para começar, a sommelière e chefe de sala Camila Braz me apresenta a carta de vinhos e saquês sazonais e exclusivíssimos. Recomenda algumas preciosidades, como o Kokonoe Saika, o melhor saquê que já provei na vida. Entre goles, começa a sequência de pratos — são 18 tempos, a maior parte sushis de pescados maturados, selecionadíssimos, como vieiras, cambucu, atum de almadraba. A base é o arroz avinagrado, que nos é servido para provar em uma pequena colher artesanal antes dos pratos. Seguem-se iguarias como o Caranguejo-das-neves com caviar, a bottarga de ovas de tainha e mel, o ouriço-do-mar… uma explosão de sabores e criatividade — e uma verdadeira imersão na cultura japonesa.
Do cuidado com os ingredientes à escolha das louças, feitas por artesãos japoneses, tudo é repleto de detalhes. A paleta de cores inspirada no WASHI – papel de arroz japonês – deixa o ambiente leve, ideal para quem passa cerca de três horas por lá, o tempo de toda a experiência. Espero que você dê sorte de provar os pratos e sobremesas deste menu, como o atsuyaki tamago, um bolinho quente feito com ovos e mel de Jatai, já que a carta muda a cada quatro meses.
A experiência não sai por menos de mil reais (sem bebidas e taxa de serviço inclusos), podendo chegar a mais de 3 mil, dependendo da bebida escolhida — há garrafas de até 1,5 mil reais. Só há reserva para daqui a dois meses. Vale muito a espera!