Foto: Murilo Alvesso

Por Zé Antonio Algodoal

Figura histórica, aclamada, dona de uma voz suave e um timbre único, Alaíde Costa é merecidamente reconhecida como uma das grandes intérpretes da música brasileira. Com uma carreira iniciada nos anos 1950, rapidamente se destacou como uma das precursoras da Bossa Nova. Cantora, compositora e atriz, tem uma história marcada pela coragem e pela luta contra o preconceito, sendo considerada uma pioneira na emancipação da mulher negra na nossa música.

Com uma trajetória que inclui parcerias ilustres com artistas como Johnny Alf, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, Milton Nascimento, Oscar Castro Neves, entre outros, Alaíde sempre continuou a cantar, gravar e se apresentar em shows, sem interrupções. Agora, merecidamente, é descoberta e reverenciada pelas novas gerações. De maneira gentil e modesta, Alaíde diz “Eu vejo como uma coisa, assim, inusitada, porque depois de 70 anos, eu aí batalhando, batalhando, cantando aqui e ali, e só agora que eu estou sentindo, que estão reconhecendo o meu trabalho”.

Aos 89 anos de idade, dona de uma voz firme e de uma interpretação poderosa, Alaíde realiza o desejo antigo de lançar um disco em tributo a outra diva da MPB, Dalva de Oliveira, consagrada como “Rainha da voz” que marcou gerações e se tornou um dos maiores ícones da música brasileira reconhecida internacionalmente chegando a se apresentar na coroação da Rainha Elizabeth II e abrindo portas para a música brasileira no exterior.

Foto: Murilo Alvesso

Com produção de Thiago Marques Luiz e lançamento pela gravadora Deck, o álbum Uma Estrela Para Dalva chega às plataformas digitais em 9 maio e, no segundo semestre, ganha uma edição em vinil. O repertório, recheado de clássicos foi escolhido cuidadosamente por Alaíde. “Ah, eu mesma escolhi, são as canções que eu mais gostava, ou melhor, tem muitas que eu gosto, mas as que mais me atraiam”, diz ela que também ressalta a naturalidade com que o álbum foi gravado. “Ah, as gravações foram assim, coisas super simples e rápidas, né? São músicos maravilhosos com quais eu já trabalhei e a gente fez rapidinho, sabe?”.

E não há nenhum exagero nesse elogio. Entre as participações especiais aparecem nomes como Maria Bethania e João Camareiro, na faixa Ave Maria do Morro, Antonio Adolfo em Errei Sim, o celebrado pianista Amaro Freitas em El Dia que Me Quieras e Bandeira Branca, Roberto Menescal e Yuri Queiroga, que assinam os arranjos de Sebastiana da Silva, Edson Cordeiro e Manoel Deodato em A Grande Verdade, José Miguel Wisnik em Mentira de Amor e o pianista Vìtor Araújo em Há um Deus, faixa escolhida para ser o primeiro single, já disponível para streaming.

Com inegável qualidade musical, o álbum reafirma o legado artístico de Alaíde e ajuda a eternizar a memória musical do Brasil, trazendo a obra de Dalva de Oliveira para o público jovem e com um olhar contemporâneo, sem nunca perder a essência e a força da obra original. “Eu ouvia Dalva desde que eu era muito jovem, eu já gostava do jeito que ela canta, sempre fui fã da Dalva”, comenta Alaíde que completa: “Então eu falei assim, um dia, se Deus quiser, eu vou fazer uma homenagem. Mas o tempo passou, passou, passou e 70 anos depois, eu consegui. Mas tudo bem, pelo menos vou morrer feliz. Por enquanto eu estou aqui com a Dalva, sabe? Vamos ver o que acontece. Espero fazer uma bela caminhada com ele.”

Foto: Murilo Alvesso