Pedalando entre o esporte e a moda, os shorts de ciclista já invadiram as passarelas, unindo performance e conforto, e cruzando a linha de chegada sempre em um novo ritmo – Foto: Montagem / Reprodução

O Tour de France está no meio do percurso e, além de movimentar cidades como Lille, Montpellier e Toulouse até a chegada em Paris, reacende a atenção para uma peça que nunca ficou totalmente para trás: os shorts de ciclista. Em sua 50ª edição, que vai de 5 a 27 de julho, a corrida mais tradicional do ciclismo volta aos Champs-Elysées e, com ela, o interesse da moda por uma peça que começou como uniforme esportivo e já se tornou trend. Enquanto parte dos fashionistas se voltam para o visual de jogadores de futebol ou de tênis, o ciclismo também mostra força quando o assunto é vestir bem fora das pistas. A prova disso? É só olhar para o trajeto dos biker shorts até aqui.

No desfile de Verão 1991, Linda Evangelista atravessou a passarela da Chanel com o shorts – Foto: Reprodução/Chanel

A história já é velha conhecida: nos anos 1970, com a popularização da aeróbica e do fitness, os shorts técnicos foram incorporados ao guarda-roupa feminino, primeiro por influência de celebridades como Lady Di e Madonna, depois pelas próprias passarelas. Você se lembra que em 1991, a Chanel levou os biker shorts à Alta-Costura? Linda Evangelista apareceu de camisa branca, corte de cabelo curtíssimo e shorts de ciclista marcados por cintos largos nas costas. Décadas depois, a maison voltou à peça em duas coleções: em 2014, como base para vestidos e túnicas de corte A; e em 2019, sob a estrutura de tweeds e blazers volumosos, no desfile em que o Grand Palais se transformou em uma praia.

Na mesma temporada de primavera/verão 2019, outras marcas acompanharam o movimento. A Fendi, por exemplo, apresentou os shorts com o logo FF em evidência e cintos utilitários, enquanto a Prada misturou os ciclistas com alfaiataria, mantendo a modelagem esportiva em contraste com tecidos mais rígidos. Já em 2018, Virgil Abloh antecipou o gesto na Off-White: Naomi Campbell desfilou com biker shorts brancos e blazer oversized, em look inspirado diretamente em Diana.

Em 2021, os ciclistas voltaram às coleções de resort. A Saint Laurent apostou em versões noturnas e mais ajustadas. A Miu Miu propôs um visual entre o esportivo e o sexy. A Balmain, como de costume, levou o volume ao extremo com modelagens marcadas e brilho estratégico. Ao longo do tempo, a peça circulou por diferentes narrativas visuais, indo do minimalismo funcional ao exagero performático.

Se engana quem pensa que a peça não deu as caras em marcas brasileiras. A Hist, marca de Giuliana Braide, incluiu um shorts biker preto na linha Essentials, lançada no final do ano passado apresentando peças que funcionam como base de guarda-roupa. A Pace, de Felipe Matayoshi, também apostou no modelo, alinhado ao arquétipo de pescador que está no centro do core da marca. Para quem leva a natureza a sério, marcas sustentáveis como Lab 77 e Singa apresentaram versões ecologicamente corretas. A carioca Lab 77 trouxe um modelo feito com materiais reciclados, enquanto a Singa produziu uma versão em numeração maior com algodão regenerativo. Pedalando entre o esporte e a moda, os shorts de ciclista voltam a aparecer em trends da vez, como o gorpcore, o visual das pilates girls e o guarda-roupa híbrido que mistura performance, conforto e imagem, cruzando a linha de chegada sempre com um novo ritmo.