
Atmosfera do 4º Baile de Gala anual, do Museu do Oscar, em parceria com a Rolex; evento foi realizado em outubro de 2024 (Foto: Divulgação)
Enquanto desembarcava no aeroporto LAX, uma música ecoava na minha mente: o clássico de Miley Cyrus, com os versos “Welcome to the land of fame excess (woah). Am I gonna fit in?”. Para minha surpresa, eu vivi exatamente o que a faixa descreve menos de 24 horas depois. Lá estava eu, no tapete vermelho de gala do Museu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, cercado por uma constelação de celebridades A-list, a convite da Rolex (patrocinadora e apoiadora do evento, agora, na quarta edição). O baile de caráter beneficente – responsável por arrecadar 11 milhões de dólares para a manutenção da instituição – era apenas a cereja do bolo. Durante o evento, a discrição era regra: nada de fotografar, filmar ou postar livremente nas redes sociais. Pudera! Entrei no salão e dei de cara com Meg Ryan e Demi Moore.
Em seguida, Ella Bleu, filha de John Travolta, me pediu para eternizar um clique dela com o pai, enquanto Kim Kardashian passa ao lado com um rápido “com licença”. À mesa, Sandra Oh comenta empolgada sobre sua vinda ao Brasil antes mesmo de ser anunciada na CCXP, Awkwafina se junta a ela e compartilha seu amor pelo Rio de Janeiro, enquanto Cynthia Erivo sobe ao palco apresentada por Ariana Grande – sua parceira em Wicked – para um discurso emocionado. Parecia que os personagens históricos (neste caso, do cinema) haviam saído de seus filmes e ganhado vida bem diante de mim, como na trama de Uma Noite no Museu. Se Hollywood ganhasse sua própria versão, claro. O motivo da viagem a Los Angeles* foi desvendar as engrenagens que fazem da Academia um espaço de diálogo e preservação da memória do cinema, assim como, conhecer as iniciativas apoiadas pela Rolex, que levam o legado da Sétima Arte às futuras gerações – a marca é founding supporter do Museu e, no ano que vem, será novamente patrocinadora oficial da cerimônia do Oscar, no dia 2 de março, no Dolby Theatre, em Hollywood.
O schedule começou um dia antes da celebração, no tour a The Margaret Herrick Library (fotos acima), ponto de partida do vasto acervo da Academia – com itens vindos de cineastas e artistas, alguns provenientes de compras em leilões e, outros, de doações. Inclusive, no jantar que descrevi, Quentin Tarantino (um dos homenageados da noite) entregou o manuscrito original de Pulp Fiction (1994), que se soma às mais de 52 milhões de peças catalogadas, destinadas à exposição ou arquivamento para consulta pública. Embora não seja permitido reproduzir, é possível tomar nota de roteiros, press kits, pôsteres e apreciar uma coleção de fotografias – destaque para polaroides de galãs em início de carreira, como Brad Pitt.
Na ala de raridades – aberta ao público duas vezes nos últimos 30 anos – objetos históricos incluem cartas de recomendação de uma jovem Meryl Streep e de um George Clooney ainda desconhecido, o paper original de Cidadão Kane e uma carta de Marilyn Monroe recusando um papel em um filme de John Huston, nos anos 1960. De lá, seguimos para uma visita guiada ao Museu do Oscar, em cartaz com as exposições Color in Motion, que explora 130 anos do cinema colorido, e Cyberpunk, uma experiência imersiva sobre o subgênero de ficção científica, além de uma retrospectiva da filmografia de Pedro Almodóvar, na Rolex Gallery, mantida pela marca de relógios no terceiro pavimento. O museu possui um centro de pesquisas no backstage, onde as peças passam por uma triagem antes de ganharem o olhar do público – local em que são limpas, restauradas e passam por testes de conservação e análise de estabilidade ambiental, além de exploração de materiais. A visita encerrou com uma roda de conversa com o CEO da academia Bill Kramer. “O futuro é ser mais global e inclusivo. Os Oscars estão evoluindo para refletir isso, com filmes, indicados e vencedores mais diversos”, disse.
Para a presidente da Academia, Janet Yang, filha de imigrantes chineses, sua busca é diversificar as histórias do cinema longe do epicentro de Hollywood. “Estamos integrando múltiplas perspectivas e criando uma narrativa que celebra o cinema global, refletindo diferentes comunidades e culturas.” A presidente e diretora do museu, Amy Homma, tem como meta fazer do espaço um destino turístico além-mar. “Com exposições itinerantes e 400 exibições de filmes por ano, essas narrativas continuam a se expandir, refletindo um escopo cada vez mais amplo.” A um passo de completar 100 anos, em 2028, a campanha Academy 100 quer levantar US$ 500 milhões para expandir sua presença global, conectando-se a festivais internacionais e ampliando a coleção.
No dia seguinte, visitei o Lightstorm Entertainment, o espaço em Santa Mônica onde James Cameron – embaixador da marca suíça de relógios – grava a parte digital de seus filmes e mantém um acervo com props originais de O Exterminador do Futuro, Alien e Titanic – destaque para a réplica do navio em menores proporções, um bote salva-vidas e para a Blue Diamond, joia usada no filme. Durante o tour, Cameron falou com entusiasmo sobre as tecnologias emergentes que estão redefinindo o cinema e a educação.

James Cameron é amigo e parceiro de Rolex (Foto: Divulgação)
“Os novos dispositivos de realidade mista, como o Apple Vision Pro, são o melhor cinema 3D já criado. Eles têm uma resolução e um brilho superiores até mesmo ao IMAX”, afirmou. Para ele, o futuro está em integrar o 3D às práticas de produção existentes, criando conteúdos otimizados para esses dispositivos. Ele vê nesses avanços uma “renascença das produções em 3D”, agora com equipamentos mais leves, acessíveis e alinhados às demandas do público. Cameron também acredita no potencial dessa tecnologia focada para a educação: “Um ensino baseado em realidade aumentada ou virtual pode criar experiências espaciais que transformam como as crianças aprendem, ajudando-as a se lembrar melhor.” Como barreira, esses equipamentos precisam de aceitação social para se tornarem “mais leves, fáceis de usar e, principalmente, serem considerados cool”, pontuou.
De volta a L.A, retornamos para o início da noite da qual comecei o relato… Como se não bastasse dividir a mesma tenda com Steven Spielberg e Rita Moreno, a celebração seguia seu próprio ritmo. Fui apresentado a Paul Mescal e, já perto do fim do evento, decidi tomar um ar fresco no rooftop, onde me deparei com Joey King – conhecida por papéis em A Barraca do Beijo e Feios– , com quem havia me conectado anteriormente. Ela me introduziu a Francesca Scorsese e Jaden Smith. Em Los Angeles, cada roda de conversa é a extensão de um set. O papo transitou entre lembranças, planos e a ideia de explorar o Brasil. Em Los Angeles, essas interações não são só casuais; elas refletem o dinamismo de uma cidade em que as conexões moldam tanto carreiras quanto projetos. Aquele momento parecia encapsular o espírito de um lugar onde presente e futuro estão sempre orbitando, prontos para virarem um roteiro. No meu caso, talvez pudesse escrever um sob o título Party in the USA em homenagem à Miley. Mas isso é papo para outra hora.
CHECKLIST
É de casa: No hotel Bel-Air, a arquitetura exala privacidade. Dos jardins à piscina, a paisagem clama por um dolce far niente. :: dorchestercollection.com
Parada obrigatória: Famoso por massas italianas e refrescantes receitas de frutos do mar, almoço é no Cecconi’s. :: cecconiswesthollywood.com
Hollywood sign: O jantar privativo na Soho House West Hollywood (é preciso ser membro) remete ao charme dos anos 1960. No cardápio, pratos locais e hits de outras casas. O Hamachi crudo é sensacional! :: sohohouse.com
Dê o play: Não tem como passar por Los Angeles e não visitar a loja de discos Amoeba Music. São quase 1 milhão de títulos entre CDs, vinis e outros souvenirs. :: amoeba.com
*O jornalista viajou a convite da Rolex, apoiadora e fundadora do Museu do Oscar e de iniciativas que visam perpetuar o legado cinematográfico.

Foto: Acervo Pessoal