
Jonathan Anderson assume todas as frentes da Dior: feminino, masculino e alta-costura – Foto: Divulgação
Por Cassio Prates e Eve Barboza, do @gid.estudio
Não foi surpresa para ninguém o anúncio de Jonathan Anderson como único designer da Dior. Desde a morte de Christian Dior, ele será o primeiro a assumir as diversas frentes da marca: masculina, feminina e alta-costura. A novidade que se criou em cima disso foi a de questionar sua responsabilidade (ou capacidade) em fazer dez coleções por ano – além de cuidar de sua marca homônima e de uma linha contínua com a Uniqlo. Como se a quantidade de coleções que um designer cria por ano fosse algo inédito.
Não é.
Porém, a questão é que Anderson é o diretor criativo da geração que (além de um ótimo designer) tem como modo de trabalho questionar o status quo. Talvez, rever esse número enorme de coleções lançadas por ano seja o seu desafio – considerando que a Dior é muito mais expressiva financeiramente, além de mainstream, do que a Loewe, casa que ele transformou.
O trabalho de Anderson sempre foi explosivo, no sentido que vai de fora para dentro. Na Loewe, ele nunca falou apenas de roupas, mas discutiu histórias, espaço, visual merchandising. Primeiro, moldou um ambiente cultural e, só depois, as roupas. Ele criou momentos!
Criar momentos também conversa com a ideia de criar hits de venda, que partem de lugares mais sofisticados do que somente cifras. Podem vir, por exemplo, de uma atmosfera de Ibiza dos anos 70, de uma cerâmica renascentista, de um coreógrafo gay ícone das noites de Londres nos anos 80, ou de um tomate.
A Dior precisa dessa mudança para que ela seja (ainda) uma marca de seu tempo. Se não for sucumbido por um sistema de planilhas, Anderson é, sim, essa pessoa. Muito chato discutir só números em uma hora que dá para sonhar.
O designer sempre teve um espírito competitivo e aguçado sobre o próximo passo, um senso de que é preciso mudar antes que a maré mude. Embora as águas da Dior estejam paradas já há um tempo, é muito empolgante saber que a marca tem um novo diretor criativo disposto a mudar e evoluir algumas de suas ideias. Dizem os números, nesse primeiro momento, para os donos do conglomerado, que sabem mais do que ninguém onde ganhar dinheiro.