
Kamala Harris – Foto: Getty Images
por Cassio Prates
O assunto mais comentado das últimas semanas foi a vitória em relação à Kamala Harris e o salto ainda maior da extrema direita no mundo. Os gráficos mostram, embora isso seja uma surpresa para muitos, que a onda de adolescentes conservadores crescente já vem dando seus sinais. Claro que não foi apenas isso que elegeu Trump. No entanto, podemos avaliar que o surgimento da cultura reacionária está diretamente relacionada com o fracasso de expectativas em relação ao sistema.
Os jovens americanos, que cresceram durante o governo Obama, estão vivendo as maiores adversidades econômicas e sociais do que qualquer outra geração pós-guerra. Essas condições combinadas com a ameaça real da mudança climática tornam a geração Z extremamente consciente de que nasceu no chamado “fim da história”. Como na profecia de Mark Fisher, hoje é mais fácil assimilar o fim do mundo do que o fim do capitalismo.

The Row – Foto: Divulgação
A política reacionária floresce mais quando é difícil imaginar um futuro melhor. O artista e teórico Joshua Citarella, por exemplo, estuda esses fatos por meio de publicações em redes sociais há alguns anos e, segundo ele, grande parte dos posts diários dos jovens são, literalmente, uma lista detalhada de queixas em linguagem simples. Isso também já vem dando sinais no que diz respeito a novas estéticas, que de novas não tem nada. A volta do preppy e de estéticas “old money”, em que jovens emulam o estilo de pessoas brancas afortunadas de décadas passadas, além de uma fixação com a nostalgia de tempos que não viveu, são grande parte do conteúdo desses grupos e da oferta de produtos de marcas.
A incapacidade de imaginar novos futuros mais prósperos faz uma faixa etária que sempre foi responsável pelas grandes mudanças estéticas, na vida e na moda, a emular situações e jeitos de viver, às vezes, retrógrados e antiquados. Se isso já é ruim para o cenário cultural, nas urnas não seria diferente.