
Quintal da casa de Chu Ming e sua maior criação, no bairro Real Parque, na capital paulista (Foto: Ruy Teixeira)
Por Paula Jacob
É impossível passar despercebido pela casa de Chu Ming Silveira no bairro do Real Parque, em São Paulo. A arquitetura singular, com telhado arredondado e onipresença do concreto, é um bálsamo para os olhos. Não obstante, ao entrar na construção de 1974, assinada pela arquiteta-moradora, idealizadora do clássico desenho do orelhão, um convite para a contemplação é feito. Suas janelas milimetricamente planejadas para a observação interno-externo contornam corredores e cômodos, criando jogos de luz poéticos a depender do horário do dia.
Tal estrutura, pensada para otimizar a rotina da família e o aproveitamento de cada ambiente ao máximo – tem até uma “churrasqueira brutalista” no quintal –, se revela ainda mais potente com a ocupação de cada parede e cada quina com obras de arte da curadoria da plataforma Aberto 03. Ali, peças Masters e arte pré anos 2000 tomam conta da cozinha, da copa, da sala de estar, dos quartos e até banheiros. Anna Maria Maiolino, Kishio Suga, Lucio Fontana, Maria Martins e Sheila Hicks dividem a atenção com outras criações clássicas da galeria Lisson.
“Minha mãe é mais conhecida pelo desenho do orelhão – e, ainda assim, é um reconhecimento recente. É muito interessante esta terceira edição da Aberto para as pessoas entenderem a qualidade das casas que colocam luz no trabalho de duas mulheres”, conta Alan Chu, arquiteto e um dos filhos de Chu Ming. “É emocionante pensar que artistas e estudantes vão poder conhecer o trabalho dela. A casa deveria estar catalogada pela história da arquitetura moderna brasileira.” Alan celebra ainda o legado da mãe com uma coleção de mobiliário próprio, editada pela Galeria ETEL, com peças que reinterpretam o trabalho de Chu Ming para a residência.
Nesta edição do evento, outra casa de importância extrema para a arquitetura (e cultura) brasileira é a de Tomie Ohtake, no Campo Belo, desenhada pelo filho, o arquiteto Ruy Ohtake, em 1968. Ali, ela viveu até o ano de seu falecimento, e a residência estava fechada desde então. Nos ambientes brutalistas, é possível vislumbrar o contraste com obras de artistas brasileiros contemporâneos, evidenciando as cores e a potência do projeto de Ruy.
Sobre a Aberto
Criada por Filipe Assis, a plataforma de exposição une arte e design evidenciando residências de importância social e cultural na história da arquitetura brasileira. Os diálogos entre as vertentes se dá por uma curadoria afiada, sempre com a intenção de conectar o público com marcos modernistas. Em cartaz até 06 de outubro
Residência de Chu Ming Silveira
Endereço: Rua República Dominicana, 327 – Real Parque, São Paulo
Horário de visitação: quarta-feira a domingo, das 10h às 18h – última entrada 17h
A Casa Ateliê de Tomie Ohtake
Endereço: Rua Antonio de Macedo Soares, 1,800 – Campo Belo, São Paulo
Horário de visitação: quarta-feira a domingo, das 10h às 18h – última entrada 17h