A Gabb é uma referência na comunicação, combinando irreverência em seu estilo e humor em suas divertidas análises fashion, com uma discussão mais profunda sobre o impacto social da moda e suas interseções com questões contemporâneas. Em entrevista para a Bazaar, a multifacetada artista falou sobre a nova temporada do seu programa, as inspirações por trás desse projeto inovador que tem conquistado tanto sucesso, seus planos para o futuro e muito mais.
Harper’s Bazaar Brasil – O que podemos esperar de novidade nesta nova temporada do seu programa? Houve alguma mudança na abordagem ou nos temas?

Gabb – Acredito que esta nova temporada vem com uma pegada diferente, mais focada em conversas sobre a indústria e temas atemporais, ao invés de abordar apenas os acontecimentos da semana. A temporada anterior foi mais factual, com temas que estavam em alta no momento. Agora estamos resgatando os clássicos, então será mais atemporal.

HBB – A temporada anterior foi um grande sucesso. Você já esperava esse retorno positivo do público? O que mais te surpreendeu nessa jornada?

Gabb – Eu não esperava que o sucesso fosse tão rápido. Imaginava que teríamos um bom retorno, mas acho que o YouTube estava carente de um programa como esse, com um espaço dedicado à moda, e isso acelerou o processo. Ficamos muito felizes e surpresos por termos criado um lugar onde as pessoas querem estar, que era o nosso principal objetivo.

HBB – Você teve algum convidado especial na temporada anterior que marcou muito para você?

Gabb – Tenho um carinho especial pelos episódios de moda, especialmente quando recebemos modelos que compartilham histórias sobre a indústria e estilistas. Isso é o que buscamos. Mas, claro, nos divertimos também com blogueiras, atrizes e figuras camp. A estreia da segunda temporada com a Angélica foi particularmente especial para mim, um sonho pessoal realizado. Além disso, na primeira temporada, a bênção da Déborah Secco também foi icônica!

HBB – Tem algum nome que você gostaria de trazer nesta nova fase?

Gabb – Xuxa, Anitta e Luísa Sonza.

HBB – Moda e sociedade estão profundamente conectadas. Como você enxerga a moda como uma ferramenta de expressão e resistência, especialmente para as identidades não binárias e outras minorias de gênero?

Gabb – Vivemos em tempos tão instantâneos que a moda se tornou uma forma poderosa de se comunicar sem precisar dizer uma palavra. Ela cumpre um papel essencial, especialmente em uma era de liquidez e fugacidade. A moda passa uma mensagem antes mesmo de você falar.

HBB – A moda muitas vezes é vista apenas como algo superficial. Como você, no seu programa, tenta explorar o impacto social mais profundo que ela pode ter nas nossas vidas?

Gabb – Acredito que a moda é vista como superficial porque existe toda uma ideia de ‘montação’ e futilidade ao redor dela. Mas, no Ambulatório, procuramos sempre aprofundar e falar sobre o mercado da moda. Destacar que a pessoa que costura não é mesma a pessoa que borda, que não é a mesma que vende, compra, posta ou assiste. A moda é uma teia gigante, não uma linha única.

HBB – Na sua visão, como a mídia e a indústria da moda podem colaborar para promover mais inclusão e representatividade?

Gabb – É um desafio constante, mas já estamos vendo novas abordagens nas passarelas, não só em termos de corpos e etnias, mas também de novas histórias. A moda é uma ótima forma de contar histórias, e incluir é criar um ambiente que acolha as pessoas. Claro, que a moda é cíclica e vamos precisar sempre falar sobre esses assuntos, mas o fato de estarmos discutindo isso hoje, já mostra que ocorreram mudanças.

HBB – Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao criar e desenvolver o programa? E quais são suas maiores realizações até agora? 

Gabb – O maior desafio foi fazer as pessoas acreditarem em um projeto novo. O primeiro episódio foi o mais difícil, e sou muito grata à Silvia Braz, Juliana Paes e Alexandre Herchcovitch por terem dado um salto no escuro conosco – porque era um programa que nunca tinha sido feito. Só de consegui reunir essas pessoas, já vi como uma marca, já deu pra medir o sucesso. Conseguimos reunir pessoas da internet, da TV e da indústria, além da minha amiga Antônia, minha amiga que também é co-host. A maior realização é poder conhecer tantas pessoas incríveis, que tive a oportunidade de estar perto e ter esse momento ‘bate-bola’ da Marília Gabriela (brinca). O Ambulatório também é um espaço que desmistifica a moda. É um programa de mercado, mas também de diversão e isso faz com que os assuntos fiquem menos sérios, sisudos. Não queremos que a moda esteja em um altar, em um lugar intocável, mas sim que faça parte da conversa e que abra um discurso para todos

Gabb – Foto: Henrique Tarricone

HBB – Como você vê a evolução da moda e sua conexão com as lutas sociais, especialmente no Brasil? Acredita que estamos avançando em termos de consciência social dentro da indústria da moda?

Gabb – Acredito que sim. Embora às vezes pareça que a inclusão não está acontecendo, o Brasil é um país continental com moda em todas as regiões, do Sul ao Norte, passando pelo Nordeste e Amazônia. Não podemos olhar apenas para o São Paulo Fashion Week, mas também para o Dragão Fashion e o Minas Trend Preview. Temos que reconhecer o que está acontecendo em todos esses lugares. Fico feliz de poder ter esse lugar no Ambulatório e poder dar voz à essas pessoas. Por exemplo, algumas das coisas que queremos explorar nesta temporada é fazer um episódio sobre o trap, outro sobre o sertanejo. Queremos falar sobre essas pessoas que têm a própria moda – que pode ser não vista como a moda high fashion, mas que é moda por ser uma forma de expressão.

HBB – E na “nova” temporada da sua vida? O que podemos esperar dos seus projetos futuros além do programa?

Gabb – Estou em uma fase mais voltada para as artes plásticas agora, com Adriana Varejaço (Adriana Varejão). Quero dar palestras sobre arte. A moda é meu sacerdócio, mas sinto que as artes plásticas vão guiar meus novos projetos e minha vida pessoal daqui para frente.