
Desfile da Armani (Reprodução/Getty Images)
Peço desculpas pelo clichê — e também a todas as outras marcas italianas —, mas Giorgio Armani é Giorgio Armani.
E talvez por isso mesmo o maior burburinho do dia tenha sido a sua ausência. Comentava-se nos bastidores que o estilista, aos 89 anos, está em casa, estável — e furioso com o atraso de quatro minutos no início da apresentação. Fisicamente ausente, sim, mas artisticamente presente em cada detalhe: na leveza das formas, na precisão dos cortes, na elegância contida que só ele sabe construir.
O desfile foi uma aula de suavidade. Mesmo o couro — material quase sempre associado à rigidez — parecia flutuar. Nada pesava, tudo envolvia o corpo com a delicadeza de quem entende de proporção, fluidez e tempo. A coleção reafirma a assinatura “armaniana” de precisão e refinamento, com um jogo sutil de contrastes em equilíbrio, onde referências se entrelaçam com naturalidade.
As silhuetas amplas, que ora se afunilam, ora se abrem levemente sobre sapatos de camurça, sandálias e botas em tons discretos, desenham um movimento quase coreografado. Tudo respira. Tudo caminha em silêncio — e com força.
Nos acessórios, a mesma liberdade contida em soluções ao mesmo tempo práticas e poéticas: bolsas oversized de tecido, chaveiros que viram colares, estojos de óculos usados como adornos. É o luxo de quem não precisa chamar atenção. Basta flutuar.