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A top model Isabeli Fontana completa 42 anos e abre uma conversa sincera com a Harper’s Bazaar Brasil sobre sua carreira, espiritualidade e conquistas. Em um relato profundo e autêntico, ela reflete sobre os altos e baixos de sua trajetória na moda, o poder do autoconhecimento e sua conexão com o universo.

Com mais de 25 anos de carreira e status consolidado como uma das maiores modelos brasileiras, Isabeli compartilha como a moda sempre foi mais do que estética: foi seu meio de transformação, independência e expressão. Ao longo da conversa, ela revela os sacrifícios que enfrentou desde muito jovem, como a distância dos filhos em aniversários e a necessidade precoce de amadurecimento. Ainda assim, carrega gratidão por tudo o que viveu – das grandes campanhas com Steven Meisel aos desfiles icônicos como o da Louis Vuitton em 2008, ao lado de supermodels.

Neste novo ciclo que se inicia aos 42 anos, Isabeli deseja viver ainda mais alinhada entre quem é, o que acredita e o que entrega ao mundo. Seu próximo passo? Dividir sua bagagem com outras mulheres, em projetos que unem moda, empoderamento, yoga e saúde integral — provando que beleza e profundidade podem (e devem) andar juntas.

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HARPER’S BAZAAR BRASIL: Isabeli, você completa 42 anos iniciando um novo ciclo. Como a moda acompanha essas fases da sua vida?

Isabeli Fontana: Completar 42 anos é iniciar um novo ciclo e, para mim, a moda sempre foi um reflexo dessas fases. Desde cedo, a moda me acompanha — e, de algum modo, eu também a acompanho. Vivi minha adolescência, tornei-me mulher, adulta, responsável, segura, com a moda inserida no meu cotidiano. Foi por meio da moda que conquistei liberdade financeira, viajei o mundo, conheci pessoas incríveis, talentosas, artistas visionários que moldaram a minha percepção dos fatos. Sou grata por tudo o que a moda me proporcionou. Claro que precisei abrir mão de algumas coisas: quantos aniversários dos meus filhos passei longe de casa? Amadureci rapidamente, tive que tomar decisões de gente grande ainda muito nova e assumir responsabilidades que não condiziam com a minha idade. Ainda assim, sou grata pelas experiências que a moda me trouxe e por, aos 42 anos, continuar atuando com uma das coisas que mais amo. Revendo minha trajetória, percebo que não poderia ter sido diferente.

HBB: Seus aniversários são sempre marcados por viagens guiadas pela astrologia. Como esses destinos impactam sua vida?

IF: Acredito que o lugar onde passamos a nossa revolução solar influencia a energia que vamos vivenciar no próximo ano. Não é que, se não conseguirmos estar em determinado local, o ano será ruim — mas conseguimos potencializar e otimizar os nossos objetivos. O local onde passamos o aniversário está ligado à posição do ascendente e das casas astrológicas, que representam áreas específicas da nossa vida. Saber disso traz mais consciência na tomada de decisões e nos possíveis desafios que possamos enfrentar. Faço meu mapa astrológico anualmente, que me indica os melhores lugares para estar no dia 4 de julho. Não é apenas um local — ele aponta algumas opções e indica quais seriam as mais favoráveis. Já estive em Costa Adeje, na Espanha, e agora estou em Tulum, no México. Amo quando o destino envolve calor e praia.

HBB: Você sempre teve uma assinatura forte de estilo. De que forma seu autoconhecimento molda suas escolhas de moda hoje?

IF: A moda sempre me acompanhou — é quase impossível separar moda da minha vida. Já são mais de 25 anos de carreira, com muitos aprendizados e muito autoconhecimento. Demorei algum tempo para me sentir segura em relação a mim mesma, ao meu corpo e às minhas escolhas. Durante anos, fazia o que esperavam de mim ou o que me pediam. Esse olhar externo mexeu muito com minhas emoções e, de certa forma, me afastou das minhas verdadeiras vontades. Acho que eu nem tinha muita consciência do que queria — era normal chegar ao trabalho e fazer o que o cliente pedia. Hoje, tenho 110% de autonomia em um trabalho. Sei quem sou, o que quero e para onde direcionar minha carreira. Não aceito qualquer coisa. Participo do processo de criação, tenho voz durante os shootings. Isso veio com o tempo, com o fato de eu me sentir mais confortável comigo mesma. Foi uma mudança interna, de postura, mais do que uma nova forma de trabalhar. Claro que o mundo hoje também permite um diálogo mais aberto e franco nos diversos setores da vida, inclusive no profissional. Aprender a dizer não é essencial — e é super difícil!

HBB: A Isabeli modelo e a Isabeli mulher espiritualizada se vestem de forma diferente?

IF: Não existem duas Isabelis. A diferença é que, quando estou trabalhando, visto a criação ou a ideia do designer, e no dia a dia, visto minhas próprias roupas. Hoje, aos 42 anos, as pessoas me chamam para desfilar, fazer uma campanha ou um editorial já sabendo quem eu sou, qual é a minha personalidade e meu estilo de vida. Então, mesmo no ambiente profissional, a escolha pelo meu nome leva em conta minhas preferências pessoais — isso traz verdade e autenticidade. O bom é que tenho um traço bem camaleônico e cigano, então consigo me adaptar a vários moods fashion.

HBB: Ao longo da carreira, você já foi musa de grandes marcas e estilistas. Quais momentos fashion mais marcaram sua trajetória?

IF: Vivi momentos inesquecíveis na moda, dentro e fora das passarelas e lentes fotográficas. Poderia citar vários, mas a campanha da Valentino, fotografada por Steven Meisel, foi uma das primeiras grandes casas com as quais trabalhei. O desfile da Louis Vuitton de 2008 também foi marcante — era com as supermodels. Usávamos uma roupa sensual por baixo de uma espécie de sobretudo de enfermeira transparente, e cada modelo tinha um boné com uma letra da marca; o meu era o “I”. Foi a primeira vez que desfilei com a Stephanie Seymour — foi icônico. Esses são apenas alguns dos inúmeros momentos memoráveis que vivi no mundo fashion.

HBB: Sua carreira é um grande sucesso. Como você enxerga sua trajetória?

IF:. Tenho muito orgulho do que conquistei e das oportunidades que surgiram por meio da moda. Acho que a palavra não é “sucesso”, mas “satisfação”. Mais do que pensar nos êxitos que minha carreira me proporcionou, gosto de refletir sobre o percurso e as conexões que fui construindo ao longo do caminho. Quando comecei, não sabia ao certo onde tudo daria, mas, com o tempo, fui percebendo que era exatamente isso que eu deveria estar fazendo. Eu me divirto muito com a moda. É uma profissão que estimula nossa criatividade, nos permite sonhar e torna o mundo mais bonito e interessante.

HBB: E como você se aproximou desse lado espiritual? Como começou essa sua caminhada?

IF: Sempre fui ligada a questões de corpo, mente e espírito. Lembro que, ainda jovem, ficava em um canto do backstage lendo sobre astrologia e meditação. Com o tempo, isso foi se aprofundando. Fui compreendendo melhor o assunto e vivenciando algumas experiências. Hoje, a espiritualidade é parte do meu cotidiano. Durmo ouvindo música para meditar, faço mantras e palavras de afirmação antes dos trabalhos, cuido da alimentação e consulto meus “gurus” para clarear dúvidas. Já tive experiências espirituais bastante intensas — provas suficientes para continuar acreditando e me aprofundando nesse campo. Não quero convencer ninguém de nada, até porque cada um tem sua própria jornada neste plano. Mas que há mais entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia, isso há!

HBB: Como a espiritualidade tem influenciado e impactado a sua vida?

IF: Ela me ensinou até a respirar. Neste mundo agitado, cheio de compromissos e pressões, é muito fácil nos sentirmos angustiadas, ansiosas ou melancólicas. Acho que nunca se falou tanto sobre saúde mental como agora. Isso não é novo, mas finalmente estamos dando a devida atenção. Técnicas de respiração ajudam a baixar o cortisol, que causa ansiedade, e a oxigenar melhor o cérebro. Pelo menos uma vez por ano, faço um retiro espiritual para “desconectar” — ativar meu modo offline. É um momento íntimo e poderoso de conexão comigo mesma, nua e crua. Nem sempre é fácil, mas é muito valioso. Saio de lá sabendo lidar melhor com minhas imperfeições.

HBB: Você sente diferença após passar seus aniversários conforme a indicação do seu astrólogo? Se sim, qual?

IF: Com toda certeza. Em 2021, por exemplo, “fugi” do inverno brasileiro e passei meu aniversário em Tenerife — um lugar quentinho, que tinha tudo a ver com a energia que eu precisava para aquele ciclo. Esses destinos não são férias comuns; são ritos de passagem. Eles me ajudam a “resetar”: emocionalmente, me sinto mais leve; mentalmente, mais clara para tomar decisões; espiritualmente, mais conectada ao meu propósito. Em Fernando de Noronha, por indicação astrológica, tive um dos aniversários mais calmos — fiz ioga e me senti profundamente conectada. Foi como sintonizar meu ritmo interno.

HBB: Para o novo ciclo que começa agora, como você deseja que seja?

IF: Para este novo ciclo, que se inicia aos 42 anos, desejo que seja um período de ainda mais integração entre quem eu sou, no que acredito e o que faço. Já vejo este ano como uma oportunidade de transformar aprendizado em ação — tanto no campo pessoal quanto no profissional. Quero investir em projetos com impacto real, como compartilhar minha experiência no mundo da moda com o empoderamento feminino, combinando isso com yoga, meditação e alimentação saudável, como mencionei no curso que estou estruturando para jovens modelos. O objetivo é crescer a partir do que já construí, manter-me inquieta, curiosa e aberta aos novos caminhos — sem jamais perder essa minha essência meio gypsy.